O Irã garante que sua política nuclear não vai mudar após as eleições presidenciais desta sexta-feira (18), mas as potências ocidentais temem que a chegada de um político radical ao poder impeça as negociações para restaurar o acordo de 2015.
Desde abril, quando a atual série de negociações começou em Viena, na Áustria, o objetivo declarado entre as partes era tentar chegar a um pacto antes da eleição presidencial, na qual o clérigo ultrarradical e chefe do Judiciário Ebrahim Raisi é o favorito.
No último sábado (12), a sexta rodada de negociações entre o Irã e os outros cinco membros do acordo nuclear (Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha), da qual os Estados Unidos participam indiretamente, teve início com a esperança de que seria a última, mas tudo indica que o imbróglio será prolongado.
Resultado no horizonte
"Minha previsão é de que pelo menos mais uma vez a conclusão das negociações terá que ser transferida para as capitais. Não creio que alcançaremos um resultado final nesta rodada", disse o negociador-chefe iraniano e vice-ministro das Relações Exteriores, Abbas Araqchi.
Uma opinião semelhante foi dada pelo embaixador russo na ONU em Viena, Mikhail Ulyanov, que comentou que "ainda há diferenças" e que "serão necessárias mais algumas semanas" para finalizar o texto do eventual acordo.
Os países que participam dessa tentativa de pacto estão tentando encontrar uma forma de que os EUA, que saíram das negociações em 2018, e o Irã, que começou a violar suas obrigações nucleares um ano depois, em retaliação às sanções americanas que recebeu, voltem ao diálogo.
O Irã afirma que voltará a cumprir todos os seus compromissos quando as sanções dos EUA forem revogadas e que essa decisão está acima do resultado das eleições presidenciais, ficando a cargo do líder supremo do país, Ali Khamenei.
"As conversas em Viena não serão afetadas de forma alguma pelas eleições e terão o resultado desejado de acordo com a estrutura das políticas gerais do sistema e sob o comando do líder", reiterou recentemente o porta-voz do governo iraniano, Ali Rabii.
O porta-voz também afirmou que a questão nuclear é "um arquivo nacional e consensual" e que qualquer decisão tomada pelo sistema iraniano de poder "será respeitada pelo próximo governo", numa tentativa de afastar a preocupação do Ocidente.
Preocupação essa que é "infundada", segundo o analista político iraniano Youssef Moulai, porque "todos sabem que as decisões relativas à questão nuclear não são tomadas em nível governamental, mas em nível de sistema, e as eleições não têm muita influência".
Este professor de Direito Internacional da Universidade de Teerã disse à Agência Efe que é "muito alta" a possibilidade de se chegar a um acordo ou "pelo menos abrir caminho" antes do final do mandato do atual governo de Hassan Rohani, em agosto.
Em caso de atraso, Moulai salientou que "o Irã já apresentou suas máximas exigências" nas negociações e que a eventual vitória do ultrarradical Raisi "não trará grandes mudanças na estratégia".
Ele até apostou na continuação de pelo menos parte da atual delegação negociadora. "A equipe inteira não vai mudar, uma ou duas das pessoas mais decisivas, como Araqchi, acompanharão a nova equipe", afirmou.
O Ocidente está especialmente preocupado com o fato de o Irã estar enriquecendo urânio até uma pureza de 60%, bem acima do nível permitido (3,67%) e próximo do necessário para fabricar bombas nucleares.
Também são preocupantes os limites impostos às inspeções internacionais.
Acusações entre os candidatos
Raisi garantiu durante a campanha que seu governo estará "comprometido" com as negociações "como um contrato e uma obrigação" e que é "o dever de todo governo lutar para revogar as sanções" dos EUA.
Entretanto, o candidato moderado e ex-governador do Banco Central, Abdolnaser Hemmati, enfatizou que "se o poder cair nas mãos dos radicalistas", cujo expoente principal é Raisi, haverá "novas sanções com um consenso global mais forte".
Em resposta, Raisi opinou que Hemmati e os líderes do atual governo não implementaram o acordo nuclear como o líder supremo queria e que seu concorrente não será capaz de fazê-lo, porque isso requer "uma administração forte".
Na última terça-feira, Hemmati declarou que dá "grande importância à interação com o mundo" e que espera que o atual governo consiga remover as sanções "o mais rápido possível".
O presidente Rohani também manifestou esperança de que "as questões restantes em disputa sejam resolvidas" e que ele seja capaz de entregar o poder à próxima gestão "sem as sanções".
Para o analista consultado pela Efe, existe vontade política de resolver a disputa nuclear, e isso deve ser feito "no menor tempo possível".
"Prolongá-la seria em nosso prejuízo, nós somos os sancionados", acrescentou.