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Jesus Cristo aparece gigante sobre o Rio de Janeiro. Um quarteto de presidentes americanos olha para nós no Monte Rushmore. Lênin observa São Petersburgo. Porém, se existisse um concurso mundial para homenagear homens gigantes numa escala colossal, a Mongólia poderia vencer todos – de novo.

Genghis Khan, o lendário cavaleiro que conquistou metade do mundo conhecido no século XIII, voltou às estepes da Mongólia – mas, desta vez, ele cobra entrada.

A aproximadamente uma hora de carro de Ulan Bator, capital da Mongólia, o Khan inicialmente aparece no horizonte como um pontinho cintilante, surgindo nas planícies como uma miragem brilhante.

À medida que nos aproximamos, ele impressiona: um gigante de 40 metros de altura montado num cavalo, envolto em 227 toneladas métricas de aço inoxidável. Os visitantes até podem tomar um elevador e aparecer entre suas pernas, para admirar a exuberante estepe mongol a partir de uma plataforma acima da cabeça do cavalo.

"Todos os mongóis têm orgulho dessa estátua", disse Sanchir Erkhem, 26 anos, lutador de sumô da Mongólia, que mora no Japão e posava para fotografias na plataforma, durante uma viagem pelo seu país. "Genghis Khan é nosso herói, nosso pai, nosso deus."

A estátua gigante do personagem mais famoso da Mongólia, conhecido localmente como Chinggis Khaan, é a mais nova de uma horda de monumentos e produtos que apareceram aqui desde que o país se livrou do comunismo, há quase 20 anos. Aviões agora pousam no Aeroporto Internacional Chinggis Khaan, estudantes cursam a Universidade Chinggis Khaan, e turistas podem se hospedar no Chinggis Khaan Hotel. O rosto barbudo do khan adorna latas de bebidas energéticas, garrafas de vodca e pacotes de cigarro, assim como o dinheiro que adquire esses produtos.

Políticos têm estado ansiosos por se unir ao 'bloco'. Em 2006, o governo revelou outra estátua do conquistador, dessa vez na praça principal da capital.

Nos últimos anos, o parlamento vem debatendo sobre se o governo deveria ter poderes exclusivos para licenciar o rosto e a imagem de Genghis Khan, mas a legislação ainda tem de ser aprovada.

A pressa para venerar – e lucrar com – o fundador de um grande império transcontinental chega numa época em que os mongóis buscam uma identidade nacional, após séculos de dominação por forças estrangeiras. Já sensíveis em relação à reputação global de Genghis Khan como um vilão sanguinário, responsável pela morte de um número incontável de pessoas, os mongóis estão aproveitando novas oportunidades para remodelá-lo e, por tabela, seu país, há tempos ofuscado por seus vizinhos, Rússia e China.

A enorme estátua revestida de aço, parte de um parque temático planejado (chamado Chinggis Khaan Statue Complex), talvez seja a manifestação mais ambiciosa e custosa do orgulho Genghis. A Genco Tour Bureau, empresa mongol, até agora já gastou cerca de US$ 4,1 milhões na estátua.

Os planos de um complexo de 200 gers, ou tendas redondas, ainda não foram concluídos. As tendas irão abrigar locais de hospedagem para visitantes, restaurantes e lojas de souvenir, tudo disposto no padrão da sela de cavalo usada por tribos mongóis do século XIII.

Dentro da base da estátua, com dois andares, inaugurada em setembro de 2008, os visitantes podem ver uma réplica do lendário chicote dourado de Genghis Khan, provar a culinária tradicional – repleta de carne de cavalo e batatas – e experimentar alguns costumes definitivamente não-nômades, como bilhar.

Apesar de não haver evidências para respaldar sua afirmação, a empresa sustenta que nesse local Genghis Khan encontrou o chicote, tradicionalmente considerado um sinal auspicioso, que inspirou suas conquistas futuras. Como Genghis Khan, a empresa pretende expandir seu império. A vários quilômetros de distância, num "parque nacional do século XII", os mais aventureiros podem fiar lã ou assistir a uma cerimônia xamã. Spa, hotel e campo de golfe também estão nos projetos.

"Trata-se do orgulho nacional", disse Damdindorj Delgerma, diretor executivo da Genco Tour Bureau. "Os mongóis ficam felizes quando veem essa estátua. Agora pessoas do mundo todo chegam para aprender sobre a importância da Mongólia na história."

Delgerma afirmou que 40 mil pessoas já visitaram o complexo. No entanto, num dia de semana recente, o local estava praticamente vazio. Mesmo assim, moradores locais dizem ter esperanças de que o lugar traga renda (muito necessária) para a estepe, especialmente assolada pela crise econômica mundial. Também esperam que o lugar possa educar as pessoas que olham para estátua sem entender muito bem.

"Os estrangeiros não fazem ideia de quem foi realmente Chinggis Khaan", disse Khaliun Ganbold, 21 anos, guia de turismo que aguardava na loja de souvenir. "Tudo que eles sabem é o pouco que leram na Wikipédia"

Reputação

A guerra de relações públicas sobre Genghis Khan e sua reputação tem se agitado por séculos. Inicialmente venerado por mongóis nômades como um líder militar brilhante que unificou tribos inimigas para fundar o maior império do mundo, o homem (que nasceu Temujin, mas depois ficou conhecido como Genghis Khan, ou soberano universal), foi mitificado como um xamã antes de monges budistas se apropriarem dele como uma encarnação de uma deidade descendente de uma linha de reis indianos e tibetanos.

Segundo Christopher P. Atwood, professor de Estudos da Eurásia da Indiana University, em Bloomington, os mongóis redescobriram o papel de Genghis Khan como combatente durante a busca pela independência no início do século XX, e rapidamente passaram a considerá-lo um ícone nacional. No entanto, em 1949, a União Soviética e seus servos da Mongólia começaram uma campanha revisionista para taxá-lo de figura "reacionária", que prejudicou as "forças produtivas" durante as guerras de expansão. Rituais em homenagem a seu legado foram proibidos, e estampas com seu rosto foram destruídas.

"Era impossível tratá-lo como um simples herói nacional, que é o que os mongóis queriam", disse Atwood, autor de "Encyclopedia of Mongolia and the Mongol Empire".

Com sua mais pura glorificação a Genghis Khan, o parque temático evita essa nuance. No entanto, turistas podem deixar o local pensando que Genghis é mais Mickey Mouse que mongol, a julgar pelas canecas, bonés e camisetas estampados com sua imagem – tudo à venda. Porém, Ganbold não vê conflito entre história e marketing.

"A tradição mongol respeita o nome dos nossos grandes ancestrais", disse ela. "Para realmente homenageá-lo, é melhor só usar seu nome em produtos premium".

Outros mongóis olham mais desconfiados em relação a essa devoção a Genghis Khan – mas ficam felizes em brindar em sua memória.

"Ele foi um homem cruel, mas levou nosso país à grandiosidade", disse Toguldur Munkochir, 25 anos, caixa de banco que relaxava no bar Chinggis Khaan, tarde da noite. "Se você olhar para Lincoln, Hitler e Julio César, é mais ou menos a mesma coisa".

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