Confrontos entre policiais e manifestantes seguem nesta terça-feira (4) na capital Istambul| Foto: Reuters/Osman Orsal

Entenda os protestos na Turquia

O que começou com um protesto pacífico contra a derrubada de árvores para a construção de um shopping na Praça Taksim, em Istambul, na Turquia, escalou para uma manifestação contrária ao primeiro-ministro Tayyip Erdogan e seu partido, o islamita Justiça e Desenvolvimento (AKP).

Desde a última sexta-feira (31), o país virou palco de tensão entre cidadãos revoltados e a polícia, que utiliza gás lacrimogênio e canhões d’água para dispersar os protestos.

Os manifestantes, que já ocuparam as ruas da capital Ancara e outras 67 cidades, afirmam estar lutando contra o governo de Erdogan, que ocupa o cargo desde 2002. Por mais que ele tenha triplicado a renda per capita nacional e generalizado o acesso à educação e à saúde, nos últimos meses, o primeiro-ministro adotou medidas polêmicas que estão sendo encaradas como parte de uma sutil "islamização" do país. Entre elas, estão a limitação do consumo de álcool, a autorização do uso do véu islâmico em algumas universidades e até tentativas de limitar o direito ao aborto.

Até segunda-feira (3), uma pessoa morreu e mais de 1,7 mil foram presas em todo o país por consequência dos protestos. (Gazeta do Povo, com a colaboração de Thomas Rieger e agências)

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O vice-primeiro-ministro da Turquia, Bulent Arinç, disse nesta terça-feira (4) que os protestos contra a demolição de um parque em Istambul são "legítimos e justos", mas condenou o uso da violência.

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Em entrevista coletiva concedida em Ancara após uma reunião com o presidente turco, Abdullah Gul, o número dois do governo islamita moderado reconheceu que "a violência exagerada da polícia no começo dos incidentes no parque provocou uma reação".

"Estamos abertos a todas as reações mas não deve haver violência. A reação do povo no parque foi legítima e justa, mas esta reação legítima foi utilizada com abuso por grupos marginais ilegais", afirmou o vice-primeiro-ministro turco.

Os violentos protestos que vem ocorrendo na Turquia desde sexta-feira passada já deixaram duas pessoas mortas. Além disso, centenas ficaram feridas e foram detidas temporariamente durante os enfrentamentos com as forças da ordem.

A violência começou quando a polícia tentou retirar à força milhares de manifestantes do parque Gezi, em Istambul, onde as autoridades planejam construir um centro comercial.

"Peço desculpas para aqueles (manifestantes) com sensibilidade ambiental pela violência policial usada no começo. Mas não temos desculpas para os violentos", disse Arinç.

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Por outro lado, o vice-primeiro-ministro, que atua também como porta-voz do governo, acusou a imprensa estrangeira de comparar "intencionalmente" o sucedido com a Primavera Árabe.

"Por que não o comparam com a ocupação de Wall Street? Como se comportou a polícia ali? Estas coisas se passaram na Espanha, Grécia, Reino Unido e Itália, onde a polícia atuou de forma similar", criticou Arinç.

O vice-primeiro-ministro argumentou que a reações da imprensa estrangeira se devem ao mal-estar que sentem com o governo do Partido de Desenvolvimento e Justiça (AKP).

"Os países estrangeiros fazem isso para debilitar o poder da Turquia e seu êxito econômico", assegurou, seguindo a mesma tese defendida ontem pelo primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan.

Arinç disse que muitos manifestantes "recebem ordens" através de plataformas como o Twitter nos Estados Unidos.

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"Eles são responsáveis disto. Através das redes sociais da internet se expandem mentiras, como a de que a polícia está usando gás laranja ou gás sarin", concluiu Arinç.

O quinto dia dos protestos começou em calma, com uma greve de 48 horas do principal sindicato de funcionários públicos, que por enquanto não está afetando o dia a dia da população.

No entanto, estão programadas novas manifestações contra o governo para esta tarde nas principais cidades do país.

Onda de protestos começa a afetar setor turístico

Os protestos populares que há cinco dias questionam a postura do governo turco também começaram a afetar o setor turístico na Turquia, onde 40% das reservas hoteleiras foram canceladas nos últimos dias na capital Istambul.

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"Nos dois últimos dias, os hotéis em Taksim (ao redor da praça que aparece como epicentro das manifestações) e em Kadikoy (região de Istambul) começaram a ficar vazios. Os cancelamentos das reservas são de até 40%", advertiu nesta terça-feira a um jornal local Milliyet Timur Bayindir, presidente da União de Hotéis e Investidores Turísticos.

O presidente desta organização assegura que são muitos os países, tanto ocidentais como do Oriente Médio, que estão recomendando seus cidadãos a não viajar mais ao país euro-asiático durante esse conflito.

Segundo Bayindir, junho, que normalmente é muito rentável para o setor, poderá ser um mês de significativas perdas. Diante deste fato, a Federação de Proprietários de Hotéis assegura que os cancelamentos já chegam a 10% no país devido às imagens das manifestações transmitidas ao redor do mundo.

A Bolsa de Istambul está registrando as perdas mais fortes desde o ano 2001, com uma queda de 8%, enquanto a lira turca se desvalorizou tanto frente ao dólar como diante do euro.

Há cinco dias consecutivos, a Turquia vivencia intensos manifestações e confrontos, especialmente em Istambul e Ancara, mas também em cidades de outras regiões.

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Os protestos forma iniciados após o despejo forçado de um acampamento pacífico do parque Gezi de Istambul, mas ganharam um caráter político, contra o autoritarismo do primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, e tomaram proporções nacionais.