Multidões rivais ocuparam nesta sexta-feira as ruas da capital, Sanaa, e de duas outras cidades do Iêmen, demonstrando a força do presidente Ali Abdullah Saleh e dos manifestantes que exigem o fim dos seus 32 anos no poder.
No maior protesto antigoverno, dezenas de milhares de pessoas ocuparam a praça Hurriya (Liberdade) em Taiz, cerca de 200 quilômetros ao sul de Sanaa, segundo testemunhas.
Oito manifestantes antigoverno ficaram feridos em Taiz quando um homem lançou uma granada de mão contra eles, disseram oposicionistas e testemunhas. O artefato foi jogado por uma pessoa de um carro que se lançou contra os manifestantes que estavam na praça Hurriya, disse uma testemunha.
Várias ambulâncias foram para o local. Os manifestantes culparam o governo, que acusam de estar por trás do ataque
"Abaixo o ditador, abaixo a opressão", gritavam os manifestantes, acampados há dias no local, transformado em uma versão iemenita da praça Tahrir, no Cairo, epicentro da revolução que derrubou o ditador Hosni Mubarak neste mês.
Pelo menos 10 mil seguidores de Saleh também saíram às ruas do movimentado bairro comercial da cidade.
Saleh, aliado dos EUA no combate à Al Qaeda, já fez várias concessões para tentar acabar com os protestos no país, um dos mais pobres do mundo árabe.
Em Sanaa, milhares de simpatizantes da oposição saíram pela rua da Universidade, gritando "Você é o próximo depois de Mubarak, Ali", e empunhando cartazes que pediam: "Saia, saia pelo bem do nosso futuro."
Perto da universidade, centenas de partidários do presidente gritavam: "Não ao caos, não à sabotagem." Um pequeno grupo saiu de lá e atacou rivais com paus e pedras.
A TV estatal disse que 1 milhão de pessoas se reuniram em Taiz, para manifestar apoio a Saleh, de 68 anos, que governa o Iêmen há mais de três décadas.
"Sim à unidade e à estabilidade, não ao caos e à sabotagem", gritavam os governistas, ecoando uma declaração feita por Saleh poucos dias antes, quando ele criticou a "agenda estrangeira" que estaria estimulando protestos para levar o caos ao mundo árabe.
Na praça Hurriya, barracas foram montadas para oferecer atendimento médico e comida, e grupos organizados tentavam impedir a entrada de partidários do governo no local.
Taiz é uma cidade com uma considerável classe média e com habitantes oriundos tanto do norte quanto do sul do país. Por isso, analistas dizem que ela serve como barômetro para os protestos no Iêmen, que começaram há cerca de um mês, inspirados na rebelião da Tunísia, e ganharam força após a queda de Mubarak no Egito.
"Sanaa é importante, mas se Taiz realmente continuar, essa coisa pode decolar", disse Gregory Johnsen, acadêmico da Universidade Princeton, em seu blog sobre o Iêmen, o Waq al Waq.
Uma coalizão de partidos da oposição aceitou uma oferta de diálogo com Saleh, que prometeu deixar o cargo em 2013 e não transferir o poder ao seu filho. Isso não evitou, no entanto, que protestos continuassem a ser convocados espontaneamente por estudantes e outros grupos, que se mobilizam por meio de mensagens de celular e do Facebook.
Além dos protestos, Saleh enfrenta também uma forte insurgência da Al Qaeda, além de rebeliões xiita no norte do país e um movimento separatista no sul.
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