O julgamento que condenou Saddam Hussein à forca foi profundamente falho e pode não ter convencido os iraquianos de que a justiça foi feita, disseram neste domingo grupos de direitos humanos e especialistas.
Saddam e outros dois acusados foram condenados à pena capital pela participação na morte de mais de 140 xiitas da aldeia agrícola de Dujail, mortos depois de uma tentativa fracassada de matar o líder iraquiano em 1982.
As respostas oficiais foram previsíveis.
A Embaixada dos Estados Unidos, país que derrubou Saddam, estabeleceu a corte, financiou o procedimento e forneceu a segurança, classificou o veredicto como um marco para um Iraque soberano. O governo iraquiano disse que Saddam recebeu o que merecia. Ele foi condenada à forca.
Os advogados de Saddam chamaram o julgamento de "gozação da justiça''.
Mas grupos de direitos humanos disseram que o julgamento que durou um ano, período em que advogados de defesa foram assassinados e o primeiro juiz renunciou, citando interferência política, não foi realizado dentro dos parâmetros que lhe permitiriam resolver a questão.
"A corte não foi imparcial. Não foram tomadas medidas adequadas para proteger a segurança dos advogados de defesa e das testemunhas", disse Malcolm Smart, chefe do Programa da Anistia Internacional para o Oriente Médio e Norte da África.
"Toda pessoa tem direito a um julgamento justo, até mesmo pessoas acusadas de crimes da magnitude dos que Saddam Hussein foi acusado, e este julgamento não foi justo.''
Autoridades dos EUA disseram que o julgamento cumpriu os padrões legais iraquianos e que os advogados de defesa assassinados receberam oferta de mais segurança, mas recusaram.
O caso de Dujail foi o primeiro contra Saddam, mas está longe de ser o maior. Uma das preocupações das pessoas que esperam que os julgamentos promovam a reconciliação é que a pena de morte no primeiro caso pode impedir que os outros sejam julgados.
O segundo caso já está sendo estudado. Saddam é acusado de genocídio pela morte de 180.000 curdos nos anos 1980. Este julgamento foi criticado por grupos de defesa de direitos depois que o governo retirou o juiz-chefe por ter dito que Saddam não foi "ditador".
O Centro Internacional de Justiça de Transição, de Nova York, que monitorou de perto o caso de Dujail através de equipes em Bagdá, disse que os juízes de apelação deveriam pedir um novo julgamento para consertar suas falhas.
"De maneira alguma foi um julgamento simulado. Mas houve muitos erros e equívocos no caminho", disse Hanny Megally, especialista do grupo em justiça no Oriente Médio
"E com toda a justiça, a não ser que sejam revistos, será impossível estar dentro dos padrões de justiça."
Miranda Sissons, chefe do programa do grupo no Iraque, disse que as falhas no primeiro julgamento incluíram "repetidas interferências políticas, falhas nas provas e importantes violações de um julgamento justo".