O novo gabinete do presidente Hosni Mubarak realizou nesta segunda-feira sua primeira reunião completa desde o início de um levante popular, quase duas semanas atrás, sem que haja avanços concretos nas conversações com islâmicos e uma oposição que exige a saída imediata do presidente.
Mubarak, 82 anos, rejeitou chamados para encerrar seus 30 anos de Presidência antes das eleições marcadas para setembro, dizendo que sua renúncia levaria ao caos no país mais populoso do mundo árabe. Ele vem procurando se concentrar na restauração da ordem.
Manifestantes entrincheirados em um acampamento de tendas na Praça Tahrir, no centro do Cairo, prometem ficar até Mubarak sair e esperam levar sua campanha às ruas com mais manifestações em massa na terça e sexta-feira.
O movimento islâmico proscrito Irmandade Muçulmana foi um dos grupos que se reuniram com representantes do governo egípcio no fim de semana, em um sinal de quanto já mudou desde o levante que vem abalando o mundo árabe e alarmando as potências ocidentais.
Figuras da oposição relataram poucos avanços nas negociações. Embora os manifestantes queiram que Mubarak parta imediatamente, muitos receiam que, quando ele se for, seu lugar seja tomado não pela democracia que buscam, mas por outro governante autoritário.
Com um governo que se comprometeu a fazer reformas, uma oposição com experiência política limitada, um processo constitucional que rejeita a pressa e um papel-chave estratégico, os próximos passos do Egito precisam ser estudados com cuidado, dizem autoridades dos EUA.
A oposição conquistou grandes avanços nas últimas duas semanas.
Mubarak já declarou que não se candidatará a novo mandato presidencial, seu filho foi excluído como o próximo na sucessão, um vice-presidente foi nomeado pela primeira vez em 30 anos, a liderança do partido governista renunciou e o gabinete antigo foi demitido.
Mais importante ainda, talvez, seja o fato de que hoje manifestantes venham saindo às ruas às centenas de milhares, com quase impunidade. Antes de 25 de janeiro, algumas centenas de manifestantes já teriam sido recebidos por uma repressão policial esmagadora neste país aliado dos EUA e cujo Exército recebe 1,3 bilhão de dólares anuais de ajuda.
No horizonte
Aparentemente suavizando sua posição favorável à renúncia de Mubarak, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, disse que sua política para o Egito olha "para o horizonte" do futuro democrático possível do país, futuro esse que precisa ser planejado com cuidado.
A abordagem cautelosa dos EUA à turbulência que abala seu parceiro estratégico no Oriente Médio cobrou um custo, deixando o governo do presidente Barack Obama fora de sintonia com os manifestantes, que dizem que Mubarak precisa deixar o governo agora para que negociações políticas sérias possam acontecer.
Enquanto aliados se congregavam em torno da posição dos EUA, o porta-voz da chanceler alemã Angela Merkel, Steffen Seibert, disse que está claro que a era de Mubarak se encontra em sua fase final e que haverá outros líderes.
"É isso o que é importante para nós: que essa nova direção está clara e é irreversível", disse Seibert, acrescentando: "Não é tão importante que pessoas renunciem ou que haja uma competição para realizar a eleição mais antecipada possível."
Manifestantes na Praça Tahrir (da Libertação) estavam se acomodando numa rotina nesta segunda-feira, após uma revolta sangrenta que, segundo as Nações Unidas, já pode ter custado a vida de 300 pessoas. Ativistas batizaram o levante de "Revolução do Nilo".
Ansioso por fazer o tráfego circular outra vez em volta da praça Tahrir, o Exército tentou pela manhã reduzir a área ocupada por manifestantes. Durante a noite, os ativistas acampados saíram de suas tendas para cercar soldados que tentavam encurralá-los em uma área menor.
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