Um país tem os líderes que merece? Se é assim, o que tem a dizer a atual desordem política no Reino Unido? Ou será que as condições da democracia moderna garantem a ascensão de mediocridades ambiciosas e líderes sem poderes de liderança?
Desde o começo, nas negociações do Brexit – a saída do Reino Unido da União Europeia -, a primeira-ministra Theresa May, que já havia provado sua fraqueza e incompetência no Home Office, o Ministério do Interior britânico, mostrou a visão de um Chamberlain (o primeiro-ministro que assinou, em 1938, o Acordo de Munique, que fortaleceu a posição de Hitler às vésperas da Segunda Guerra Mundial) , em vez de ser um Churchill.
Deveria ter sido óbvio para ela - como deveria ter sido óbvio para Neville Chamberlain que Hitler não era um político comum - que era essencial, na verdade uma questão de vida ou morte, que a União Européia fizesse do Brexit um desastre para a Grã-Bretanha porque não for assim, seria um desastre para a União Europea.
Um Reino Unido próspero fora da União Europeia teria destruído a razão de ser do bloco. Emmanuel Macron, presidente da França, chegou a afirmar que, se a França tivesse realizado um referendo no mesmo tempo que o Reino Unido, o resultado seria favorável à retirada, com um percentual maior do que foi registrado entre os britânicos. O Brexit foi, portanto, uma oportunidade para os políticos europeus demonstrarem que, por mais insatisfatória que a UE possa ser, a vida seria pior sem ela.
Liderança falha
O problema de May era que o partido que ela liderava estava dividido em relação ao Brexit. Foi justamente neste ponto em que a liderança foi mais necessária e mais falha. Sua fraca ideia era tentar satisfazer as duas alas de seu partido por meio de compromissos, o que previsivelmente não agradava a nenhum dos dois lados. Agora ela não agrada praticamente a ninguém, mas se apega ao poder, como um marinheiro naufragado segurando uma jangada.
Os perigos que o país enfrenta como resultado deste desastre são enormes. O único político com alguma visão é deputado Jacob Rees-Mogg, mas ele sofre de três desvantagens: ele é moralmente conservador em um país de libertinos; fez fortuna em um país no qual a maioria das pessoas odeia quem tem mais dinheiro; e ele é da classe alta, sem arrependimento, em um país onde até mesmo os bem-nascidos fingem ser proletários. Defensor de uma ruptura clara com a UE, ele poderia não ser capaz de unir os conservadores por trás dele, e mesmo se o fizesse, ele quase certamente teria que enfrentar o funcionalismo público, que desde o primeiro foi resolutamente anti-Brexit.
E mesmo que os conservadores se unam, o Reino Unido enfrenta um perigo maior, mais perigoso do que qualquer forma de Brexit: um governo liderado por Jeremy Corbyn, do Partido Trabalhista. Se uma eleição fosse realizada amanhã, este admirador de Hugo Chavez e do Hamas e companheiro de viagem de terroristas, cujas ideias políticas continuam sendo as de um radical estudantil dos anos 70, seria eleito. Talvez ele não durasse muito no cargo, mas não levaria muito tempo para causar danos irreparáveis .
*Theodore Dalrymple é editor colaborador de City Journal
©2018 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês