Você vai ouvir muito essa palavra que começa com F esta semana. Falo de "fascismo", é claro. O New York Times usou esse termo 28 vezes no último sábado em um pequeno artigo sobre a provável nova primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni.
Talvez a última crise da democracia. O governo do tecnocrata Mario Draghi, no qual os italianos nunca votaram, mas que era amado pela União Europeia, caiu. E um governo liderado pelos Irmãos da Itália (Fratelli D'Italia), o único partido que se opunha ao Draghi, foi eleito no lugar.
Os Irmãos da Itália são uma espécie de partido eurocético - que não confia nas decisões da União Europeia. Quer renegociar aspectos do envolvimento da Itália na UE e defender a primazia da lei italiana. É de orientação populista e nacionalista, aliada a nível europeu com o partido Lei e Justiça da Polônia. Embora em algum momento tenha defendido melhores relações com a Rússia, desde a invasão, apoiou o envio de armas para a Ucrânia.
Apesar de ter sido formado como resultado de uma divisão no partido Povo da Liberdade (Popolo della Libertà; PdL), de Silvio Berlusconi, tem muitas divisões. Entre elas, estão “conservadores liberais”, orientados para o mercado, e conservadores sociais, liderados por uma mulher antiaborto e católica. O slogan de Meloni é “Deus, família e pátria”.
De forma geral, no momento em que este artigo foi escrito, o partido dela recebeu entre 25 e 30% dos votos. Ele provavelmente se juntará em um governo de coalizão pelo partido Força Itália (Forza Italia), mais tradicionalmente de centro-direita, além dos Moderados e outro partido populista de direita, a Liga Norte (Lega Nord). Espera-se também que Matteo Salvini, líder desse último, retorne ao seu antigo cargo de ministro das Relações Interiores, onde será linha dura em relação à imigração.
É verdade que alguns membros dos Irmãos da Itália traçam sua herança política a partir de uma variedade de grupos de extrema-direita na política italiana. E é verdade também que descendentes dispersos de Mussolini tentaram concorrer ao cargo sob a bandeira dos Irmãos da Itália — a maioria deles sem sucesso, embora um deles agora faça parte do conselho da cidade de Roma. Mas a palavra que começa com F é uma enganação.
O desemprego entre jovens e o subemprego na Itália são tão crônicos que estão causando uma crise de emigração. Isso exacerba outras tendências preocupantes em uma nação que tem uma taxa de fertilidade bem abaixo do nível de reposição e que se tornou a principal zona de desembarque para a migração em massa do Mediterrâneo.
O experiente jornalista Christopher Caldwell analisou os números no início da era Covid:
"Quase um quarto das mulheres nascidas em 1978 estão terminando seus anos férteis sem filhos, o dobro do nível de 1950. Todos os anos nascem 440 mil italianos e cerca de duas vezes mais morrem. Mas esses números subestimam radicalmente a rapidez com que a população está diminuindo. Os italianos nativos emigram em taxas recordes há mais de uma década — 160 mil apenas em 2018. Municípios de todo o país estão doando — ou vendendo pelo preço nominal de 1 euro — casas abandonadas, muitas delas muito bonitas, para quem estiver disposto a investir na reforma".
Esses são problemas grandes demais para deixar para outra geração. A classe política da Itália — e a Europa por trás dela — não conseguiu lidar com essa calamidade social, econômica e política por décadas. Na verdade, os lemas do establishment — como "uma união cada vez mais próxima na UE é melhor", ou "o euro é uma benção para todos" — impossibilitam até mesmo levantar as questões mais óbvias sobre isso.
Sem dúvida, o novo governo italiano será incluído pelos desconfiados de sempre como outra “crise para a democracia”, juntando-se aos governos eleitos popularmente da Polônia e da Hungria. Mas a verdade é que a política de centro-esquerda dos anos 1990 está desmoronando. Onde quer que o desafio democrático seja permitido, ele acontece. A Itália era apenas a próxima da lista. Não será a última.
© 2022 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.
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