Uma pequena gafe do premiê Gordon Brown tomou proporção descomunal ontem e encobriu a discussão eleitoral britânica justamente na véspera do debate final deste pleito, sobre economia. O tema, de acordo com pesquisas, é o que mais preocupa os eleitores, diante da falta de detalhes sobre como os candidatos lidarão com o enorme deficit nas contas do país.
Em um episódio exemplar de quão orientada às câmeras e microfones esta eleição se tornou, o líder trabalhista passou o dia se desculpando após chamar uma aposentada que o interpelara sobre sua política imigratória e outros temas de algo como "fanática" ("bigot", no dicionário Merrian Webster, alguém intolerante e obcecado com a própria opinião).
No telefone, no rádio, aos jornais, na voz de sua mulher e até pessoalmente, o premiê se desculpou com Gillian Duffy. Brown esqueceu-se de tirar o microfone da rádio que gravava seu corpo-a-corpo e foi ouvido reclamando, ao entrar no carro, que a conversa fora um desastre e que a eleitora era uma "fanática". Minutos depois o episódio estaria no alto dos sites noticiosos britânicos e ecoaria em outros meios de comunicação.
Os jornais de hoje, dia do debate mais aguardado, destacam a gafe em suas capas.
Analistas temem que o episódio ofusque ainda mais a já nebulosa discussão a respeito da economia.
Dos três candidatos, Brown e o conservador David Cameron, líder das pesquisas, fizeram dela sua maior bandeira de campanha (para o liberal-democrata Nick Clegg, é a reforma eleitoral).
Há duas semanas, o primeiro debate desta eleição (e da história do Reino Unido) acordou o eleitorado e lançou Clegg, então pouco conhecido, na cena nacional. Por margem larga ele foi considerado vencedor.
Mas com a ascensão do liberal-democrata e a personalização da corrida, Cameron e Brown passaram a se preocupar mais em atacar Clegg, e o segundo confronto perdeu em profundidade os resultados embolados são prova disso.
Na noite de hoje, têm a chance final de expor seus planos antes do voto, no dia 6. Isso se outro azarão não roubar a cena.