Um pedido do governo afegão para que as apresentadoras de televisão usassem véus na cabeça e evitassem maquiagem pesada enfureceu os jornalistas nesta terça-feira (14), que consideraram a medida uma prova de que as autoridades esperam que o Taliban recupere uma parcela do poder. Autoridades afegãs e norte-americanas estão buscando negociações de paz com o grupo islamista derrubado do poder há mais de uma década com o intuito de manter a estabilidade depois que as tropas estrangeiras deixarem o país, mas as conversas estão em um estado muito frágil.
Em uma carta distribuída à mídia, o Ministério da Cultura e Informação disse ter recebido reclamações de membros do Parlamento e de famílias de que as apresentadoras de programas de notícias não estavam observando a ética islâmica e cultural. "Todas as apresentadoras de notícias devem evitar maquiagem pesada e usar um véu", disse o ministro Sayed Makhdoom Rahin à Reuters por telefone, acrescentando que isso se aplicava às emissoras de televisão privadas e estatais. O pedido do ministério foi uma surpresa para parte da mídia afegã. Todas as âncoras dos programas apareceram com suas cabeças cobertas, o que provocou rumores de que a diretiva visava impressionar o Taliban, fazendo concessões a suas posições ultraconservadoras. "Já que estamos no início de conversas sérias de paz e reconciliação, o governo quer mostrar que é como o Taliban", disse Zarghoona Roshan, que durante 10 anos foi jornalista de rádio antes de entrar para o grupo de mídia Nai. "O próprio pedido é inútil", disse Roshan, ajustando seu véu negro e cinza. A Nai, que também rastreia as infrações da mídia, estima que existam cerca de 120 apresentadoras de televisão no país. O diretor-executivo da Nai, Abdul Mujeeb Khalvatgar, disse que o governo exerceu pressão ao longo de todo o ano passado para limitar o conteúdo e "manter o público longe dos fatos de que precisam".
"Nós nos preocupamos e tememos que essa pressão seja o início da limitação da mídia e que isso seja por causa do Taliban. Eles estão preparando o caminho para eles", disse. Khalvatgar citou vários exemplos de pressão sobre a imprensa no último ano, incluindo jogar ácido em um jornalista afegão veterano e proibir que uma novela turca fosse ao ar. Embora as mulheres afegãs tenham recuperado direitos básicos, como o de acesso à educação, de votar e de trabalhar desde que o Taliban foi derrubado em 2011, seu futuro permanece incerto enquanto autoridades afegãs e norte-americanas negociam com o grupo linha-dura. À medida que se aproxima o prazo de 2014 para que as tropas de combate estrangeiras voltem para casa, alguns ativistas dentro e fora do Afeganistão temem que os direitos das mulheres possam ser sacrificados na luta para garantir que o Ocidente deixa para trás um Estado relativamente estável e pacífico. As autoridades norte-americanas disseram na semana passada que queriam acelerar as conversas para que as negociações de paz possam ser anunciadas em uma cúpula da OTAN em maio. O anúncio do Taliban no mês passado de que estava abrindo um escritório político no Catar foi visto como um prelúdio para as conversas de paz.
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