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O governo da Argentina denunciou organizações sociais pela suposta prática de extorsão e fraude ao Estado na gestão dos planos de assistência estatal e exige que 14 associações paguem 60 milhões de pesos (R$ 365 mil) pelos custos da operação de segurança da última quarta-feira (20), dia da primeira mobilização contra o Executivo de Javier Milei.
“Apresentamos queixa na Justiça Federal pelos crimes de extorsão e fraude ao Estado na gestão de planos sociais”, declarou nesta sexta-feira o porta-voz da presidência argentina, Manuel Adorni, na sua coletiva de imprensa matinal na Casa Rosada (sede do governo).
Segundo Adorni, as autoridades identificaram e denunciaram 32 pessoas pertencentes a diferentes organizações sociais que convocaram a marcha contra o plano de choque econômico do governo.
A denúncia foi apresentada depois de o governo ter disponibilizado dias atrás uma linha telefônica para tramitar denúncias de ameaças de dirigentes sociais contra beneficiários de planos assistenciais, que teriam sido obrigados a participar do protesto sob a ameaça de não receberem ajuda caso não o fizessem.
A linha recebeu 15,9 mil chamadas, das quais 1,1 mil “se enquadram nessa tipologia” de crime, segundo as autoridades.
Além disso, serão cobrados das organizações sociais os custos da operação de segurança implementada para controlar o protesto de quarta-feira, durante o qual cerca de 3 mil pessoas marcharam pelo centro da capital argentina para expressar sua rejeição às políticas de ajuste e cortes nos gastos públicos do governo Milei.
De acordo com um relatório do Ministério da Segurança, 14 organizações sociais serão instadas a pagar 60 milhões de pesos pelo dispositivo implantado. O valor a ser cobrado corresponde ao consumo de combustível e à “média de horas-homem” utilizadas na operação, da qual participaram integrantes da Polícia Federal e da Gendarmaria.
“Essa será a fatura que passaremos às organizações sociais. Vamos intimá-los para que se encarreguem desse gasto que não corresponde aos cidadãos”, declarou Adorni.
Questionado sobre a possível convocação de greve geral por parte da Confederação Geral do Trabalho (CGT, sindicato peronista), o porta-voz da presidência destacou que para o governo não é um “fato certo” que possa haver uma greve geral por parte dos principais sindicatos do país.
Segundo afirmou, o Executivo mantém “canais de diálogo permanentemente abertos”.
Depois de tomar conhecimento na noite de quarta-feira passada do Decreto de Necessidade Urgente (DNU) com o qual Milei pretende lançar as bases para a reconstrução da Argentina através da desregulamentação econômica e da reversão do déficit fiscal, as vozes de rejeição ao plano se intensificaram, uma vez que as confederações trabalhistas consideram que as medidas do Executivo cortam direitos sociais e trabalhistas.
A peronista CGT, que até agora permaneceu fora das mobilizações, convocou uma marcha para quarta-feira, 27 de dezembro, na qual exigirá a revogação do decreto, que foi publicado no Diário Oficial, mas sem a data da entrada em vigência.