A foto da garotinha chorando enquanto uma agente da Patrulha de Fronteira dos Estados Unidos revistava sua mãe tornou-se um símbolo das famílias separadas pela política de "tolerância zero" da administração do presidente Donald Trump na fronteira, chegando a ser capa da revista Time. Mas o pai da menina confirmou ao Washington Post na noite de quinta-feira (21) que a criança e a mãe não estavam separadas.
A imagem de tirar o fôlego, capturada pelo premiado fotógrafo da Getty Images, John Moore, estava espalhada nas primeiras páginas dos jornais internacionais. Foi usado para promover uma arrecadação de fundos que mobilizou mais de US$ 18 milhões para ajudar a reunir famílias separadas.
No início, pouco se sabia sobre a mãe e a filha ou o que aconteceu com elas. Muitos especularam que a menina pode ter sido separada da mãe, como as mais de 2.300 crianças migrantes que se separaram de seus pais desde 5 de maio.
Em Honduras, Denis Javier Varela Hernandez reconheceu sua filha na foto e também temia que ela fosse separada de sua mãe, disse ele ao Post. Mas ele soube esta semana que sua esposa e filha não estavam, de fato, separadas. A mãe, Sandra Sanchez, 32 anos, foi detida com sua filha de quase 2 anos, Yanela, em uma instalação em McAllen Texas, disse Varela.
A vice-ministra das Relações Exteriores de Honduras, Nelly Jerez, confirmou a história de Varela à Reuters. Um porta-voz da Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA também confirmou ao Daily Beast que a mãe e a filha não estavam separadas.
O Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE, na sigla em inglês) divulgou uma declaração ao BuzzFeed na quinta-feira confirmando que Sanchez foi presa pela Patrulha de Fronteira dos EUA perto de Hidalgo, no Texas, em 12 de junho, enquanto viajava com um membro da família. Ela foi transferida para a custódia do ICE em 17 de junho e está alojada no Centro Residencial da Família do Sul do Texas, em Dilley, Texas, segundo a declaração.
O Serviço de Imigração informou que Sanchez já havia sido deportada para Honduras em julho de 2013.
A travessia
Sánchez e sua filha partiram para os EUA em Puerto Cortes, norte da capital Tegucigalpa, em 3 de junho, segundo Valera. Sanchez havia dito ao marido que tinha esperanças de ir aos EUA para buscar uma vida melhor para seus filhos, longe dos perigos de seu país de origem. Mas ela saiu sem dizer a ele que estava levando a filha mais nova com ela. Valera, que tem três outras crianças com Sanchez, temia pela segurança da menina. Yanela completará dois anos no início de julho.
Entenda: A longa história do impasse sobre a imigração nos EUA
Depois que Sanchez saiu, Valera não teve como entrar em contato com ela, nem sabia onde elas estavam. Então, no noticiário, ele viu a foto da garota de jaqueta rosa.
"No primeiro segundo que vi, soube que era minha filha", disse Valera ao Post. "Imediatamente eu a reconheci".
Ele ouviu dizer que as autoridades dos EUA estavam separando famílias na fronteira, antes que Trump revertesse a política na quarta-feira. Valera se sentiu impotente e angustiado, "imaginando minha filha nessa situação", disse ele.
No início desta semana, Valera recebeu um telefonema de um funcionário do Ministério das Relações Exteriores de Honduras, informando que sua esposa e filha foram detidas juntas. Mesmo que ele não saiba nada sobre as condições da instalação, ou o que acontecerá com Sanchez e Yalena, ficou aliviado ao saber que eles estavam no mesmo lugar.
A história da foto
Moore, o fotógrafo que capturou o choro de Yanela, disse ao jornal Avi Selk que encontrou a mãe e a criança em McAllen na noite de terça-feira (12). Ele sabia apenas que elas eram de Honduras e estavam na estrada há cerca de um mês. "Eu só posso imaginar que perigos ela passou, sozinha com a garota", comentou.
Moore fotografou a garota chorando enquanto o agente de fronteira revistava a mãe. Segundo ele, depois disso, a mulher pegou a filha e elas entraram na van, que foi embora. Moore não sabia o que havia ocorrido com a família, mas, com base nas novas políticas federais, especulou que ela seria tirada de sua mãe quando a van chegasse ao seu destino. "Eu não sei o que é verdade", disse Moore. "Eu temo que elas tenham sido separadas".
Conforme foram surgindo as notícias de que a mãe e a criança não estavam separadas, alguns veículos, como o Breitbart, retrataram a imagem como evidência de "notícias falsas" em torno das políticas de imigração do governo Trump.