Enquanto o sol se punha na pradaria cor de mel, uma tropa de cavalos selvagens comia capim que batia na altura de suas barrigas. Na colina seguinte, dezenas de outros pastavam e, para além deles, muitos mais, pontuando as colinas quase tão longe quanto a vista pudesse enxergar.
O chefe do programa de cavalos selvagens do Escritório de Administração do Território, Dean Bolstad, inclinou seu chapéu de vaqueiro e olhou para os animais do topo de uma colina. “Adoro ver essa cena, mas isso também é uma grande âncora em torno do nosso pescoço.”
Os cavalos estavam pastando em um rancho que a agência aluga, uma das 60 fazendas particulares, currais e confinamentos onde vivem 46 mil cavalos selvagens que o escritório removeu de terras públicas do Oeste. O custo: US$ 49 milhões por ano.
Tentar pagar esse aluguel levou o programa do cavalo selvagem a uma crise. A despesa consome 66% do orçamento federal para a gestão desses animais, e a estimativa é que totalize mais de US$ 1 bilhão ao longo da vida das tropas. O programa não pode se dar ao luxo de continuar as práticas de gestão antigas que criaram o problema em primeiro lugar, nem consegue chegar a soluções para corrigi-lo.
Em resumo, a agência não pode quebrar o ciclo de armazenar cavalos porque está muito ocupada armazenando cavalos.
“Temos grandes desafios à nossa frente, e não contamos com os recursos para resolvê-los”, afirmou Bolstad.
Pondo limites
Gastar US$ 1 bilhão com pastagens é um sintoma de um problema mais amplo. A agência diz que há cavalos selvagens demais vagando pelo Oeste e que precisa limitá-los para evitar danos aos ecossistemas frágeis. Mas nunca encontrou uma estratégia que não fosse colocar mais cavalos em fazendas de armazenamento.
Alguns críticos dizem que a gestão deve se tornar mais ampla e incluir outras opções, como dar medicamentos de controle de fertilidade para cavalos selvagens. Outros afirmam que as políticas que eliminaram predadores como lobos, que já ajudaram a manter a população de cavalos sob controle, precisam ser reconsideradas. Outros ainda acreditam que chegou a hora de matar os cavalos para liberar recursos. No entanto, os grupos de direitos dos animais se opõem a qualquer matança.
O escritório tem lutado para limitar as populações de cavalos selvagens desde 1971 quando o Congresso aprovou uma lei protegendo cavalos e burros selvagens que vagueiam em terras públicas em dez estados ocidentais e cujos números aumentam naturalmente a cada ano. A agência diz que essas terras podem abrigar apenas cerca de 27 mil animais, mas hoje há por volta de 77 mil.
Há 26 anos, várias auditorias do governo vêm alertando o departamento para encontrar alternativas para o armazenamento de cavalos antes que o custo aleijasse o programa, mas isso nunca aconteceu. Durante décadas, o departamento usou helicópteros para recolher e diminuir as tropas soltas, mas agora mal pode se dar a esse luxo porque gasta muito mantendo os cavalos que estão nas fazendas.
Nos últimos anos, o departamento experimentou medicamentos de controle de fertilidade -- administrado com dardos através de um tiro anual -- que reduziria a necessidade de reunir os animais que vivem livres. Agora o dinheiro para esse recurso também está sendo gasto na manutenção dos cavalos.
“Todo o orçamento está amarrado na alimentação dos cavalos; precisamos fazer algo drástico agora”, explicou Ben Masters, cineasta que adotou sete cavalos selvagens e produziu um filme sobre a cavalgada que fez do México até o Canadá. Ele agora tem um assento entre os nove membros do conselho consultivo do programa.
Impacto ambiental
Em uma entrevista por telefone de uma região de cavalos selvagens perto de Eureka, em Nevada, Masters descreveu ter visto milhares de hectares danificados por excesso de pastagem. “A região está totalmente degradada, e precisamos salvá-la, tanto para os cavalos quanto para os outros animais selvagens.”
Em setembro, o conselho consultivo percorreu uma área de manadas de cavalos selvagens em Nevada que não tinha sido pasto para gado em oito anos. Sue McDonnell, participante do conselho que ensina o comportamento dos equinos na Universidade da Pensilvânia, afirmou que se opunha à eutanásia até que viu as gramíneas agredidas e as ervas daninhas invasoras.
“Foi horrível”, contou ela em uma entrevista. “Uma grande parte daquela terra está sob estresse severo. Se não agirmos agora, haverá pedaços que serão efetivamente perdidos para sempre. Os cavalos vão morrer, outros animais selvagens vão morrer, e esse será o fim de tudo.”
Apesar de poucas pessoas discordarem que essas terras do Oeste estão sendo arrasadas, os que criticam a agência dizem que é errado culpar os cavalos selvagens, que são superados pelos bovinos em dez para um em terras do escritório.
Matar os cavalos em armazenamento somente permitiria práticas insustentáveis que favorecem os fazendeiros, dizem.
“O problema da população é apenas um sintoma de uma política de vida selvagem em terras públicas que falhou”, explicou Michael Harris, advogado da Friends of Animals (Amigos dos Animais). Para encontrar uma solução duradoura, disse ele, o governo federal deve examinar décadas de políticas de gestão que erradicaram de terras públicas os lobos e os leões da montanha que fazem dos cavalos suas presas, criando um cenário em que os cavalos se reproduzem rapidamente.
“Não vamos resolver este problema a menos que tenhamos uma política que abre espaço para a vida selvagem na região – para todos os animais selvagens, e não apenas os cavalos”, afirmou.
Deixe sua opinião