O Cairo é uma cidade que tem o encantamento do Rio Nilo, seus históricos monumentos e minaretes, mas também enormes e complicados engarrafamentos, poluição e muitos bairros. Poderia esse lugar se livrar desses problemas se deixasse de ser a capital do Egito? Para acabar com o congestionamento, o governo estuda atualmente a criação de um novo centro administrativo. Os ministérios, prédios oficiais, casas de funcionários e embaixadas seriam transferidos a uma região ainda não especificada mais ao leste do Cairo, na estrada que leva ao Canal de Suez.
Um porta-voz do Minis-tério da Habitação explicou que essa iniciativa, que poderia ser concluída em dois anos por US$ 200 milhões, é apenas uma possibilidade sobre a qual não há nada decidido. Contudo, seu anúncio coincide com o interesse mostrado pelo presidente do país, Abdel Fatah Khalil al-Sisi, em descentralizar o Estado e criar novas divisões territoriais para desenvolver todo o país. Com a proposta de uma capital alternativa ao Cairo, as autoridades recuperaram parte de um projeto que incluía essa e outras ideias para melhorar a qualidade de vida na cidade, e que data de tempos de Hosni Mubarak, mais precisamente de 2007, sob o sugestivo título "Cairo 2050".
Não é um exemplo de ficção científica, mas quase. Bulevar na avenida que leva às Pirâmides de Gizé, arranha-céus, jardins nas margens do Nilo e polos recreativos em áreas carentes faziam parte do projeto original. Seu objetivo se parece com o de outras metrópoles como Paris, Tóquio ou Abu Dhabi, que criaram grandes planos urbanísticos de longo prazo, apesar de a capital egípcia enfrentar problemas estruturais próprios que complicam qualquer remodelação. "Esses tipos de planos só existem no papel e não podem ir para frente enquanto não seguirem os procedimentos legais", como ter a aprovação do parlamento ou do Executivo, afirmou o principal assessor estratégico da ONU-Habitat no Egito, Basim Fahmi.
Fahmi acrescentou que os bairros pobres sem serviços básicos que rodeiam a capital se multiplicaram, acolhendo 40% dos residentes do Cairo, enquanto as cidades satélite - construídas nas últimas décadas, principalmente para os mais endinheirados - concentram menos habitantes do que o planejado. "Trata-se de pensar no futuro", sustentou o assessor, que cita Londres como exemplo de cidade moderna que não tem nada a ver com o que era no século 19.
Mudança pode aliviar cargas, diz urbanista
No caso do Cairo, a cidade mais povoada do Oriente Médio que em sua longa história já passou pelas mãos de fatímidas, mamelucos, otomanos e demais povos, outra capital poderia aliviar suas cargas. Assim acredita o professor de Planejamento Urbano da Universidade de Alexandria Mohsen Zahran, que em artigo publicado na revista Al-Ahram lembra que Brasília, Washington DC, Ottawa e Ancara serviram aos interesses governamentais sem obstruir o desenvolvimento das grandes cidades de seus respectivos países.
Para Zahran, as novas localidades deveriam estar longe das antigas para serem independentes e autossuficientes. "Quando as novas são construídas perto, se transformam em cidades dormitório vazias durante o dia, com milhares de casas sem ninguém morando", destacou Zahran. Um conselho que o governo ainda pode aplicar caso siga adiante com sua proposta de instituir uma nova capital para o Egito.