O ex-presidente Alan García disse, nesta terça-feira, que depende "da vontade e dos desígnios de Deus" a conquista de uma vaga no segundo turno das eleições presidenciais peruanas contra o candidato nacionalista Ollanta Humala.

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Com 84,89% dos votos contabilizados, García (24,71%) superava por pouco mais de um ponto percentual a candidata conservadora Lourdes Flores (23,57%). O ex-militar Ollanta Humala (30,82%) já está no segundo turno das eleições à espera da definição do seu adversário.

Segundo García, os resultados mostram um país dividido em três, que deve sentar e dialogar.

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- Lima é conservadora (fazendo alusão ao apoio a Flores), os departamentos do norte demonstram preferência pelo Partido Aprista (o seu), e o sul optou por Humala. Neste período de espera e incerteza momentânea, não cabem as festas, mas a serenidade. Devemos nos preparar para o diálogo - afirmou, García, que se disse "tranquilo e confiante nas multiplas possibilidades".

Segundo as pesquisas da reta final da campanha, Humala seria derrotado no segundo turno por García. Os mercados reagiram mal ao resultado. O sol peruano abriu o dia com queda de 1,1%, cotado a 3,325/3,329 soles por dólar. Às 13h20 (15h20 em Brasília), a Bolsa de Lima caía 2,56%, apesar do cenário internacional favorável para o preço das exportações peruanas, como o cobre.

- É normal que a moeda se mova. Em todas as partes do mundo acontece isso, mas ela vai se estabilizar quando Alan García passar para o segundo turno, porque as pessoas confiam em que ele ganhará de Humala - disse o parlamentar Jorge del Castillo, secretário-geral do Apra, o partido do ex-presidente.

García carrega o fardo de ter acabado o seu governo (1985-1990) com acentuada crise econômica, hiperinflação e guerra civil contra a guerrilha Sendero Luminoso. Durante seu mandato, García, então admirado por milhões de latino-americanos contrários às políticas neoliberais, restringiu o pagamento da dívida externa e tentou nacionalizar os bancos.

Mesmo em meio à acirrada apuração, Lourdes e García não abandonaram o tom conciliador.

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- É preciso esperar até o último momento, até a última ata, para saber a verdade - disse Flores a jornalistas, acrescentando que estava confiante em superar o adversário. - Vamos ver o que acontece. Acho que o país sem dúvida obriga as forças democráticas a se conciliarem.

García, por sua vez, disse confiar na passagem ao segundo turno, mas ainda não canta vitória.

- Sou uma pessoa serena, acostumada a esperar o pior. Já me aconteceram muitas coisas na vida, e aprendi a superá-las com estoicismo, sem pranto e sem reclamações.

Ao tomar posse em 28 de julho, o novo presidente receberá um cenário complicado das mãos de Alejandro Toledo, que tem popularidade baixíssima devido a escândalos de corrupção - razão pela qual nem teve candidato na disputa. A economia cresce com vigor, mas os setores mais pobres exigem mudanças radicais para se beneficiarem de tal crescimento.

Além disso, segundo as primeiras totalizações da eleição parlamentar, nenhuma força política controlará o Congresso, e por isso o próximo presidente precisará de alianças.

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Os seguidores de García e Flores estão de olho nas atas "observadas" do processo eleitoral, que segundo a Onpe somam 8% (1,4 dos mais de 16 milhões de votos). A última palavra sobre esses resultados impugnados será da Justiça Eleitoral. Os dois grupos também acompanham atentamente a apuração dos votos emitidos por peruanos no exterior, que ainda não foram totalmente contabilizados.

Analistas prevêem que os partidos irão à Justiça para brigar até o último voto, mas não acham que isso possa retardar a realização do segundo turno. Por lei, o segundo turno deve ocorrer em no máximo 30 dias após a publicação dos resultados oficias do primeiro, o que deve ocorrer nas próximas três semanas.