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A secretária do Interior, Yvette Cooper, disse que as diretrizes de combate ao extremismo no país não são atualizadas desde 2015 e podem incluir medidas contra a “misoginia extrema”
A secretária do Interior, Yvette Cooper, disse que as diretrizes de combate ao extremismo no país não são atualizadas desde 2015 e podem incluir medidas contra a “misoginia extrema”| Foto: EFE/EPA/ANDY RAIN

Uma proposta apresentada na semana passada pelo recém-empossado governo trabalhista do Reino Unido está dividindo opiniões no país.

A secretária do Interior, Yvette Cooper, disse que o governo britânico iniciou uma revisão das medidas de combate ao extremismo no país. Segundo ela, o objetivo é preencher “lacunas no sistema atual”, que não é atualizado desde 2015.

De acordo com declarações publicadas pela imprensa britânica, Cooper disse que essa avaliação, que deve ser concluída até outubro, vai levar em conta “a ascensão do extremismo islâmico e de extrema direita” e outra “tendências ideológicas” que, segundo os trabalhistas, ganharam força nos últimos anos no Reino Unido, incluindo “misoginia extrema”.

É nesse último ponto que a possível nova estratégia antiextremismo britânica vem despertando divisões. Críticos da revisão consideram que a violência contra a mulher é um problema grave a ser combatido no país, mas que a equiparação ao extremismo seria um exagero.

Apoiadores da revisão, por outro lado, apontam que os 2 milhões de vítimas por ano desse tipo de crime na Inglaterra e no País de Gales, segundo estimativa de um relatório do Conselho Nacional de Chefes de Polícia (NPCC, na sigla em inglês) divulgado em julho, justificam a mudança.

Em um debate realizado na semana passada pela emissora GB News, o jornalista e escritor Peter Lloyd disse que a medida, caso seja aplicada, seria “um ataque orwelliano à liberdade de expressão e uma atitude completamente sexista deste governo trabalhista”.

“Em primeiro lugar, por que somente a misoginia deve ser classificada como crime de ódio? Por que não a misandria? De acordo com o ONS [Escritório de Estatísticas Nacionais do Reino Unido, na sigla em inglês], os homens são 70% das vítimas de homicídio ano após ano. Mas não há iniciativas do governo para lidar com isso. Isso é sexista. É outro exemplo da justiça de dois pesos, duas medidas de Keir Starmer [primeiro-ministro]”, afirmou Lloyd, que disse que o terrorismo é uma ameaça mais importante ao Reino Unido neste momento.

A empresária e comentarista Joanna Jarjue, outra participante do debate, discordou de Lloyd. “É muito bonito para um homem ficar sentado ali dizendo que devemos proteger nossa liberdade de expressão. Se você não agir de uma maneira que extrapole os limites em relação às mulheres, então você não vai ter problema com nenhuma lei”, disse Jarjue.

“Não entendo por que estamos minimizando isso quando temos mulheres sofrendo nas mãos de homens e estamos vendo uma epidemia de misoginia e mulheres morrendo”, acrescentou.

Outras vozes da sociedade britânica ponderaram que a aplicação da legislação que já existe seria suficiente para combater a violência contra a mulher no Reino Unido.

Ann Widdecombe, porta-voz de assuntos internos do Reforma Reino Unido, partido de direita nacionalista britânico, disse ao jornal The Telegraph que considerava o plano de Cooper  desnecessário.

“Se você comete violência contra mulheres e meninas, isso já é crime. Se você prega misoginia, isso já é crime. O que exatamente não é crime? Eles [trabalhistas] deveriam aplicar as leis que já existem e parar de tentar criar crimes, que é o que estão fazendo”, afirmou.

Em artigo para o site da revista The Spectator, Alexander Horne, advogado, professor na Universidade de Durham e ex-assessor jurídico parlamentar, concordou com Widdecombe.

“Em vez de tentar implementar novas leis e políticas públicas, provavelmente seria mais útil se aplicássemos aquelas que temos atualmente de forma mais eficaz, imparcial e justa”, argumentou.

“Muitos têm a opinião de que se o governo simplesmente levasse a violência contra as mulheres mais a sério, dedicasse recursos suficientes a essa questão e desse uma direção adequada à nossa força policial, muito mais poderia ser feito”, escreveu Horne.

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