Paris (AFP) O ministro do Interior da França, Nicolas Sarkozy, pediu ontem que sejam expulsos todos os estrangeiros condenados pelos distúrbios que afetam a França há 13 dias, enquanto o clima de tensão permanece no país. Sarkozy afirmou ter pedido aos prefeitos representantes do Estado nos departamentos e províncias que expulsem todos os estrangeiros condenados pelos distúrbios urbanos, "incluindo" os que têm permissão de residência. Até agora "120 estrangeiros, nem todos eles em situação irregular, foram condenados" por participar dos atos de violência nas últimas noites, disse o ministro na Assembléia Nacional (câmara baixa do Parlamento).
O anúncio foi feito depois de o governo ter declarado o estado de emergência nas zonas afetadas, medida que está valendo desde a zero hora de ontem e que, entre outras coisas, permite aos prefeitos impor o toque de recolher nos bairros, a fim de proibir que jovens menores de 16 anos saiam às ruas desacompanhados entre 22 horas e 6 horas (veja quadro abaixo). O nível de violência diminuiu na madrugada de ontem, em que foram registrados 617 veículos incendiados.
Várias cidades periféricas de Paris e do interior aplicaram severas medidas de controle para impedir a repetição dos graves incidentes, os piores registrados na França desde maio de 1968. O estado de emergência está valendo em 25 dos cem departamentos em que o país é dividido. Sarkozy determinou que os toques de recolher serão decretados "de forma proporcional à ameaça" e insistiu que a população deseja que o governo mostre "firmeza".
Pesquisa
Segundo uma pesquisa publicada ontem pelo jornal Le Parisien, 73% dos franceses apóiam a decisão do governo de impor o toque de recolher. Depois de sua implantação, a média de veículos destruídos foi reduzida praticamente à metade, destacou Claude Gueant, diretor do gabinete de Sarkozy. Em 13 noites de violência, foram detidas 1.800 pessoas, a maioria de origem africana, acrescentou. Delas, 106 foram condenadas a penas de reclusão.
Ainda que a oposição socialista apóie o toque de recolher, seu líder, François Hollande, lamentou ontem que esteja "predominando o aspecto do restabelecimento da ordem" em vez de uma solução mais definitiva para a integração social e a punição do preconceito. Hollande também lamentou o "silêncio" do presidente francês, Jacques Chirac, sobre o assunto. O estado de emergência, previsto numa lei de 1955, na época da Guerra da Argélia, foi a medida mais contundente do governo francês para sufocar as revoltas juvenis nos subúrbios do país, que já deixaram mais de 6,5 mil veículos incendiados, dezenas de policiais feridos e um civil morto.