No terceiro dia de conflitos no Líbano, o grupo radical islâmico Fatah al-Islam reivindicou os atentados de domingo e segunda-feira em bairros residenciais de Beirute e afirmou que foram uma resposta ao bombardeio por parte do Exército contra o campo de refugiados palestino de Nahr al-Bared. O comunicado foi recebido pela agência de notícias France Presse.
"Pela continuidade dos combates contra o Exército libanês, um grupo de mujahedines explodiu duas bombas em Beirute", afirma o comunicado, que ameaça novos ataques contra o "coração de Beirute".
A explosão de domingo deixou um morto e dez feridos no bairro cristão de Achrafiyeh, em Beirute.
Na segunda-feira à noite, dez pessoas ficaram feridas em outro atentado em um bairro de maioria muçulmana da cidade. Em dois dias de batalha, mais de 70 pessoas morreram e 200 ficaram feridas.
O conflito no Líbano começou no domingo à noite, quando a polícia libanesa foi atrás de suspeitos de roubo a banco, que pertenciam ao Fatah al-Islam. Ao encontrar com eles, houve troca de tiros. Após o problema, ataques começaram das duas partes no norte do Líbano, em torno do campo de refugiados palestinos de Nahr al-Bared. Informação oficial
O Exército libanês está ganhando terreno no cerco ao campo de refugiados palestinos de Nahar al-Bared, no norte do Líbano, segundo a agência de notícias oficial libanesa "NNA".
A fonte, que cita um funcionário que não foi identificado, afirma que os militares estão avançando rumo à entrada norte do acampamento numa tentativa de conquistar posições e controlar os milicianos do Fatah al-Islam, entrincheirados no interior do campo.
"Foram realizadas operações combinadas na localidade de Muhamara, na estrada de Abed, próxima à entrada do campo", acrescentou o funcionário.
Por enquanto, não se sabe se o Exército libanês está reforçando suas posições nas entradas e saídas do acampamento para forçar os milicianos a entregar as armas ou se as tropas estão se preparando para entrar.
Uma invasão romperia os acordos assinados em 1969, que proíbem o Exército e a polícia de entrar nos campos de refugiados palestinos.
As forças armadas retomaram hoje a ofensiva contra o acampamento, após um cessar-fogo provisório para permitir a entrada de serviços médicos e a remoção dos feridos. Al-Qaeda
O embaixador da Síria na Organização das Nações Unidas (ONU) disse na segunda que militantes lutando contra tropas libanesas foram presos em Damasco há alguns anos por ligações com a rede al-Qaeda, e seriam presos novamente se retornassem.
Negando acusações de que a Síria possui ligações com o grupo Fatah al-Islam, o embaixador Bashar Ja'afari disse que vários membros do grupo haviam passado "três ou quatro anos" em prisões sírias "uns dois anos atrás" por seus laços com a al-Qaeda, e então foram libertados e saíram do país.
"Se eles vierem à Síria, serão presos", disse ele a repórteres. "Eles não estão lutando pela causa palestina. Eles estão lutando pelos interesses da al-Qaeda."
Segundo ele, os líderes do grupo eram, na maior parte, palestinos, jordanianos ou sauditas e talvez "uns dois" fossem sírios.
Após estes líderes terem sido libertados eles começaram "práticas terroristas" e treinaram "novos elementos" em nome da Al Qaeda, mas deixaram a Síria antes que pudessem ser presos novamente.
Novas batalhas chegaram a um campo de refugiados no norte do Líbano nesta segunda-feira no segundo dia de conflitos entre o Exército libanês e os militantes, matando 79 pessoas.
Paz momentânea
Os combates no Líbano estavam totalmente parados ao fim da manhã desta terça-feira.
"Há uma hora não se ouve qualquer disparo ao redor do campo", afirmou um fotógrafo da France Presse.
Os combates haviam recomeçado no início da manhã, pelo terceiro dia consecutivo, entre o Exército libanês e o Fatah al-Islam ao redor de Nahr al-Bared.
A suspensão dos enfrentamentos deve permitir a chegada de ajuda e a retirada dos feridos e mortos do campo.
Por volta do meio-dia, um comboio da Agência das Nações Unidas para a Ajuda aos Refugiados Palestinos (UNRWA) com seis caminhões com alimentos, água, combustível, geradores de energia elétrica e medicamentos, aguardava autorização para entrar em Nahr al-Bared.
O primeiro-ministro libanês Fuad Siniora se reuniu com o representante da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) no Líbano, Abbas Zaki, para examinar as possibilidades de solucionar a crise.
O principal problema é a presença do Fatah Al-Islam, grupo extremista islâmico, em Nahr al-Bared, que fica perto da fronteira com a Síria.
Na segunda-feira à noite, o governo libanês se mostrou determinado a acabar com a organização.
O pequeno grupo radical prometeu derramar "até a última gota de sangue" se o Exército prosseguisse com os disparos.
"Se o Exército continuar com seus ataques, nossos combatentes estão dispostos a combater até a última gota de sangue", declarou a AFP Abu Salim Taha, porta-voz do grupo. "O Exército tem a palavra, eles começaram os combates e são eles os que terão que detê-lo", acrescentou.
Questionado sobre o número de vítimas do grupo, o porta-voz respondeu: "Não é um problema para nós, o problema é que os civis não podem suportar isto por mais tempo".
Bush
O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, disse na segunda que extremistas tentando derrubar o governo do Líbano "precisam ser contidos".
Após dois dias de batalhas Bush disse para a agência de notícias Reuters em uma entrevista a bordo do avião presidencial Força Aérea 1 que havia sido informado sobre a situação pela secretária de Estado, Condoleezza Rice.
"Extremistas que estão tentando derrubar essa jovem democracia precisam ser contidos. Certamente nós abominamos a violência em que inocentes morrem. E é uma triste condição quando se tem essa jovem democracia no Líbano sendo pressionada por forças externas", disse Bush.
Bush, profundamente desconfiado do papel da Síria no Líbano, não acusou Damasco diretamente de se envolver no conflito. A Síria nega acusações de que tem ligações com o grupo que luta contra as forças do governo libanês.
"Eu não sei sobre esse incidente em particular. Só farei acusações quando obtiver informações melhores, mas te direi que não tenho dúvida que a Síria estava profundamente envolvida no Líbano. Não há dúvida de que ainda estão envolvidos no Líbano", afirmou o presidente.
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