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Energia

Gazprom: como a gigante russa de gás natural é usada por Putin para chantagear adversários

Estande da Gazprom no Fórum Internacional de Gás Natural de São Petersburgo, em outubro do ano passado (Foto: EFE/EPA/ANATOLY MALTSEV)

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A Gazprom, estatal russa de gás natural, está no meio das tensões na crise de concentração de tropas da Rússia na fronteira com a Ucrânia.

Na segunda-feira (7), durante visita à Casa Branca do chanceler alemão, Olaf Scholz, o presidente americano Joe Biden disse que uma invasão russa ao país vizinho seria respondida, entre outras medidas, com o encerramento do projeto do gasoduto Nord Stream 2, por meio do qual a estatal bombeará o combustível diretamente para a Alemanha.

Analistas não deixaram de observar que Scholz não endossou claramente a ameaça de Biden – o gasoduto, já concluído mas cujo licenciamento está parado por questões burocráticas, teve apoio da sua antecessora, Angela Merkel, mas foi duramente criticado pelos Estados Unidos e outros países, pela possibilidade de aumentar a dependência da Europa de gás natural fornecido pela Rússia.

Criada em 1989, como a primeira estatal da então União Soviética, a Gazprom é hoje a maior empresa de gás natural de capital aberto do mundo e a maior empresa da Rússia em faturamento. O governo russo detém 50,23% das ações da companhia.

O uso político da Gazprom pelo presidente Vladimir Putin é criticado pelo Ocidente. Em 2018, um estudo encomendado pelo Parlamento Europeu apontou que a estatal “é especialista em formular a agenda de política externa de Moscou em termos comerciais”.

“Para cada caso de coerção energética, a Gazprom formula uma justificativa comercial ou técnica. Mas avaliações políticas sustentam as decisões da Rússia sobre quando oferecer descontos em suas exportações de energia. Eles normalmente coincidem com as prioridades estratégicas da Rússia. Por exemplo, Moscou tem um histórico de dar descontos, mas também de retirá-los, quando as condições políticas mudam”, denunciou.

O relatório apontou como exemplo o episódio em que o então presidente ucraniano Viktor Yanukovych decidiu se juntar à União Econômica da Eurásia no final de 2013, em detrimento à entrada na União Europeia. Quando seu sucessor, Petro Poroshenko, reverteu essa decisão, ocorreram aumentos no preço do gás e interrupções no fornecimento.

Além disso, a Gazprom criou rotas alternativas de fornecimento do combustível para o mercado europeu que contornavam a Ucrânia. “Essa política de usar as exportações de energia para intimidar ou assediar é uma demonstração da realpolitik russa e reverbera em todo o continente europeu”, destacou o documento.

No ano passado, a Gazprom alavancou seu monopólio do gás sobre a Moldávia ao sugerir que o governo pró-europeu do país deveria abandonar um acordo de livre comércio com a União Europeia e interromper a liberalização do mercado de gás em troca de preços mais baixos do combustível em um novo contrato de longo prazo com a empresa.

Também em 2021, parlamentares europeus cobraram que a Gazprom fosse investigada por possíveis violações de regras de concorrência, já que teria bombeado menos gás para a Europa para forçar a aprovação do Nord Stream 2.

Nesta quinta-feira (10), Scholz receberá líderes de três países bálticos, Lituânia, Estônia e Letônia, e para os críticos da postura relutante do chanceler alemão, chegou a hora do Ocidente não se intimidar diante do uso político da Gazprom, já descrita como “um Estado dentro de outro Estado”.

“Os estados bálticos sempre foram contra este projeto e se sentem ameaçados enquanto pequenos países e ex-repúblicas soviéticas. Há uma clara expectativa de que Berlim tome uma posição mais clara diante da ameaça russa”, disse ao site Politico o parlamentar Norbert Röttgen, curiosamente, da União Democrata-Cristã, partido de Merkel – cujo apoio ao Nord Stream 2 é considerado um dos maiores erros da sua gestão.

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