Foz do Iguaçu - Pressionado pelo movimento dos sem-terra, o governo paraguaio iniciou ontem a recuperação de terras destinadas ao novo plano de reforma agrária do país. Cerca de 380 hectares que, segundo o governo, estavam irregularmente em poder de um fazendeiro paraguaio e de um colono brasileiro foram desapropriados. Os terrenos serão distribuídos para agricultores sem-terra.
Há uma semana, campesinos do departamento de San Pedro ameaçavam invadir fazendas de brasiguaios caso eles não deixassem as terras até ontem.
Os 400 mil sem-terra paraguaios apoiaram a eleição de Lugo, mas pressionam por providências contra a concentração de propriedades sob posse dos brasiguaios, responsáveis por cerca de 60% da produção de soja local, a quarta maior do mundo.
Alberto Alderete, diretor do estatal Instituto de Desenvolvimento Rural e da Terra (Indert), confirmou que a propriedade de um brasiguaio foi retomada ontem, mas não soube precisar a identidade dele. "Os estrangeiros que obtiveram a titulação de suas propriedades antes de 29 de dezembro de 2004 não serão desalojados", garantiu Alderete.
Reintegração
Uma outra ação da polícia paraguaia prendeu ontem cerca de 100 supostos sem-terra que ocupavam uma propriedade rural particular em Cedrales, município a 90 quilômetros da fronteira com Foz do Iguaçu, no Oeste do estado. O grupo teria ocupado a área de 16 mil hectares em agosto, quatro dias depois de ter sido expulso das terras de propriedade da companhia alemã IVP-Agrosol S.A. A operação contou com 250 soldados.
Os invasores não ofereceram resistência ao cumprimento da ordem de desocupação. Apesar das informações que indicavam pelo menos 700 famílias o equivalente a 2 mil pessoas vivendo no local, os soldados surpreenderam apenas pouco mais de 100 colonos, todos levados para a Penitenciária Regional de Ciudad del Este. Parte das terras já vinha sendo preparada para o cultivo.
Segundo o promotor estadual Troadio Galeano, a IVP-Agrasol S.A. havia cedido mais de 3 mil hectares para serem desapropriados; no entanto, o governo teria pago o equivalente à metade do valor proposto. Segundo o advogado da multinacional, Luis González, a propriedade invadida há mais de dois meses é arrendada a vários produtores que, por causa da ocupação irregular, estão impedidos de continuar com o cultivo de soja.
Héctor Cristaldo, presidente da União de Grêmios da Produção, assegurou que "faz um mês os colegas do Alto Paraná não podem colher 80 mil hectares de soja, porque os campesinos proíbem que os operadores de tratores realizem seu trabalho".