Tegucigalpa - Forças de segurança cercaram ontem a Embaixada do Brasil em Honduras após entrarem em confronto com apoiadores do presidente deposto, Manuel Zelaya, que haviam se aglomerado em frente à representação na véspera para saudar o retorno do líder, deposto há 87 dias e refugiado no local desde então.
Utilizando bombas de gás lacrimogêneo, soldados e policias obrigaram cerca de 4.000 manifestantes pró-Zelaya a deixar os arredores da representação do Brasil em Tegucigalpa e ocuparam prédios contíguos, enquanto helicópteros sobrevoavam o local. Manifestantes reagiram atirando pedras, e ao menos 20 pessoas ficaram feridas.
Durante a madrugada, o governo golpista cortara água, luz e telefone da casa de dois andares que abriga a representação, deixando as estimadas 313 pessoas presentes depois reduzidas a 70 na dependência de um gerador de energia a diesel.
Ao menos duas bombas de gás lacrimogêneo foram jogadas contra a embaixada brasileira durante a dispersão, mas não houve relatos de feridos.
Em clima de tensão, durante o dia de ontem forças de segurança patrulharam ruas de Tegucigalpa para garantir o cumprimento do toque de recolher decretado pelo governo golpista.
Segundo a polícia, cerca de 150 pessoas foram presas por desrespeito ao toque de recolher e por participação em distúrbios -que incluíram ataque a veículos das forças de segurança e levados a um estádio de beisebol.
A emissora pró-Zelaya Canal 36 teve a energia elétrica cortada e não realizava transmissões desde a noite de segunda. Para o governo golpista, a imprensa realiza "terrorismo midiático.
O presidente deposto, que adotou o bordão "pátria, restituição ou morte, disse que o cerco à representação permitia "antever atos piores de agressão e violência, inclusive a invasão da embaixada do Brasil.
O líder golpista, Roberto Micheletti, rejeitou, porém, uma invasão: "Digo publicamente ao presidente Lula, respeitaremos sua sede, porque é terra do Brasil, e nós a respeitaremos.
Micheletti elogiou pedido de Lula a Zelaya para que não promova atos que deem argumentos a uma invasão, mas voltou a cobrar de Brasília que conceda asilo ao deposto o que Zelaya rejeita ou então o entregue à Justiça hondurenha para a realização do "devido processo.
O governo Micheletti rejeita a versão de que tenha destituído Zelaya por meio de golpe e acusa o deposto de ter desrespeitado a Constituição do país ao tentar levar a cabo uma consulta para promover referendo junto com a eleição do próximo dia 29 de novembro. Para o governo interino, a medida visava permitir a reeleição de Zelaya.
Em Nova Iorque, a chanceler de Zelaya, Patricia Rodas, disse que "a repressão visa o povo hondurenho e que, além dos feridos, "já estão por ser confirmadas mortes, entre as quais a de uma criança que aparentemente morreu devido à fumaça causada por gás lacrimogêneo.
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