Washington (AE) Sob pressão da direita e empenhado em reforçar seu cacife político junto aos conservadores na discussão da reforma das leis de imigração em curso no Congresso, a administração Bush sinalizou um forte endurecimento no tratamento dos 12 milhões de imigrantes ilegais no país na última quarta-feira com uma operação policial levada a cabo simultaneamente em 26 estados que resultou na prisão de 1.187 trabalhadores e de sete gerentes de uma única empresa a IFCO Systems North America, uma subsidiária de uma multinacional holandesa da área de logística de transportes que faturou US$ 576 milhões no ano passado. Na sexta, cerca de 300 dos detidos já haviam sido deportados para o México. Foi a maior operação do gênero da história dos Estados Unidos.
O secretário da Segurança Interna, Michael Chertoff, disse que a ação marcou o início de uma nova estratégia, pela qual o governo, em alguns casos, passará a tratar e combater a contratação de grandes números imigrantes ilegais por empresas como uma forma de crime organizado. "Vamos identificar essas organizações, usar inteligência para definir seus escopo e empregar todos os instrumentos que temos seja na justiça criminal, seja nas leis sobre imigração para reprimi-las com a maior dureza possível e quebrar essas organizações", afirmou Chertoff.
A ação contra a IFCO aconteceu apenas dias antes de o Senado americano retomar a discussão sobre uma reforma das leis de imigração que divide o Congresso e o país. Em dezembro passado, a Câmara de Representantes aprovou um projeto de lei que transforma em criminosos não apenas os imigrantes ilegais, mais também quem os protege e emprega.
Em resposta, os imigrantes ilegais e seus simpatizantes saíram às ruas, em gigantescas manifestações organizadas com o apoio da igreja católica que revelaram uma capacidade até então insuspeita de mobilização política e alteraram os termos do debate.
Um acordo bipartidário alcançado no Senado levou à aprovação, em comissão, de um projeto de lei que abre o caminho para que milhões dos imigrantes hoje em situação irregular possam tornar-se residentes legais e, mais tarde, cidadãos. Mas a proposta não chegou a ser votada em plenário e o debate deverá ser retomado a partir desta segunda-feira, quando os parlamentares retornam de duas semanas de recesso. As versões da reforma contempladas pela Câmara e pelo Senado são incompatíveis e dificilmente serão conciliadas num projeto de lei aceitável por maiorias nas duas casas.
Uma lei de 1986 estipula multa de US$ 10 mil por trabalhador para empregadores que conscientemente contratarem imigrantes que estão ilegalmente nos EUA. No entanto, a constante demanda por mão-de-obra em vários setores da agricultura, da indústria e do comércio fez com que a lei fosse aplicada apenas esporadicamente. Seu uso, porém, vem aumentando. No ano passado, 127 pessoas foram processadas e condenadas por empregar imigrantes.
Em 2004, esse número não chegara a 50. Os US$ 11 milhões em multas que a cadeia Wal-Mart pagou em 2005 por contratar imigrantes ilegais ultrapassaram o total cobrado de todos os infratores no ano anterior. Chertoff anunciou a contratação de 171 novos inspetores federais de empresas para reforçar o trabalho dos 325 já em ação. Ele informou, também, a formação de 17 novas equipes de investigadores, que elevará para 52 o número de times de agentes federais incumbidos de localizar, prender e expulsar dos EUA os 560 mil imigrantes que ignoraram ordens de deportação.