Homicídio
Em meio a crise, país retoma julgamento do ex-presidente Mubarak
A Justiça do Egito retomou na sexta-feira o julgamento do ex-ditador Hosni Mubarak, acusado de homicídio durante a revolta que o derrubou, em 2011. A audiência, à qual o mandatário não foi, acontece em meio à crise entre islamitas e o governo interino no país, que deixou mais de 700 mortos em três dias.
A sessão, que é a quinta do processo, foi transmitida ao vivo pela televisão estatal egípcia. O juiz responsável pelo caso, Mahmoud el-Rashidi, atribuiu à tensão política no país a ausência de Mubarak e seus dois filhos, Alaa e Gamal. Na mesma ação, também foi processado o ex-ministro do Interior, Habib al Adli.
Durante a audiência, o juiz ouviu os pedidos da defesa para que sejam feitas investigações mais profundas para apurar a responsabilidade dos réus. Para isso, o juiz deu até a próxima quarta-feira para que sejam apresentadas as provas, a serem avaliadas em uma sessão no próximo dia 25.
Este é o segundo julgamento ao qual Mubarak é submetido por envolvimento nas mortes provocadas pela polícia durante as revoltas.
173 mortos
...foram contabilizados em todo o Egito entre sexta-feira e ontem, durante confrontos entre forças de segurança e manifestantes. O Ministério do Interior do Egito informou ainda que as forças de segurança detiveram aproximadamente mil membros da Irmandade Muçulmana, além de terem apreendido uma quantidade considerável de armas e munição.
O primeiro-ministro interino do Egito, Hazem el-Beblawi, propôs ontem a dissolução da Irmandade Muçulmana no país. A entidade, à qual o presidente deposto Mohammed Mursi é vinculado, afirma ter sofrido um golpe de Estado e se recusa a negociar com o governo provisório.
O movimento islâmico também convocou uma série de protestos desde julho contra a retirada de Mursi e montou dois acampamentos no Cairo. Eles foram desmontados na última quarta-feira em uma ação policial que terminou em confronto e levou a um massacre que deixou mais de 600 mortos.
Em repúdio à operação coordenada pelo governo interino, os islamitas convocaram na sexta-feira uma onda de protestos, chamada "dia de fúria". Houve novos confrontos nas manifestações, que deixaram 173 mortos e 1.330 feridos em todo o país, segundo o Ministério da Saúde.
A proposta de dissolução da Irmandade Muçulmana foi feita pelo chefe de governo ao Ministério de Assuntos Sociais, responsável por licenciar entidades não governamentais. De acordo com o porta-voz da pasta, Sharif Shawky, o pedido está em estudo. "A reconciliação está aí para aqueles cujas mãos não estão sujas de sangue", disse Shawky, em crítica ao movimento, considerado pelo governo interino como responsável pelas mortes durante a ação militar de quarta e os protestos de sexta.
A Irmandade Muçulmana foi registrada como organização não governamental em março, em resposta a um processo legal movido por opositores ao grupo que contestavam sua legalidade. Foi a primeira vez que o movimento islâmico conseguiu o reconhecimento do governo.
O grupo, fundado em 1928, foi dissolvido em 1954 pelo regime militar egípcio e considerado ilegal até o início deste ano, quando o país era governado por Mursi. Seu braço político, o Partido Liberdade e Justiça, foi estabelecido em 2011, após a queda do ditador Hosni Mubarak.
Mesquita
Segundo o Ministério da Saúde, 95 das 173 pessoas mortas em todo o país estavam na praça Ramsés, palco do maior ato dos islamitas contra o governo interino no Cairo na quinta-feira. Outras 596 pessoas ficaram feridas na ação. No entanto, a Irmandade Muçulmana afirma que os mortos passaram de cem.
Parte dos corpos está na mesquita de Al Fath, perto da praça, que foi usada pelos islamitas como hospital e necrotério improvisados durante a manifestação. Ontem, houve relatos de troca de tiros entre os manifestantes remanescentes e a polícia do lado de fora do templo.
Irmão do líder da Al-Qaeda é preso durante blitz
As forças de segurança do Egito afirmaram ontem que prenderam um irmão de Ayman al-Zawhari, líder da rede terrorista Al-Qaeda. Segundo as autoridades, Mohammed al-Zawhari foi detido em uma blitz no bairro de Gizé, no Cairo.
Ele é acusado de envolvimento nos últimos ataques a militares na cidade de Al Arish, na Península do Sinai. A entidade, que chefia o grupo radical islâmico Jihadi, é uma das que operam na região.
A área, que faz fronteira com Israel, é alvo de uma operação do Exército contra radicais islâmicos, iniciada em junho. As ações dos grupos radicais aumentaram após a deposição do presidente islamita Mohammed Mursi, que foi retirado do poder pelos militares em 3 de julho.