Sede da empresa Booz Allen Hamilton, em McLean, onde o ex-técnico da CIA Edward Snowden trabalhava e foi demitido ontem| Foto: Michael Reynolds/EFE

Rússia admite dar asilo a delator

A Rússia pode considerar conceder asilo ao norte-americano que expôs os programas secretos de vigilância do governo dos Estados Unidos, se ele solicitar, disse ontem um porta-voz do presidente russo, Vladimir Putin.

Dmitry Peskov não chegou a dizer que Moscou aceitaria Edward Snowden, mas parlamentares pró-Kremlin manifestaram-se a favor da ideia, relembrando a rivalidade da Guerra Fria com os Estados Unidos e uma veia do sentimento antiamericano que Putin muitas vezes incentiva.

"Prometendo asilo a Snowden, Moscou toma para si a defesa de pessoas perseguidas por motivos políticos", disse Alexei Pushkov, presidente da comissão de assuntos internacionais da câmara baixa do Parlamento, no Twitter. "Haverá histeria nos Estados Unidos. Eles reconhecem isso como um direito deles sozinhos", acrescentou.

Putin e outras autoridades russas frequentemente acusam os Estados Unidos de hipocrisia, dizendo que Washington tenta impor normas de direitos humanos, liberdade e democracia em outras nações, mas não cumpre com essas obrigações internamente.

Snowden fugiu para Hong Kong e disse que espera receber asilo da Islândia. Seu paradeiro ontem era desconhecido.

Reuters

CARREGANDO :)
Lindsay Mills:
CARREGANDO :)

Três das maiores companhias de internet envolvidas no escândalo do monitoramento de dados de usuários nos EUA pediram ontem que o governo dê transparência ao sistema de coleta de informações. A iniciativa das gigantes tecnológicas é uma tentativa de se distanciarem das notícias que as retratam como parceiras dispostas a fornecer dados em massa para as agências de segurança.

Em comunicados semelhantes e divulgados em um intervalo de horas ontem, Google, Microsoft e Facebook pediram permissão ao governo norte-americano para tornar públicos o número e o escopo dos pedidos de dados que cada uma recebe das agências de segurança.

Publicidade

Essas companhias, e várias outras, têm sido alvo de escrutínio após os jornais The Guardian e Washington Post divulgarem o papel delas no programa de coleta de dados da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) chamado Prism.

"Afirmações na imprensa que nossas atitudes diante dessas solicitações concedem ao governo dos EUA acesso irrestrito aos dados de nossos usuários são simplesmente falsas", escreveu o diretor jurídico do Google, David Drummond, em carta ao secretário de Justiça, Eric Holder, e ao diretor da polícia federal (FBI), Robert Mueller.

Ação judicial

Outra reação desencadeada ontem partiu da ONG American Civil Liberties Union (ACLU), que entrou com ação judicial contra a administração Obama, na primeira contestação jurídica de peso desde que o caso estourou.

Para a entidade, o programa de vigilância do governo "viola os direitos constitucionais americanos de liberdade de expressão, associação e privacidade".

Publicidade

Obama também deve ser cobrado pela chanceler Angela Merkel em sua visita à Alemanha na próxima semana.

Demissão

Também ontem, a Booz Allen Hamilton, empresa onde trabalhava Edward Snowden, que assumiu ser o responsável pelo vazamento, demitiu o funcionário, afirmando que ele desrespeitou os padrões éticos da companhia.

A companhia informou que ele tinha um salário anual de US$ 122 mil, abaixo dos US$ 200 mil que o jornal Guardian havia informado no anteontem.

Snowden deixou a namorada no Havaí

Publicidade

Edward Snowden, o ex-técnico da CIA que revelou documentos sobre programas secretos de vigilância dos EUA, não deixou apenas o emprego para delatar o monitoramento do governo norte-americano. Ele abandonou também a namorada, Lindasay Mills, de 28 anos, dançarina no Havaí.

Segundo veículos da mídia norte-maericana e britânica, Lindsay acreditava estar pronta para receber um pedido de casamento quando seu namorado saiu do país para escapar das autoridades dos EUA. Nos últimos dias, ela postou mensagens nas redes sociais lamentando que Edward Snowden foi para Hong Hong e disse se sentir solitária.

"Meu mundo se abriu e se fechou completamente em um instante, deixando-me no oceano sem uma bússola", escreveu em seu Twitter @lsjourney.

Lindsay fazia parte da companhia de dança Waikiki, no Havaí, com performances de pole dance, acrobacias e dança aérea, de acordo com o jornal local Honolulu Star-Advertiser. Ela costuma postar fotos seminua e em contato com a natureza nas redes sociais.

1984

Publicidade

Livro de George Orwell volta a vender após escândalo de "grampo"

As vendas de 1984, de George Orwell, aumentaram quase 7.000% em apenas um dia na Amazon, a maior varejista on-line de livros do mundo. O aumento se segue à revelação, feita na última quinta-feira pelos jornais The Guardian e Washington Post, do gigantesco esquema de monitoramento de dados de telefone e internet realizado ilegalmente pelos serviços de inteligência dos Estados Unidos – tratado por analistas como uma versão real do Big Brother, o Grande Irmão que tudo vê do livro de Orwell.

A obra, cuja primeira edição foi publicada em 8 de junho de 1949, saltou da 12.859ª posição para a 184ª no ranking de mais vendidos do site. Uma outra edição, de 2003, que reúne as duas obras mais famosas de Orwell (1984 e A Revolução dos Bichos) também entrou para o ranking, na 11ª posição, com alta de 290% nas vendas.

Em 1984, Orwell (1903-1950) cria um futuro distópico em que a sociedade é permanentemente vigiada e controlada pela figura do Grande Irmão. Na ficção, a vida de cada pessoa é filmada 24 horas por dia, para monitoramento de qualquer ação que possa significar risco ao governo totalitário.