Egípcios protestam no centro do Cairo para exigir democracia no país, que é governado por uma junta militar desde a queda do ditador Hosni Mubarak| Foto: Khaled Desouki/AFP

Emergência

Militares convocam reunião com forças políticas

O Conselho Supremo das Forças Armadas (CSFA), no poder no Egito desde a queda do presidente Hosni Mubarak, em fevereiro passado, convocou na noite de ontem as forças políticas para uma reunião de emergência, no terceiro dia de sangrentos confrontos no país.

O CSFA "convoca urgentemente todas as forças políticas e nacionais ao diálogo para examinar as causas que agravaram a atual crise e os meios para se encontrar uma saída, o quanto antes, para se preservar a paz nacional", assinala o comunicado.

O Conselho exorta "o conjunto das forças políticas e nacionais, e a todos os cidadãos, a se comprometer com o restabelecimento da calma e a criar um clima de estabilidade através de um processo político destinado a instaurar um regime democrático".

A reunião ocorre após o Conselho Supremo das Forças Armadas rejeitar a renúncia do governo do primeiro-ministro, Esam Sharaf, reagindo ao anúncio do porta-voz do gabinete, Mohamed Hijazi, sobre a saída do governo devido a "circunstâncias difíceis que o país enfrenta atualmente".

Os manifestantes exigem o fim do governo militar que se instalou após a renúncia do ditador Hosni Mubarak.

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O governo provisório do Egito renunciou ontem após três dias de manifestações no Cairo contra a junta militar que comanda o país desde a renúncia do ditador Hosni Mubarak (1981-2011), em fevereiro. Ao menos 24 manifestantes já morreram, mas o número pode passar de 30.

Até a noite de ontem não estava claro se o Conselho Supremo das Forças Armadas aceitou a re­­núncia do gabinete do premiê Essam Sharaf.

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O clima de violência e instabilidade coloca em risco as eleições parlamentares marcadas para se­­gunda-feira que vem. Alguns candidatos já anunciaram a suspensão de suas campanhas.

A notícia da queda do gabinete não acalmou os ânimos dos 10 mil manifestantes que ocupam a Praça Tahrir desde a última sexta-feira. Eles encaram o governo de Sharaf como uma fachada da junta militar, incapaz de fazer reformas democráticas.

Os protestos começaram, sob influência da Irmandade Muçul­­mana, depois que o conselho militar divulgou uma carta de princípios para a nova Constituição.

O documento garante certas liberdades individuais, mas também dá poder quase ilimitado aos militares e os isenta de controle civil.

A junta militar assumiu o po­­der em fevereiro prometendo pas­­sá-lo a um governo civil em seis meses. Porém, hoje afirma que a passagem de poder só acontecerá após uma eleição presidencial que pode ocorrer em 2012 ou 2013.

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Na semana passada, os manifestantes exigiam que os militares marcassem a data da passagem de poder.

Porém, após a escalada da violência no fim de semana – quando forças de segurança passaram a atacar hospitais improvisados pe­­los manifestantes – a exigência passou a ser a queda imediata do governo militar.

A estimativa de vítimas varia entre 24 e 33 mortos. E os feridos nos confrontos chegam a 1.500.

"O povo quer a queda do marechal de campo", gritavam os ma­­nifestantes em referência a Hus­­sein Tantawi, o líder do conselho militar.

"Não sairemos da praça até que seja formado um governo de salvação nacional que seja representativo e acumule toda responsabilidade", disse o ativista Rami Shaat.

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Ontem, a Casa Branca afirmou que "a erupção da violência no Egi­­to não deve atrapalhar as eleições e uma rápida transição para a democracia". "Estamos profundamente preocupados com a violência. Nós pedimos que ambas as partes mostrem moderação", disse Jay Carney, porta-voz do De­­partamento de Estado do governo norte-americano. A Liga Árabe pe­­diu calma aos manifestantes e tam­­bém moderação à junta militar.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu que os militares protejam direitos humanos e liberdades individuais – inclusive o direito de fazer manifestações pacíficas.