As circunstâncias do acesso ao po­­der do presidente em exercício na Nigéria, Goodluck Jonathan, são tão estranhas que até ele pareceu confuso quando assumiu o país.

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Ele não foi eleito. Ele não foi exatamente indicado. Ele não to­­mou o poder por um golpe, ao con­­trário de muitos de seus predecessores. Como um acadêmico de mo­­dos suaves num chapéu fedora pre­­to, ele parece bastante im­­provável no pesado ambiente da Nigéria.

Porém, seu chefe, o presidente Umaru Yar’Adua, está muito do­­ente, incomunicável por meses num hospital da Arábia Saudita. Sem previsão sobre seu retorno, a Assembleia Nacional promoveu Jonathan de vice-presidente para presidente em exercício em meados do mês passado, chamando a ação de essencial "à paz, à ordem e ao bom governo".

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E foi assim que Jonathan, aparecendo diante de colegas líderes da África Ocidental numa recente cúpula local, fez seu cumprimento, murmurou saudações e, como um pedido de desculpas, chamou a si mesmo de um mero "substituto para o presidente Yar’Adua, que está indisponível". Tão indisponível, na verdade, que a investigação de uma delegação da Assem­­bleia Nacional, questionando a saúde do presidente, foi abruptamente recusada na Arábia Sau­­di­­ta.

Seria esse o homem capaz de pacificar um país com inúmeras rebeliões simultâneas no norte e no sul, preocupantes disparidades na riqueza, uma instável constituição mantendo unida a maior população da África e 36 bilhões de barril de reservas comprovadas de petróleo, mas uma produção elétrica mais fraca que a de Porto Rico?

Que Jonathan, 52 anos, biólogo com doutorado em zoologia e ex-ambientalista, vem causando esperanças incomuns na Nigéria – logo depois do início de seu mandato –, isso já é testemunho geral, tanto na dimensão das ne­­gligenciadas necessidades do país quanto de sua biografia relativamente intocada. Já houve pedidos para instalá-lo como presidente pleno, por parte de um grupo de cidadãos de destaque.

A ascensão política desse filho – até então – obscuro de um en­­ta­­lhador de canoas e pescador rural da região produtora de pe­­tróleo no sul, atribuída a uma sé­­rie de coincidências e contratempos, quase ocorreu apesar dele, de acordo com relatos de apoiadores e analistas.

"Ele não é obcecado pelo po­­der", afirma Samuel Amadi, diretor de política do Good Gover­­nan­­ce Group, um lobby ativista local. "Ele não tem a arrogância comum dos políticos nigerianos".

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Alguns de seus principais ajudantes vêm de fora dos círculos tradicionais de riqueza e poder locais. Ações iniciais também su­­gerem uma quebra com a amarrada presidência de Yar’Adua. Jona­­than rapidamente demoveu o pro­­motor-geral Michael Aondoa­­kaa, uma autoridade intimamente associada à desmoralização das promessas de bom governo do presidente. Esse foi um "gesto dos mais simbólicos", disse Amadi.

Em seu discurso inaugural, Jo­­nathan insistiu que a instável paz no turbulento Delta do Níger, on­­de militantes e criminosos se en­­frentam pelo controle do petróleo, seria consolidada – e que o vacilante programa de anistia do governo seria reforçado. Os nigerianos, aliviados com o fim do vácuo no poder, inundaram-no de visitas; Jonathan as interrompeu, segundo seus assessores, pois queria voltar ao trabalho.

"Ele tem sido articulado e bastante decisivo em buscar a consolidação de seu próprio controle de governo", disse Peter Lewis, diretor do programa de estudos africanos da Escola de Estudos Interna­­cionais Avançados, da Universi­­dade Johns Hopkins.

Jonathan também se encontrou rapidamente com executivos do petróleo.

Ainda assim, a biografia de Jo­­nathan, conforme descrita por assessores e diversas matérias na imprensa nigeriana, levanta ques­­tões sobre se ele terá a dureza ne­­cessária para negociar no campo minado que é a política daqui: 36 poderosos governadores de estado, alguns deles controlando imen­­sos orçamentos de campos de pe­­tróleo; uma grande elite militar que passou a maior parte dos 50 anos de independência da Nigéria se intrometendo na política; e facções de políticos nortistas ressentidos com o fato de que um deles próprios, Yar’Adua, foi prematuramente colocado de escanteio an­­tes das eleições de 2011, em favor de um sulista.

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"Sua humildade é desconhecida nesta parte do mundo", disse um íntimo aliado, Hassan Tukur, secretário do Conselho Nacional de Energia. Por mais louvável que possa parecer, isso também pode ser uma de suas maiores deficiências. "Jonathan não está à altura das reviravoltas e relações da política", afirma um assessor.