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Governantes do Iêmen têm um lado moderado

Confronto em uma manifestação contra os Houthis em Sanaa, no Iêmen | Wadia Mohammed/European Pressphoto Agency
Confronto em uma manifestação contra os Houthis em Sanaa, no Iêmen (Foto: Wadia Mohammed/European Pressphoto Agency)

À primeira vista, o slogan oficial e o emblema dos Houthis, que agora são a força dominante no Iêmen, não oferece muita esperança aos especialistas políticos americanos.

Ele inclui as palavras "Morte à América, morte a Israel, condenação aos judeus". Ele é bradado pelos Houthis em marcha, usado em apliques nas mangas, pintado em edifícios e colado no vidro dos carros. A imagem traz essas palavras em vermelho, emolduradas por "Deus é grande" e "Vitória ao Islã", em verde, sobre um fundo branco.

Às vezes, as palavras vermelhas são mostradas pingando sangue. Mas, apesar da dureza do slogan, os Houthis podem ser muito mais moderados do que isso, de acordo com muitos diplomatas e analistas que os seguem atentamente.

Michael G. Vickers, alto oficial de inteligência do Pentágono, disse: "Os Houthis são contra a Al Qaeda, e fomos capazes de continuar algumas das nossas operações de contraterrorismo contra este grupo nos últimos dois meses."

Esse otimismo é notável, considerando-se que um dos pontos chave da campanha dos Houthis é a oposição ao uso de drones americanos no Iêmen contra a Al Qaeda, medida que havia recebido a entusiástica cooperação do presidente pró-americano, Abdu Rabbu Mansour Hadi, que renunciou no dia 22 de janeiro, em protesto contra a pressão Houthi sobre seu governo. Foi a Al Qaeda no Iêmen que assumiu a responsabilidade pelo ataque ao jornal satírico Charlie Hebdo em Paris.

Acredita-se que os Houthis sejam financiados pelo Irã. Eles são dominados pelos zaiditas, membros de uma seita que é um ramo do Islã Xiita, a religião do Irã. Isso faz com que os Houthis sejam adversários da Al Qaeda, que considera que todos os muçulmanos xiitas são apóstatas — assim como muitos sauditas. Como a maioria dos iemenitas é de muçulmanos sunitas, a Al Qaeda vinha sendo capaz de capitalizar sobre a ascensão dos Houthis para conquistar a população preocupada com a sua dominância.

Os Houthis buscam diminuir as diferenças sectárias em seu país, além de atrair adeptos que não pertencem à minoria zaidita.

"Os Houthis não são o Hezbollah. Eles têm raízes muito profundas no Iêmen que datam de milhares de anos", disse Charles Schmitz, professor da Universidade Towson, em Maryland, referindo-se ao grupo apoiado por iranianos que domina o Líbano.

Os israelenses temem que um governo pró-iraniano em Sanaa poderia interromper as rotas marítimas do Mar Vermelho. Mas, até mesmo alguns deles têm uma reação menos intransigente à ascensão Houthi. "Às vezes nos vemos sem saber o que funciona melhor para nós. Qualquer aumento da influência iraniana é ruim para Israel. Por outro lado, eles combatem organizações associadas à Al-Qaeda", disse Giora Eiland, ex-conselheiro de Segurança de Israel.

Christopher Stevens, especialista em Relações Internacionais na Universidade Misericordia, na Pensilvânia, disse que foi dada muita atenção à oposição dos Houthis aos drones. Existem ainda cerca de 200 militares americanos no Iêmen, incluindo dezenas de treinadores e alguns poucos grupos que promovem ataques clandestinos contra membros da Al Qaeda na Península Arábica, disse um alto funcionário americano. A mais recente turbulência não afetou essas tropas ou sua missão, disseram autoridades americanas Um militar americano de alto escalão disse que o exército dos Estados Unidos estabeleceu laços de comunicação informal com oficiais Houthis.

Há evidências de que, nas próprias fileiras Houthis, existe um debate sobre como o grupo se relacionaria com os EUA caso tomasse o poder. "Achamos que as relações do Iêmen com os Estados Unidos devem ser de cooperação, como com qualquer país", disse no ano passado Ali Al-Bukhaiti, membro do partido Houthi.

Mona El-Naggar, Shuaib Almosawa, Kareem Fahim e Jodi Rudoren contribuíram

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