O governo da Grécia disse nesta sábado que o comportamento dos credores internacionais é inaceitável e constitui uma interferência inoportuna em assuntos domésticos. Na sexta-feira, o Fundo Monetário Internacional (FMI), a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu (BCE) - conhecidos localmente como "o trio" - realizaram uma coletiva de imprensa coletiva em Atenas e anunciaram a aprovação de mais 15 bilhões para a Grécia, mas fizeram vários comentários e impuseram duras exigências ao país.
"O comportamento dos credores internacionais na sexta-feira foi inaceitável. Cada um deve aceitar seu papel e embora tenhamos necessidades, também temos limites e vamos manter nossa honra. Não vamos aceitar interferências em nossos assuntos internos", disse o porta-voz do governo grego, George Petalotis.
Também neste sábado, o primeiro-ministro grego George Papandreou destacou uma ligação telefônica feita pelo diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn. "Durante conversa telefônica o primeiro-ministro transmitiu a mensagem, em nome do governo grego, de que o comportamento dos representantes dos três credores internacionais na sexta-feira foi inaceitável", segundo comunicado divulgado por seu gabinete.
A Grécia concordou em implementar medidas de austeridade sem precedentes e reformas estruturais impopulares, que são revistas a cada três meses, em troca de um pacote de ajuda de 110 bilhões em maio de 2010.
Mas os comentários de Petalotis mostram as primeiras rupturas no relacionamento entre a Grécia e seus credores internacionais. O trio parece agora determinado a forçar uma aceleração no ritmo das reformas, além do que parece ser tecnicamente, politicamente e socialmente possível para o governo socialista que chegou ao poder em outubro de 2009.
Na sexta-feira, o trio exigiu que a Grécia inicie um programa de privatizações de 50 bilhões, que deve ser completado até 2015. Os credores afirmam que a Grécia tem uma enorme quantidade de imóveis que podem ser comercialmente exploráveis e participações significativas em empresas de capital aberto e fechado. Os recursos levantados devem ser utilizados para reduzir a dívida nacional grega, que atualmente gira em torno de 330,1 bilhões.
Mas o governo se comprometeu a realizar um programa de privatização de apenas 7 bilhões em três anos, o que já é considerado difícil de implementar. Economistas estimam que nos últimos 20 anos a Grécia só conseguiu arrecadar 10 bilhões com privatizações. Num contexto histórico, a nova meta parece extremamente ambiciosa.
Os credores internacionais também disseram, de forma indireta, que deve haver reduções nos salários já baixos do setor privado, mais cortes na folha de pagamento dos servidores públicos, mudanças dramáticas na administração pública e na saúde além de reduções nos gastos militares.
Embora o trio não tenha publicamente exigido novas medidas que atingiriam o bolso dos pensionistas, trabalhadores e consumidores, lembrou ao governo que medidas adicionais serão necessárias para atender os objetivos fiscais.
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