O presidente da Colômbia, Iván Duque, afirmou nesta segunda-feira (8) que o governo que lidera não reconhecerá a vitória eleitoral de Daniel Ortega, nas eleições gerais ocorridas na véspera na Nicarágua. “Digo isso sem nenhum medo: a Colômbia não vai reconhecer o resultado dessas eleições fraudulentas”, afirmou o chefe de governo, ao ser questionado por jornalistas durante a visita oficial que faz a Israel.
“É preciso chamar as coisas pelo seu nome. O que há hoje na Nicarágua não são eleições livres, mas sim a crônica de uma fraude anunciada”, completou Duque. O presidente colombiano fez um apelo para que sejam ouvidas as determinações das Organizações dos Estados Americanos (OEA), que se reunirá nesta semana para Assembleia Geral.
“Permitir, tolerar, ser omisso com a fraude, é algo que denigre tudo o que avançamos no sistema interamericano, com a carta democrática, que hoje é uma pauta regional”, afirmou.
Mais cedo, o Conselho Supremo Eleitoral do país centro-americano (CSE) divulgou que Ortega estava reeleito, já que tinha 74,99% dos votos, com 49,25% das urnas apuradas, o que representava uma expressiva margem de diferença para os demais concorrentes.
O ex-guerrilheiro sandinista, que completará 76 anos na quinta-feira (11), está no poder desde 2007 e buscava o quinto mandato presidencial de cinco anos, o quarto consecutivo, em meio a questionamentos sobre a legitimidade do pleito, após a prisão de sete pré-candidatos de oposição.
Além disso, houve a eliminação de três partidos políticos, o impedimento de observação externa e a criação de leis que restringiram a participação. A OEA e a União Europeia (UE) colocaram em dúvida a legitimidade do pleito, devido à falta de garantia sobre a transparência.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, condenou as eleições “antidemocráticas” na Nicarágua e enfatizou que o governo americano continuará aplicando “sanções” à gestão de Ortega. Em comunicado, o chefe da diplomacia dos EUA criticou a “repressão e manipulação eleitoral” do governo nicaraguense por ter retirado qualquer “significado real” da votação de 7 de novembro.
“Os Estados Unidos se juntam a outras democracias na região e em todo o mundo na condenação desta subversão das normas democráticas”, disse Blinken. De acordo com o secretário americano, os EUA continuarão a “utilizar diplomacia, ação coordenada com parceiros regionais, sanções e restrições de vistos” para promover a “responsabilização” dos “cúmplices” do governo Ortega.
O governo do Chile afirmou também nesta segunda-feira que “rejeita e não reconhece a legitimidade” das eleições na Nicarágua, “que visam eternizar Daniel Ortega e Rosario Murillo (vice-presidente e esposa do ditador) no poder, consolidando um regime ditatorial”.
Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores chileno disse que o processo eleitoral nicaraguense “não tinha todas as condições para ser considerado válido e transparente”.
“A jornada eleitoral ocorreu no contexto de graves violações dos direitos humanos, prisão de líderes e candidatos da oposição, repressão de partidos independentes, perseguição sistemática de líderes e organizações da sociedade civil, ausência de observadores internacionais e bloqueio dos veículos de comunicação social”, acrescentou o documento.
FHC e outros ex-presidentes da região pedem isolamento do regime
Fernando Henrique Cardoso, outros três ex-presidentes de países da América Latina e o Instituto Internacional para a Democracia e a Assistência Eleitoral (Idea) defenderam nesta segunda-feira, em declaração conjunta, o isolamento do regime da Nicarágua, após a vitória de Ortega.
No texto, também assinado por Laura Chinchilla, antiga chefe de governo da Costa Rica, Ricardo Lagos, do Chile, e Juan Manuel Santos, da Colômbia, também foi solicitada a suspensão da Nicarágua da OEA.
O grupo pediu que Estados Unidos, Canadá, União Europeia e países da América Latina denunciem “com firmeza o caráter antidemocrático do ato eleitoral e convoca que não seja feito o reconhecimento do resultado das eleições deste domingo”.
Os signatários pediram que seja “aprofundado o isolamento internacional do regime, incluindo a suspensão da Nicarágua da OEA, a partir da aplicação do artigo 21 da Carta Democrática Interamericana”.
Cuba parabeniza Ortega e reitera apoio ao ditador
Por sua vez, o ditador de Cuba, Miguel Díaz-Canel, parabenizou nesta segunda-feira Ortega pela reeleição na Nicarágua. “Felicidades ao povo irmão da Nicarágua, a Daniel Ortega e a Rosario Murillo, pelo resultado das eleições", escreveu Díaz-Canel no Twitter.
De acordo com o ditador cubano, que sucedeu Raúl Castro em 2018, o pleito nicaraguense foi “uma demonstração de soberania e civismo, diante da cruel campanha midiática” que garante existir sobre o país centro-americano. “Contem sempre com o apoio de Cuba”, afirmou Díaz-Canel, em referência à aliança política com Ortega e Murillo, que também conta com o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro.
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