Militantes islâmicos estão perpetrando "um chocante catálogo de abusos" em prisões secretas no norte da Síria, incluindo torturas, açoites e execuções sumárias, disse a Anistia Internacional nesta quinta-feira (19).
Em relatório, a entidade de direitos humanos disse que o Estado Islâmico no Iraque e no Levante, um grupo afiliado à Al Qaeda e ativamente envolvido na guerra civil contra o presidente Bashar al-Assad, está operando sete prisões clandestinas em áreas controladas por rebeldes.
Os prisioneiros são acusados de crimes que variam de furto a ofensas contra o islamismo, como o tabagismo e o adultério. Outros são presos simplesmente por contestar a autoridade do grupo ou por pertencer a grupos armados rivais, diz o relatório.
"Entre os capturados e detidos há crianças a partir de 8 anos, mantidas juntas com adultos nas mesmas condições cruéis e desumanas", disse Philip Luther, diretor da Anistia para o Oriente Médio e Norte da África.
De acordo com o relatório, várias crianças receberam açoites severos, e em uma ocasião um pai precisou escutar os gritos de seu filho num cômodo próximo. Dois detentos disseram ter testemunhado um menino de cerca de 14 anos recebendo 90 chibatadas na prisão de Raqqa.
Outro adolescente, mais ou menos da mesma idade, acusado pelo grupo de furtar uma moto, também foi repetidamente açoitado por vários dias.
"Açoitar qualquer um, ainda mais uma criança, é cruel e desumano, e um flagrante abuso dos direitos humanos", disse Luther.
Segundo a ONU, abusos são disseminados na guerra civil síria, e as forças de Assad são responsáveis pelos piores deles.
A Anistia pediu ao mundo que contenha o fluxo de armas para o grupo islâmico e para outros movimentos armados acusados de abusos e crimes de guerra, e que a Turquia em especial deve impedir que jihadistas e armas se infiltrem no norte da Síria.
Países árabes que apoiam os rebeldes e são vistos como a principal fonte de financiamento para os grupos radicais armados também deveriam restringir o fluxo de armas e equipamentos, segundo a Anistia.
O domínio do Estado Islâmico no Iraque e no Levante e de outros grupos radicais está ofuscando a atuação de rebeldes mais moderados, apoiados pelo Ocidente, e causando divisões na campanha militar contra Assad. Muitos países ocidentais veem com alarme a criação de um reduto da Al Qaeda no norte da Síria.
Os grupos islâmicos rejeitam a conferência de paz da Síria a ser realizada no mês que vem em Genebra, reunindo pela primeira vez o governo de Assad e seus adversários desde o início da guerra civil, em 2011.