Grupos de direitos turcos pediram nesta sexta-feira (30) uma investigação patrocinada pela ONU depois que aviões turcos mataram 35 moradores de um vilarejo em um ataque que visava rebeldes curdos na fronteira iraquiana. O governo turco disse que houve um erro operacional.
O incidente, que está sendo investigado pelo governo, provocou tensão com a minoria curda na Turquia, e houve confrontos entre manifestantes e policiais em cidades no sudeste do país, região de maioria pró-curda, e em algumas áreas de Istambul.
O ataque, o de maior número de mortos em um único dia desde que militantes lançaram sua insurgência armada em 1984, ocorre em um momento em que o primeiro-ministro, Tayyip Erdogan, vem tentando engajar os curdos em conversações para escrever uma nova Constituição, que deve discutir queixas dos curdos.
"O incidente requer uma investigação mais detalhada, mas é uma execução sem o devido processo e leva as características de um assassinato em massa em termos de número de vítimas", disseram os grupos de direitos humanos IHD e Mazlumder em um relatório preliminar sobre o ataque aéreo de quarta-feira.
"Organizações não governamentais turcas e internacionais deveriam investigar o incidente e o Comitê de Direitos Humanos da ONU deveria enviar uma junta imediatamente".
O governo de Erdogan, que admitiu que os mortos eram contrabandistas civis que foram tomados por militantes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), prometeu que não iria permitir que o incidente fosse encoberto.
"Estamos esperando os resultados da investigação. Compartilharemos esses resultados com o público", disse o vice-primeiro-ministro Bulent Arinc a jornalistas na sexta-feira. "Esses incidentes podem ocorrer no processo da luta contra o terror."
O IHD e o Mazlumder disseram que a maioria dos mortos perto do vilarejo de Uludere, na fronteira, tinha entre 12 e 18 anos de idade. A mídia turca relatou que 28 dos 35 mortos pertenciam à mesma família e tinham o mesmo sobrenome.
Em seu relatório, o IHD e o Mazlumder citaram Haci Encu, um sobrevivente de 19 anos que estava no hospital, dizendo que os contrabandistas eram um grupo de 40 a 50 pessoas com mulas e que foram atacados por aviões não tripulados quando cruzavam a fronteira com o Iraque.
"Íamos negociar açúcar e diesel. Nós chegamos a escutar os aviões, mas continuamos andando porque era a nossa rota costumeira", disse Encu.
"O primeiro avião matou 20 pessoas, que estavam bem na fronteira. Começamos a correr em direção ao Iraque, e as bombas começaram a cair sobre os que ficaram para trás na região rochosa. No meu grupo éramos seis pessoas, e três sobreviveram. Tínhamos roupas civis e ninguém estava armado", disse Encu.
"O ataque durou por volta de uma hora. Eu e outros dois com três mulas fomos até um rio, esperamos ali por uma hora e depois nos escondemos entre as rochas", disse.
Os funerais estão sendo realizados na sexta-feira.