Declarando-se “bem ciente” de que WhatsApp é um aplicativo para mensagens privadas, funcionário da Casa Branca fez pressão por mais controle de informações específicas apresentadas aos usuários.| Foto: EFE/ Marcelo Sayão
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E-mails obtidos em um julgamento nos Estados Unidos revelam que, além de expandir a censura nas plataformas abertas em nome da segurança na pandemia, o governo americano também tentou fazer moderação de conteúdo sobre comunicações privadas no WhatsApp.

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O jornalista David Zweig examinou os e-mails e descreveu o conteúdo na plataforma de newsletters Substack. Dias após a posse de Joe Biden como presidente, em janeiro de 2021, funcionários da Casa Branca já estavam conversando com a Meta (empresa mãe do Instagram, Facebook e WhatsApp) para combater a “hesitação vacinal”, o receio de tomar as vacinas contra Covid-19. A grande diferença entre o WhatsApp e as outras propriedades da Meta é que 90% da comunicação no aplicativo é entre duas pessoas, segundo dados da própria empresa.

Em vários e-mails, Rob Flaherty, diretor de estratégia digital da Casa Branca, fala com os executivos da Meta a respeito das ações tomadas. “Quais intervenções vocês fizeram, quais vocês descobriram que funcionam e que não funcionam?”, perguntou ele em março de 2021. Na mesma mensagem, Flaherty fala em “reduzir danos” e “reduzir a exposição das pessoas” a informações. “Como nós nos preocupamos com a equidade e o acesso, o WhatsApp obviamente é uma parte central disso, dado o seu alcance nas comunidades de imigrantes” e de pessoas não-brancas, comentou.

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A insistência de Flaherty foi suficiente para que um funcionário da Meta precisasse explicar que o WhatsApp é um serviço de mensagens privadas, só podendo limitar funções como o encaminhamento de mensagens, sem discriminar por conteúdo. O funcionário da Casa Branca respondeu que estava “bem ciente” disso e acrescentou um emoji de sorriso. O aplicativo aplica o rótulo “encaminhado muitas vezes” em mensagens virais e proíbe compartilhamento delas em mais de uma conversa por vez. Isso “tem a intenção de reduzir a disseminação”, explicou no e-mail o representante da Meta. Usuários que disparam mensagens em massa ou cometem fraude são banidos, “incluindo aqueles que buscam explorar a desinformação sobre a Covid-19”.

Os e-mails de Flaherty pressionando por mais ação no WhatsApp se estenderam a maio de 2021, quando ele disse que o Facebook “ajudou a aumentar o ceticismo” contra as eleições presidenciais de 2020 e que foi na rede social que a insurreição de 6 de janeiro foi tramada. O conteúdo das mensagens sugere que ele não estava agindo sozinho, pois cita outros oficiais da Casa Branca.

Zweig não acredita que a Meta tenha cedido à pressão: “censura direcionada em um aplicativo de mensagens privadas ainda está fora de alcance para o governo” americano, na opinião do jornalista. O WhatsApp colaborou durante a pandemia com a Organização Mundial da Saúde, a Unicef e mais de cem governos e ministérios da saúde para mandar mensagens sobre a Covid e a favor das vacinas aos usuários. Mais de três bilhões de mensagens foram enviadas por programas robôs de conversação.

O aplicativo de mensagens privadas tem dois bilhões de usuários ativos mensais, acima das alternativas chinesas como WeChat, que somam cerca de 1,3 bilhão, segundo o site de curadoria de dados Statista. As redes sociais da Meta colaboraram com o Projeto Viralidade, uma parceria entre a Universidade Stanford, agências do governo americano e organizações não-governamentais muitas vezes financiadas com impostos. Os Twitter Files revelaram que o projeto recomendava a censura de informações sabidamente verdadeiras em nome de combater a hesitação vacinal.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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