O número de vítimas fatais do desastre nuclear de Chernobyl, ocorrido há 20 anos, pode ser muito maior do que as estimativas oficiais, que não teriam incluído cerca de 93 mil mortes decorrentes de casos de câncer ocorridas no mundo todo, disse na terça-feira o grupo ambientalista Greenpeace.
Com base em pesquisas da Academia Nacional de Ciências da Belarus, o relatório do grupo afirmou que, dos 2 bilhões de pessoas afetados no mundo todo pelo desastre, 270 mil tinham desenvolvido algum tipo de câncer. Dessas pessoas, 93 mil morreram em virtude da doença.
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) estima que 4.000 pessoas perderam a vida em virtude da explosão no reator número quatro da usina de energia da cidade ucraniana de Chernobyl, em 26 de abril de 1986. A explosão formou uma nuvem de pó radioativo que atingiu o norte e o oeste da Europa, chegando até o leste dos Estados Unidos.
"É espantoso que a AIEA esteja menosprezando o impacto do acidente nuclear mais sério da história humana", afirmou Ivan Blokov, membro do Greenpeace envolvido nas campanhas de combate à energia nuclear.
A AIEA não se manifestou sobre o relatório.
O documento ainda calcula que, no total, cerca de 200 mil pessoas na Rússia, na Ucrânia e na Belarus já teriam morrido em virtude de problemas médicos -- como doenças cardiovasculares -- decorrentes do desastre.
"O problema é que não há uma metodologia aceitável para calcular o número de pessoas que podem ter morrido em virtude de tais doenças", disse à Reuters Jan van de Putte, outro membro do Greenpeace.
"A única metodologia aceitável é para o cálculo de casos fatais de câncer", afirmou.
Segundo o relatório, o número de casos de câncer aumentou em 40 por cento na Belarus entre 1990 e 2000. Crianças nascidas depois do desastre apresentam chances 88,5 por cento maiores de desenvolver câncer de tiróide.
O número de casos de leucemia também está aumentando na região, bem como o de casos de câncer intestinal, retal, renal, mamário, pulmonar e de bexiga.
A retirada de centenas de milhares de pessoas de suas casas como resultado da explosão soma-se aos vários problemas já enfrentados pela população das áreas afetadas, disse o relatório.
"O acidente de Chernobyl desorganizou sociedades inteiras na Belarus, Ucrânia e Rússia", concluiu o Greenpeace.
"Uma interação complexa de fatores tais como problemas de saúde, aumento dos gastos com a saúde pública, com a realocação de pessoas, com a perda de terras aráveis e com a contaminação de alimentos, crises econômicas, problemas políticos, uma força de trabalho enfraquecida -- tudo isso gerou uma crise generalizada".