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O vencedor das eleições presidenciais do Peru, Alan García, promete fazer o que poucos líderes latino-americanos conseguiram: seduzir Wall Street com políticas cautelosas e a o mesmo tempo tirar milhões de pessoas da pobreza.

Num sinal do otimismo que cerca a eleição do ex-presidente García, que pretende reparar o péssimo histórico econômico do seu primeiro mandato, na década de 1980, a bolsa de Lima ganhou 3% na segunda-feira, animada com suas promessas de forte crescimento e redução do déficit público. Os bônus do Peru também subiram.

Centenas de milhares de pessoas saíram às ruas na noite de domingo para comemorar a vitória de García, cuja plataforma incluía a concessão de empréstimos, novas escolas, maior distribuição de água e gasolina barata.

Mas talvez seja uma missão impossível cumprir as ambiciosas promessas de um crescimento anual de 7% na economia, de manter o déficit fiscal em 1% do Produto Interno Bruto e reduzir ao mesmo tempo as taxas de analfabetismo e o preço dos combustíveis.

"O país é uma bomba-relógio", escreveu em editorial Augusto Alvarez, do respeitado jornal "Peru.21". "Os benefícios do progresso (econômico) não atingem a metade da população peruana que vive na pobreza, boa parte no sul, nos Andes, e que não votou em García".

A Aliança Popular Revolucionária Americana (Apra), de García, será minoria no fragmentado Congresso peruano, superada em número pelo movimento nacionalista do ex-comandante do Exército Ollanta Humala, derrotado por García no pleito de domingo por 55% a 45% dos votos - com 84% da apuração concluída.

Humala promete ser um atuante líder da oposição, e conta com o apoio maciço nas áreas rurais do país, onde chegou a conquistar até 70% dos votos em algumas províncias do sul. O contraste ressalta a polarização entre a população empobrecida dos Andes e a próspera sociedade que mora no litoral.

- O sul está sempre procurando um messias. Teremos um problema sério [para amenizar a pobreza na região] - disse García recentemente ao centro de estudos Diálogo Interamericano.

O primeiro mandato de García, que também começou em clima de otimismo, caiu em desgraça rapidamente, quando limitou os pagamentos da dívida externa. O calote transformou o país em pária internacional, e o Peru mergulhou numa hiperinflação que desestabilizou a economia.

Para apagar a lembrança das filas para comprar comida daquela época, García viajou a Nova York para seduzir os bancos e foi a cidades remotas nos Andes vestido com roupas tradicionais da região.

A estratégia já havia funcionado com o presidente Alejandro Toledo, filho de um trabalhador de origem andina, que fez campanha tanto com base em suas origens indígenas quanto em sua educação nos Estados Unidos, onde se formou economista. Toledo está deixando o posto para a entrada de García.

Mas, se Toledo conseguiu reerguer a economia peruana, obtendo crescimento por quatro anos seguidos, fracassou em sua promessa de criar empregos e ajudar os pobres. Ele chegou a ter uma popularidade de menos de 10 por cento no ano passado.

- O desafio de García é projetar políticas que funcionem para os pobres - disse Daniel Hewitt, economista internacional sênior do Alliance Bernstein, em Nova York, que investe em bônus peruanos.

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