Divisões
O presidente do Parlamento da Líbia, Nouri Abu Sahmein, ordenou ontem que as milícias dirigidas por islamitas se mobilizem para impor o controle na capital Trípoli depois de forças leais a um general invadiram o edifício-sede do Poder Legislativo no domingo. Nos últimos três anos, várias milícias tomaram conta da Líbia, algumas delas com ideologias extremistas próximas à Al-Qaeda. O governo central quase não exerce autoridade e as Forças Armadas e a polícia seguem deterioradas desde a guerra civil que derrubou Muamar Kadafi.
General
A rebelião do general Khalifa Hifter ameaçar expor as divisões que marcam a nação desde a deposição e morte do ditador Muamar Kadafi. Na semana passada, ele colocou-se como um nacionalista disposto a restaurar a ordem no país e prometeu esmagar os islâmicos, acusando-os de tomar o controle do país e abrir a porta para os extremistas de inspiração da Al-Qaeda. O general apoiava Kadafi, mas rebelou-se contra o ditador em 1980 e morou nos Estados Unidos durante anos, até que voltou a juntou-se a revolta que o derrubou em 2011.
O governo da Líbia propôs ontem à Assembleia Legislativa a realização de eleições parlamentares antes de 15 de agosto e a busca de um "consenso nacional" para superar a profunda crise que o país atravessa. Após destacar "o perigo da atual etapa da história líbia", o Executivo apresentou uma "iniciativa nacional" que inclui uma repetição da votação parlamentar para confirmar Ahmad Maitiq como primeiro-ministro.
Maitiq foi eleito pelos legisladores em 4 de maio chefe do governo em uma escolha carregada de polêmica e que muitos deputados contestaram. O presidente do parlamento, Nouri abu Sahmin, teve de desautorizar o vice-presidente, Azeldin al Awani, que havia invalidado a designação de Maitiq.
A iniciativa governamental diz que caso Maitiq não receba apoio suficiente, em uma votação secreta, o atual gabinete liderado por Abdallah Al-Thani, que apresentou sua renúncia em 13 de abril após sofrer um atentado do qual saiu ileso, siga dirigindo o país.
Medidas
O Executivo também sugeriu ao parlamento que, após sua próxima sessão, na qual está prevista escolha do primeiro-ministro e que se aprove o orçamento do Estado, seja realizada um período de descanso até a eleição do próximo Congresso Nacional geral, que deverá ser realizada antes de 15 de agosto.
Além disso, o Executivo se mostrou a favor de criar uma "comissão ministerial" para entrar em contato com "todas as formações armadas" para alcançar um acordo nacional que inclua o compromisso de não violência contra os próprios líbios.
Ataques
A proposta do Executivo coincide com um momento de grande tensão no país. Na sexta-feira passada, o general reformado Jalifa Hafter, ao comando de homens armados e militares fiéis, lançou um ataque contra vários quartéis de milícias em Benghazi, a segunda maior cidade do país. 70 pessoas morreram e 141 ficaram feridas.
No domingo, duas milícias da cidade de Zintan, situada ao sudoeste de Trípoli, atacaram a sede do parlamento e espalharam caos pela capital do país.
Líder militar se une a rebeldes contra milícias
O chefe das Forças Especiais líbias, Wanis Abu Hamada, anunciou ontem, em Benghazi, seu ingresso nas fileiras lideradas pelo general rebelde Jalifa Hafter, acusado pelo governo de Trípoli de golpista. Em entrevista coletiva transmitida pela televisão, Abu Hamada assegurou que se unirá à "operação Al Karama (dignidade)", lançada por Hafter na sexta-feira passada contra várias milícias armadas de Benghazi, a segunda maior cidade do país.
Abu Hamada ressaltou que as Forças Especiais estão "com o povo e com a Batalha da Dignidade". Segundo ele, o objetivo da operação é combater o fenômeno dos "grupos armados takfiríes", extremistas islâmicos que consideram apóstatas o resto dos crentes.
Na sexta-feira, o general reformado Jalifa Hafter, que participou de 2011 do levantamento popular armado contra a ditadura de Muammar Kadafi, atacou os quartéis de várias milícias em Benghazi.