As pessoas que foram contaminadas pelo vírus H5N1 seriam especialmente suscetíveis aos diferentes tipos de vírus da gripe aviária devido a fatores genéticos, sugeriram especialistas nesta quinta-feira.
Das 205 pessoas contaminadas pelo H5N1 desde 2003, há várias que possuem algum tipo de parentesco de sangue, tais como pai e filhos, mães e filhas. Do total de contaminações, 113 foram fatais.
- Há grupos familiares. Então, deve haver algum tipo de fator genético envolvido - afirmou Robert Webster, do Hospital de Pesquisa Pediátrica St Jude durante uma conferência realizada em Cingapura e organizada pela revista médica "Lancet".
Um outro especialista importante, Hiroshi Kida, que passou mais de três décadas pesquisando os vírus, defende há muito tempo a mesma teoria.
- Não houve nenhum caso de contaminação envolvendo marido e mulher - disse Kida, que trabalha no departamento de controle de doenças da Universidade Hokkaido (Japão).
Kida explicou que as pessoas contaminadas com o H5N1 possuem um receptor de carboidrato nas células presentes em sua garganta. O receptor -- chamado de alfa 2,3 -- é encontrado em aves e os vírus da gripe aviária gostam de se unir a esse tipo de receptor para se reproduzir.
Os vírus da gripe humana, porém, preferem se unir a um outro tipo de receptor, o alfa 2,6, que predomina entre os seres humanos.
- Acho que as pessoas contaminadas pelos vírus da gripe aviária são especiais. Elas precisam ter o receptor alfa 2,3 - afirmou Kida.
Apesar de os seres humanos apresentarem alguma quantidade do alfa 2,3, os alfa 2,6, segundo o pesquisador, são muito mais abundantes na maior parte das pessoas.
Kida tenta agora analisar os que sobreviveram ao H5N1 no Vietnã e na Tailândia a fim de confirmar sua teoria. Se ela for verdadeira, isso significaria que a maior parte das pessoas não será contaminada pelo H5N1 facilmente, ao menos enquanto o vírus não sofrer certas mutações.
- Se ele mudar sua especificidade de receptor, então ele seria perigoso - afirmou.
Muitos especialistas acreditam que o H5N1 pode provocar uma pandemia mundial de gripe que já deveria ter ocorrido. Mas essa hipótese só se materializará caso o vírus sofra as mutações necessárias para conseguir passar de uma pessoa a outra rapidamente - algo que ainda não ocorreu.
A maior parte das vítimas contraiu o vírus no contato direto com aves doentes. E não há nenhum caso comprovado de transmissão do H5N1 de uma pessoa para outra.
Apesar de pouco ser conhecido sobre o vírus, há muitos trabalhos sendo desenvolvidos para saber como ele é transmitido e até para saber por que um número tão pequeno de pessoas foi contaminado até agora.
Um grupo de pesquisadores sugeriu recentemente que o vírus ainda não se mostrou tão contagioso quanto se temia porque ele ficaria abrigado no fundo dos pulmões, e não no trato respiratório superior, de onde poderia sair mais facilmente e disseminar-se.
Mas, apesar de Kida não descartar essa teoria, ele diz que não se trata da única.
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