Os republicanos precisam se preparar para quando o governador da Califórnia decidir assumir a Casa Branca. Sim, ele tem o cabelo do ícone do NBA, Pat Riley. Sim, assinaturas suficientes foram coletadas para iniciar uma campanha de recall contra ele no ano passado. Sim, a classe média está fugindo da Califórnia. Sim, as cidades do estado estão se tornando um quadro dos ultrarricos e dos super pobres, nos moldes de Charles Dickens.
Mas Gavin Newsom ainda é perigoso e os conservadores seriam tolos em descartar suas perspectivas de um cargo (ainda) mais alto, só porque do outro lado do país temos um promissor nome republicano.
Quando o rascunho da decisão do juiz Samuel Alito derrubando Roe v. Wade vazou para a imprensa, Newsom fez uma pergunta que era dúvida de muitos democratas: "Onde está meu partido? Onde está o Partido Democrata? Por que não estamos tratando disso?"
O presidente Biden não foi citado; nem precisava ser. As especulações de que o governador da Califórnia poderia tentar liderar seu partido em 2024 agitaram a Casa Branca. Newsom decidiu, então, jogar mais lenha na fogueira fazendo anúncios na Flórida comandada pelo republicano Ron DeSantis.
A pergunta de Newsom – “Onde está meu partido?” — demonstrou que ele tem instintos políticos aguçados. Seja porque o poder executivo ficou muito frouxo ultimamente ou porque seus representantes não deram conta de controlá-lo totalmente, há uma forte sensação desde 2017 de que o partido fora da Casa Branca é que tem iniciativa e pode comandar o jogo.
O que os republicanos chamam de “wokeness" (lacração, identitarismo) cresceu sob o governo de Donald Trump em quase todas as instituições formais e informais da vida americana. Mas desde que Biden assumiu a Casa Branca, ativistas conservadores é que têm ganhado evidência. Governadores conservadores vêm reunindo respostas inovadoras para desafios políticos difíceis, e agora a Suprema Corte deu à direita grandes vitórias em relação ao porte de armas e restrição ao aborto. Newsom expressou o sentimento que muitos democratas partidários compartilham: o de que estão sem liderança e sitiados por todos os lados.
Esse sentimento de estar sem rumo persegue os democratas há meses, à medida que o índice de aprovação de Biden diminui. Refletindo esse descontentamento entre os eleitores mais jovens e progressistas, a deputada Alexandria Ocasio-Cortez chegou a dizer que, se Biden concorrer novamente como candidato democrata, ela terá que repensar seu apoio à reeleição.
É aí que entra Newsom. Apesar de todas as falhas óbvias com o modelo de governança da Califórnia, ele tem um argumento pronto: sou jovem, sou competente e sou realmente progressista. Por mais de meio século, a Califórnia representou o futuro americano. E Newsom pode usar de propaganda o que ele frequentemente chama de “o maior e mais diversificado Estado da democracia mais diversificada do mundo”.
A economia da Califórnia está aquecida e o estado tem enormes superávits de receita. Newsom planeja usar essas receitas para enviar cheques aos californianos para ajudá-los a lidar com a inflação, distribuindo US$ 9,5 bilhões para 23 milhões de habitantes. O esquema pode realmente exacerbar o problema que pretende resolver, mas ele claramente não se importa com isso.
Se a Califórnia fosse um país, seria economicamente competitiva com a Alemanha, uma nação com mais do dobro de sua população. Newsom pode argumentar que já lidera 12% dos cidadãos americanos e quase 15% da economia do país. Ele pode usar também o fato de que, sob seu comando, a Califórnia conseguiu manter a economia aquecida sem abandonar suas pesadas regulamentações ambientais. Ou seja, Newsom pode se apresentar como um pacote completo dos democratas: alguém capaz de construir um futuro verde, progressista, diversificado e rico – o futuro que os democratas desejam desesperadamente para todo o país.
Newsom também tem um tipo de carisma difícil de descrever para conservadores que sentem genuinamente repulsa por ele, mas que atrai importantes blocos de eleitores. Embora pareça que latinos em todo o país estejam começando a se voltar para os republicanos, na Califórnia eles estão se tornando cada vez mais apegados a Newsom.
Um estudo mostrou que Biden ganhou os eleitores latinos do estado por uma margem de três para um em 2020. Mas, na eleição de recall para governo da Califórnia, em 2021, Newsom conquistou os eleitores latinos de Los Angeles em uma proporção de quatro para um.
A política americana clama por uma mudança geracional, por algum tipo de renovação. Ron DeSantis não pode responder a esse clamor por enquanto porque ainda está lutando pela reeleição na Flórida. O que significa que, até novembro, Newsom estará livre para se autopromover. Ele é descarado, ambicioso e terá acesso a grandes quantias de dinheiro para concorrer nacionalmente, se assim decidir. Os republicanos precisam se preparar.
© 2022 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.
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