Roma - Um dia após ser eleito para comandar a agência da ONU para Agricultura e Alimentação (FAO), o brasileiro José Graziano trouxe previsões não muito animadoras sobre o futuro dos preços dos alimentos. Segundo ele, o cenário atual de valores exorbitantes "não é um desequilíbrio temporário", e os preços devem permanecer elevados "por vários anos".
"Enquanto a situação financeira mundial não se estabilizar, os preços dos bens de primeira necessidade vão refletir isso", disse Graziano, em entrevista à imprensa, em Roma. Ele, contudo, prometeu ajuda aos países mais afetados pelos altos preços das commodities.
Graziano aproveitou o momento para condenar o monopólio das multinacionais sobre as sementes, "que são um bem da humanidade", e para defender o etanol brasileiro.
A cana de açúcar produzida no Brasil para o etanol não entra em competição com a produção de grãos e não tem impactos ambientais", disse.
Ele ainda tentou minimizar os temores de um racha na FAO entre os países do Sul e do Norte após a acirrada votação do domingo. "Devemos alcançar um acordo mínimo para não paralisar a organização", disse, reconhecendo que há "divergências profundas" entre os dois grupos.
As nações que financiam os projetos da FAO apoiavam, em grande parte, o espanhol Miguel Ángel Moratinos, ex-ministro de Relações Exteriores, que perdeu por 88 votos.
Durante anos, a FAO foi uma das agências de menor destaque da ONU. Agora, contudo, a segunda alta recorde dos preços dos alimentos em quatro anos a colocou em evidência no cenário internacional.
Na semana passada, a organização recebeu um papel fundamental na implementação dos planos das 20 maiores economias do mundo (G-20) para melhorar a transparência no mercado mundial de alimentos.
Reconhecimento
No programa "Café com a Presidenta", Dilma Rousseff reforçou a ideia de que a vitória de Graziano foi um "reconhecimento" do papel do Brasil no combate à fome. "O governo brasileiro demonstrou, nas suas políticas, que é preciso que o alimento chegue a todos", afirmou.
A presidente afirmou que Graziano terá "todo o apoio do governo brasileiro" para levar soluções para o órgão.
Segundo o Itamaraty, ainda é cedo para saber como será essa ajuda e se haverá um apoio do quadro de diplomatas para compor a equipe de Graziano. Ele terá até dezembro para formar o gabinete, e estaria preocupado em não ofuscar o senegalês Jacques Diouf, enquanto este estiver no posto. O brasileiro assume em 1.º de janeiro de 2012.