A França sofreu na sexta-feira o terceiro dia consecutivo de transtornos nos transportes devido a uma greve contra a reforma previdenciária. Manifestantes pararam à força alguns trens que circulavam.
A greve se tornou uma queda-de-braço a respeito de uma das principais reformas prometidas pelo presidente Nicolas Sarkozy, já que uma base sindical radicalizada mantém o movimento.
A estatal ferroviária SNCF disse que os piqueteiros bloquearam trens em estações de Paris, Lille e outras cidades.
"Houve ocupações das linhas férreas, alarmes ativados, fogo e obstáculos colocados em algumas linhas", disse a SNCF, condenando duramente as "ações ilegais" de alguns grevistas.
Governo e sindicatos haviam concordado nesta semana em retomar as negociações. Mas assembléias em todo o país decidiram manter a greve, e os sindicalistas agora exigem do governo mais detalhes sobre o formato da eventual negociação.
O ministro do Trabalho, Xavier Bertrand, disse que o fim da greve seria uma pré-condição para o diálogo.
Na estação de Saint Lazare, uma das principais de Paris, grevistas se diziam determinados a manter o piquete, apesar da aparente renitência de alguns dirigentes sindicais.
"Entre a liderança e o pessoal no chão há uma diferença", disse o controlador de trens que se identificou apenas como Philippe, filiado à central CGT. "Estamos vivendo a realidade, talvez (os dirigentes) estejam alheios."
Os sindicatos são contra o fim do chamado "regime especial" da previdência, que permite a cerca de 500 mil funcionários públicos se aposentarem após 37,5 anos de contribuição, ao contrário dos demais trabalhadores, que precisam contribuir durante 40 anos.
Pesquisas mostram que os franceses apóiam o fim desse custoso sistema. Por outro lado, estudantes e outros funcionários públicos vêm fazendo protestos em separado e se queixando do custo de vida, o que indica que a onda de paralisações ainda pode se amplificar.
A falta de transportes -somada ao tempo excepcionalmente frio para esta época- provoca uma mistura de frustração e resignação entre os usuários dos transportes.
"Acho, como muita gente, que tenho uma sensação dúbia. Um pouco de compreensão de que eles (grevistas) receberam alguma coisa e é difícil abrir mão. Mas todo mundo precisa trabalhar mais, todo mundo tem de se adaptar", disse Martin Fraudreau, que esperava em Paris um trem para Rouen (norte).
A RATP, que cuida dos transportes metropolitanos na capital, disse que a maioria das linhas de metrô funciona, mesmo que parcialmente, e um terço dos ônibus e bondes estão nas ruas.