Governo reage após declarações da filha de Pinochet sobre abuso de poder

Santiago do Chile – Após permanecer dois dias na prisão, a filha do ex-ditador chileno Augusto Pinochet, Lucía Pinochet Hiriart, criticou o governo e o juiz que processou sua família por mau uso de fundos públicos, informou ontem o jornal La Tercera. "Tenho fé que em breve deverá deixar o poder essa ideologia que corrói a integridade fiscal e contaminou o Judiciário em termos que a levam a cometer abusos como este, do qual somos vítimas", disse.

A respeito, o ministro porta-voz do governo chileno, Ricardo Lagos Weber, reiterou que os tribunais de Justiça são independentes e ressaltou que o processo judicial da família Pinochet foi transparente. "Vamos respeitar as decisões do Poder Judiciário. Custou muito tempo para ter um Poder independente e que tivesse os níveis de legitimidade que tem atualmente", disse Weber.

Acrescentou que "aqueles que se dizem presos políticos ou perseguidos politicamente – em referência à família Pinochet – tiveram um julgamento com um magistrado que todos conhecemos, com resoluções que são apeláveis, que são cobertas por todos os meios de comunicação e que os afetados têm direito de falar". "Acho que é muito mais do que tiveram milhares de chilenos durante a longa noite vivida no Chile durante o regime do general Pinochet", afirmou o ministro.

Os cinco filhos de Pinochet, além de sua viúva, Lucía Hiriart, e outros 17 ex-colaboradores, conseguiram no sábado a liberdade provisória, mediante pagamento de fiança, após serem processados na quinta-feira pelo juiz Carlos Cerda, que investiga a origem de sua fortuna. "Aqueles que aplaudem nossa prisão são os mesmos que, segundo as pesquisas, perdem aceleradamente o apoio popular", afirmou a filha de Pinochet, em referência ao respaldo de 35% para o Governo da presidente socialista Michelle Bachelet. "Não duvido de que, muito em breve, os tribunais nos darão razão e nos eximirão de responsabilidade perante todas estas absurdas acusações", acrescentou.

Na declaração, a filha mais velha do ex-ditador afirma que estas ações judiciais buscam "diminuir aos olhos da história o Governo que salvou o Chile em sua hora mais obscura". Lucía Pinochet disse que a distinção que o juiz Cerda receberá nos Estados Unidos por seu trabalho em defesa dos direitos humanos "também os transformou (à família Pinochet) em presos políticos no mais genuíno sentido desta expressão". Cerda afirmou na noite de sábado, antes de viajar aos Estados Unidos, que "entende a dor" da família Pinochet, pois de certa forma a compartilha.

A Corte de Apelações de Santiago concedeu neste sábado a liberdade provisória para a família do ditador e aos 17 colaboradores do falecido general, com o pagamento de uma fiança. No entanto, a 5.ª Vara do Tribunal de Alçada adiou para hoje a audiência dos amparos apresentados pela defesa dos processados para anular o processo por desvio de recursos públicos.