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O governo de tendência islâmica da Turquia criticou duramente a ameaça das Forças Armadas de intervir na política interna do país e pregou neste sábado que os militares devem continuar sob o comando civil.

Segundo Cemil Cicek, ministro e porta-voz do governo, o primeiro-ministro Tayyip Erdogan conversou por telefone com o principal general turco, Yasar Buyukanit, depois do comunicado de sexta-feira, quando os militares declararam estar prontos para agir em defesa do secularismo.

Cemil Cicek afirmou que o comunicado foi um ataque contra o governo e que o momento da sua divulgação, calculado para influenciar a Corte Constitucional. A corte se prepara para examinar um recurso legal contra o primeiro turno das eleições presidenciais de sexta.

"Os problemas da Turquia serão resolvidos dentro da lei. Não há outra maneira. As Forças Armadas respondem ao primeiro-ministro", afirmou o porta-voz à imprensa.

Nos últimos 50 anos, os militares derrubaram quatro governos no país. O comunicado divulgado na sexta-feira expressava a preocupação das Forças Armadas com as eleições presidenciais. No texto, os militares se diziam prontos para atuar em defesa do Estado secular, da separação entre religião e política.

A elite secular turca, incluindo os generais e os juízes, temem que o partido do primeiro-ministro, o AK, mine o sistema secular, se também ganhar a Presidência.

Cicek, que também é ministro da Justiça, enfatizou o compromisso do governo com os valores constitucionais, que incluem o secularismo.

O comunicado militar foi divulgado horas depois de Abdullah Gul, candidato governista, não conseguir os votos necessários no Parlamento para se eleger presidente. O segundo turno da votação está marcado para a próxima quarta-feira.

Partidos de oposição boicotaram a sessão de sexta. Um deles pediu à Corte Constitucional para anular a votação porque havia no plenário menos de dois terços dos deputados.

UE E EUA

Em Bruxelas, o responsável pela ampliação da União Européia (UE), Olli Rehn, manifestou a sua preocupação com a situação turca. Sob a supervisão de Gul, a Turquia iniciou em 2005 as negociações para entrar na UE.

"Esse pode ser um caso para servir de exemplo se as Forças Armadas turcas respeitarem o secularismo democrático e as regras democráticas de relações entre civis e militares", declarou Rehn à imprensa.

No entanto, a UE tem perdido influência na Turquia, onde a opinião pública vêm se tornando cética em relação ao bloco, em meio a disputas sobre o Chipre e outros temas. Muitos turcos sentem que a UE não quer permitir a entrada do país no bloco.

Dan Fried, secretário assistente de Estado norte-americano, disse à Reuters em Bruxelas que Washington espera que o seu aliado da Otan resolva as suas dificuldades "de uma maneira coerente com a democracia secular e com os preceitos constitucionais".

Dez anos atrás, os militares turcos, com o apoio popular, derrubaram o governo islâmico do premiê Necmettin Erbakan, no qual Gull serviu.

Poucos agora apostam num outro golpe militar na Turquia, já que a economia cresce e o governo atual é popular.

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