A Irmandade Muçulmana, grupo que alçou ao poder o atual presidente, Mohamed Mursi, confirmou sua participação nos diálogos entre governo e oposição mediados pelo Exército do país, marcados para ocorrer nesta quarta-feira (12).
Nesta terça (11), Mursi aprovou uma solicitação do Exército para organizar um diálogo de unidade nacional como tentativa de pôr um fim à crise política que o país vivencia.
"O convite deixa claro que vem do Exército com a permissão do presidente. Se qualquer um é convidado, eu não acho apropriado recusá-lo", afirmou o porta-voz do grupo, Mahmoud Gozlan.
Já a Frente de Salvação Nacional, principal coalizão oposicionista, ainda não se posicionou sobre a proposta. "Ainda não recebemos nenhum convite do Exército, mas, se houver um, a frente se reunirá amanhã [quarta] às 11h [horário local], para decidir nossa posição", afirmou o político Hamdim Sabbahi, um dos líderes do grupo.
"O Exército egípcio é altamente valorizada entre a sociedade. Nós o respeitamos, bem como seus esforços, mas, se esse convite não tiver uma agenda clara, então receio que [o diálogo] será um exercício de relações públicas e eu não vejo nenhum motivo para comparecer", disse Sabbahi.O ministro da Defesa, no entanto, afirmou que o diálogo não pretende incluir questões políticas, como o referendo constitucional, prestes a ser votado no país, mas fazer com que membros das diferentes facções "sentem-se juntos, como egípcios".
Manifestações
Hoje, milhares de manifestantes voltaram a se reunir nas ruas do Cairo em atos contra e a favor do governo. Oposicionistas chegaram a romper uma barreira do lado de fora do palácio presidencial, mas não houve registro de episódios violentos.Os ânimos têm se acirrado com a aproximação da data para o referendo de ratificação da nova Constituição, convocado por Mursi para o dia 15. O presidente solicitou ao Exército ajuda para manter a ordem e deu aos militares a autorização de prender civis até a data do pleito.
A crise politica fez com que o Egito pedisse o adiamento de um empréstimo de US$ 4,8 bi requisitado ao FMI. No domingo, Mursi havia determinado o aumento de impostos sobre produtos, uma das condições para que o país recebesse a ajuda financeira, mas a decisão foi suspendida temporariamente para evitar o agravamento dos protestos.
Histórico
O Egito é palco de protestos diários e multitudinários favoráveis e contrários ao presidente Mohamed Mursi há duas semanas. Os problemas começaram em 22 de novembro, quando Mursi assinou decretos que lhe deram "superpoderes", na medida em que eximem qualquer decisão sua de análise judicial.
Magistrados reclamaram, e Mursi chegou a se reunir com eles, mas não alterou os textos. O presidente se defendeu, dizendo que os decretos visavam apenas proteger a elaboração da nova Constituição.No último dia 30, o texto foi aprovado, porém a assembleia constituinte estava dominada por islamistas pró-Mursi. Antes, os legisladores liberais e católicos tinham deixado as suas cadeiras, sob a alegação de que a maioria islamita não os deixava trabalhar.
Entre as cláusulas que geraram incômodo estão a que preserva boa parte dos poderes que o Exército tinha na era Mubarak, como aprovar o orçamento militar sem a supervisão do Parlamento. Outro ponto controverso do esboço aprovado ontem é a inexistência de garantias explícitas dos direitos das mulheres.
Entre pontos vistos como positivos está a limitação do mandato presidencial a no máximo dois períodos de quatro anos. No começo desta semana, Mursi assinou o texto aprovado e marcou para o próximo dia 15 o referendo que é necessário para colocá-lo em vigor, gerando revolta.
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