O principal grupo italiano de defesa do patrimônio histórico-cultural do país exortou as Nações Unidas na segunda-feira a incluírem Veneza na lista de patrimônios ameaçados, dizendo que o turismo de massas, o descaso ambiental e a construção crescente colocam em risco a sobrevivência da cidade dos canais.
Em coletiva de imprensa na qual acusou os governos italianos de terem subestimado os efeitos devastadores da política de turismo e dos projetos de desenvolvimento passados e futuros, o grupo Italia Nostra (Nossa Itália) previu um futuro sombrio para Veneza.
"Hoje esse lugar excepcional corre o risco de ver destruído seu caráter e o que resta de sua condição natural", disse Lidia Fersuoch, chefe do ramo de Veneza do Italia Nostra.
Fersuoch disse que o grupo nacional vai pedir à Unesco, a organização cultural das Nações Unidas, que coloque Veneza em sua lista de patrimônios ameaçados e considere a possibilidade de tirar a cidade por completo de sua lista de Patrimônios Mundiais, "porque o governo italiano não tem cumprido seu compromisso assumido com a Unesco de proteger Veneza e sua lagoa".
Veneza, cujos majestosos palácios e igrejas erguem-se sobre ilhas baixas, palafitas e depósitos de lama, possui inúmeros problemas sociais, ambientais e estruturais.
As marés altas no Adriático regularmente elevam o nível da lagoa e dos famosos canais de Veneza, inundado áreas mais baixas como a praça São Marcos por cerca de 80 dias por ano.
A água agride as estruturas já frágeis, e a umidade desestabilizadora se eleva por sete metros nas paredes da Basílica de São Marcos.
Conservacionistas dizem que o delicado ecossistema da lagoa vem sendo fortemente prejudicado pelo aterramento e as construções, os portos industriais, a remoção de sedimentos e a passagem de enormes navios turísticos e mercantes.
Alarme planetário
Eles dizem que um projeto multimilionário para utilizar maciças barreiras móveis nos três canais que ligam a lagoa ao mar, com as quais a lagoa ficaria fechada ao Adriático durante as marés mais altas, é uma medida meramente provisória.
"Precisamos soar um alarme planetário", disse a presidente do Italia Nostra, Alessandra Mottola Molino, acrescentando que as projeções científicas prevêem que a lagoa se eleve 50 centímetros até o final do século, na medida em que o próprio mar Adriático vai subir.
"Dentro de cem anos o nível do mar será tão alto que as barreiras terão que ficar fechadas o tempo todo, bloqueando o fluxo natural de água do mar que é a fonte de vida da lagoa", disse ela. "Isso vai mudar Veneza, tal como a conhecemos."
O grupo disse que é preciso encontrar soluções de longo prazo, como a revitalização do ecossistema natural da lagoa, a regulamentação do turismo e a proibição da construção.
Dezenas de milhares de turistas invadem Veneza todos os dias, tornando a cidade praticamente inabitável para seus 60 mil habitantes, que no final da Segunda Guerra Mundial eram 150 mil.
O Italia Nostra quer impor um teto ao número de turistas permitido a cada dia. Grupos grandes seriam obrigados a fazer reservas antecipadas.
O grupo quer que navios de grande porte sejam proibidos de entrar na lagoa e percorrer o Grande Canal, porque a esteira que deixam na água danifica as fundações já delicadas das construções históricas da cidade.
Julgamento do Marco Civil da Internet e PL da IA colocam inovação em tecnologia em risco
Militares acusados de suposto golpe se movem no STF para tentar escapar de Moraes e da PF
Uma inelegibilidade bastante desproporcional
Quando a nostalgia vence a lacração: a volta do “pele-vermelha” à liga do futebol americano