Southwest Pass, Louisiana - Há algumas semanas, enormes faixas de uma substância laranja-acastanhada foram vistas flutuando em águas abertas próximas da foz do Rio Mississipi, em Southwest Pass, Louisiana. Segundo Cindy Cruikshank, que tem 59 anos e pesca na região desde os 6, em algumas partes a água se parecia com calda de chocolate e em outras com Coca-Cola. O odor lembrava graxa de automóvel e manchas apareceram no casco de seu barco. Assim como outros pescadores e ambientalistas de todo o país, ela não teve dúvidas de que se tratava de petróleo. "Eu sei o que vi", diz ela.
Os cientistas locais discordam. "Não é petróleo. Não possui nenhuma das propriedades do petróleo", diz Ed Overton, professor de Ciência Ambiental da Universidade Estadual da Louisiana, que analisou duas amostras da substância misteriosa fornecidas pela guarda costeira. Os cientistas concluíram que se tratava de um surto de algas, comuns na região nesta época do ano.
"Uma boa parte do petróleo que permaneceu na água mostrou uma consistência muito parecida com esta", explica Overton. Entretanto, Cruikshank e muitos outros pescadores que viram o material ainda não se convenceram.
A limpeza do pior vazamento de petróleo em alto mar da história dos Estados Unidos continua na costa do Golfo do México, bem como algumas das controvérsias relacionadas a ele: os políticos locais ainda protestam contra a demora para resolver o problema e muitos moradores e ambientalistas acusam os cientistas e funcionários do governo de um otimismo injustificado, o qual tem gerado suspeitas de acobertamentos e conspirações (neste caso, Cruikshank não é uma teórica da conspiração; ela acha que a guarda costeira simplesmente colheu amostras no lugar errado).
De qualquer forma, a operação de limpeza em si estabeleceu uma fase muito mais rotineira. Mais de 11 mil trabalhadores prosseguem na remoção do petróleo, testando as espécies marinhas e monitorando a presença de óleo em centenas de quilômetros de costa. Cerca de mil barcos de pesca participam do programa "Vessels of Opportunity" da BP, ajudando na limpeza. Além disso, mais de 60.960 metros de redes de contenção ainda estão instalados, de acordo com funcionários da guarda costeira.
Restos
Embora os ecologistas das zonas úmidas estejam aliviados pelo fato de que apenas uma área relativamente pequena de pântano tenha sido inundada de óleo, outras áreas de banhados, como Bay Jimmy, em Barataria Bay, ainda apresentam manchas escuras, trilhas de mata devastada e uma faixa marrom de óleo na linha da água.
O óleo ainda invade as praias e já é encontrado em áreas que antes estavam limpas, pois a mancha que chega até a costa é puxada novamente e levada adiante pelas marés. Assim, enquanto planos são desenvolvidos para determinar onde e como limpar, ainda não existe nenhuma área considerada totalmente limpa. "Se levará um dia, uma semana ou um mês, eu não sei", diz Chance McConnell, diretor de operações da DRC Serviços de Emergência, empresa contratada para a limpeza.
Apesar dos debates sobre a localização do óleo vazado, os efeitos mais visíveis do desastre estão desaparecendo. Dos cerca de 933 quilômetros de costa afetada, apenas 48 ainda mostram efeitos de "óleo pesado", declarou em recente entrevista o contra-almirante Paul Zukunft, da guarda costeira americana.
Os pescadores se mantêm atentos às manchas de óleo e preocupados com a contaminação da água, mas alguns cientistas consideram esses temores sem sentido. Eles dizem que a maior preocupação com o vazamento não é o óleo que permanece na superfície e contamina a vida marinha, mas os danos de longo prazo causados nas populações de peixes, caranguejos e outras espécies comercialmente importantes.
Neste momento, e talvez ainda por muito tempo, não é possível saber o grau do prejuízo causado ao ecossistema. Cientistas como Caz Taylor, biólogo da Universidade de Tulane, que encontrou "misteriosas gotas laranjas" em larvas de caranguejo azul no último verão, só poderão afirmar alguma coisa nos próximos meses.
População marinha reduzida
Mas eles estão apreensivos, pois alguns dos estuários mais produtivos da Louisiana, como a Barataria Bay, foram fortemente afetados. "Estou mais preocupado com a redução no número de caranguejos do que com o aparecimento de espécimes poluídos", diz Andrew Nyman, ecologista de regiões úmidas da Universidade Estadual da Louisiana. "Meu maior medo é que haja redução de alguns de nossos peixes e animais selvagens."
Estudos feitos durante e após o enorme vazamento na plataforma de exploração Ixtoc, em 1979, que liberou cerca de 3,3 milhões de barris de petróleo no Golfo do México, ajudam a confirmar essa tese. Os pesquisadores descobriram que o petróleo derramado foi bem tolerado pelos peixes adultos, mas foi altamente tóxico para ovos e larvas, bem como organismos menores, mais abaixo na cadeia alimentar.
Nas áreas onde houve grande derramamento, algumas espécies de caranguejos e crustáceos sofreram declínios populacionais significativos. A possibilidade de isso acontecer novamente é uma questão crucial para os pescadores e outras pessoas cujas vidas estão em jogo, especialmente se for considerado o prazo que Kenneth Feinberg, superintendente do fundo de US$ 20 bilhões destinados ao Golfo do México, estabeleceu para as obras finais: 2013.
Mas, por enquanto, há poucas respostas. Em uma audiência pública perto da costa, Ed Overton, o cientista da Universidade da Louisiana, apresentou algumas de suas descobertas e respondeu a perguntas sobre o vazamento. Ele disse que foi hostilizado posteriormente. "Eles gritam que o céu está caindo", diz ele. "Há poucas evidências para falar de enormes prejuízos ambientais no momento. Não podemos inventar prejuízos. É preciso ter provas."
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