Soldados do Gabão, país africano rico em petróleo, assumiram o controle da emissora nacional na manhã de segunda-feira (7) e divulgaram uma declaração alegando que haviam deposto o líder ausente do país para "restaurar a democracia". Quatro horas depois, um porta-voz do governo do Gabão chamou os soldados de "agitadores" e "brincalhões" e disse que quatro dentre os cinco foram presos.
Agências de notícias afirmaram que a tentativa de golpe foi acompanhada por tiros dispersos na capital, Libreville, e vídeos postados nas redes sociais mostraram veículos blindados correndo pelas ruas, enquanto helicópteros sobrevoavam a cidade.
Depois de sofrer um aparente derrame em outubro, o presidente do Gabão, Ali Bongo, viajou para tratamento na Arábia Saudita e depois para o Marrocos, onde está se recuperando desde então. Em sua primeira declaração pública desde que ficou doente, ele fez um discurso de Ano Novo na capital marroquina, Rabat, reconhecendo que havia passado por "um período difícil" e prometeu voltar em breve.
Os líderes da tentativa de golpe leram uma declaração na rádio estatal nas primeiras horas da madrugada denunciando Bongo. O tenente Kelly Ondo Obiang, líder do autodeclarado Movimento Patriótico da Juventude das Forças de Defesa e Segurança do Gabão, disse que o discurso de Ano Novo de Bongo "reforçou as dúvidas sobre a capacidade do presidente de continuar cumprindo as responsabilidades do cargo”.
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Em seu discurso na rádio estatal, Obiang disse que o alto comando do exército falhou em sua missão de defender o país e pediu aos soldados para "assumir o controle de todos os meios de transporte, bases do exército e postos de segurança, arsenais e aeroportos".
Ele também pediu a formação de um Conselho de Restauração Nacional e convidou membros da sociedade civil e partidos da oposição, bem como um ex-comandante da Guarda Republicana para se reunir no parlamento do país.
‘Situação sob controle’
No meio da manhã de segunda-feira, no entanto, parecia que a tentativa de golpe havia fracassado e que apenas um de seus orquestradores permanecia em liberdade.
"A calma voltou, a situação está sob controle", disse o porta-voz do governo Guy-Bertrand Mapangou, acrescentando que o tiroteio ouvido antes era para controlar uma multidão.
Um funcionário próximo ao gabinete do presidente disse à Radio France International que os pontos estratégicos do país estão sob seu controle, incluindo a rádio e o exército, que busca resolver a situação sem violência.
A internet teria sido cortada na capital e muitas áreas estavam sem eletricidade, mas relatórios de agências de notícias indicaram que os serviços estavam retornando rapidamente.
Regime
O Gabão fica na costa atlântica da África, entre a República do Congo e Camarões. Foi governado anteriormente pela França, que mantém uma presença militar lá. Na semana passada, os Estados Unidos enviaram 80 soldados para o Gabão para evacuar cidadãos americanos do Congo se a eleição de lá se tornar violenta.
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Bongo chegou ao poder em 2009 após a morte de seu pai, Omar, que governou o país por 42 anos. Sua reeleição em 2016, por uma pequena margem, foi marcada por violência e acusações de fraude.
O meio-irmão de Bongo, Frederic, está encarregado do serviço de inteligência do Gabão e está intimamente alinhado com os militares.