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Regime sandinista

Grupos terroristas apoiados pelo Irã têm atuado livremente na Nicarágua com apoio de Ortega

Grupos terroristas apoiados pelo Irã têm atuado livremente na Nicarágua com apoio de Ortega
Dupla que comanda o regime socialista da Nicarágua, o ditador Daniel Ortega e sua esposa, a vice Rosario Murillo (Foto: EFE/Jorge Torres)

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O cônsul de Israel na Costa Rica, Amir Rockman, acusou publicamente na semana passada o regime de Daniel Ortega de permitir a presença de forças iranianas e grupos terroristas financiados pelo regime islâmico em território nicaraguense.

Segundo Rockman, a ditadura de Ortega tem permitido que as forças iranianas operem sem restrições na Nicarágua. “O regime da família Ortega não só dá livre passagem aos radicais iranianos, mas também a outros grupos terroristas que atuam livremente em solo nicaraguense”, afirmou o diplomata. A denúncia foi feita em uma entrevista concedida portal independente nicaraguense Despacho 505.

Rockman destacou que essas ações são facilitadas pela estreita relação que Ortega tem mantido com o Irã, que agora é um dos seus principais aliados no cenário internacional. “Estamos profundamente preocupados, pois não sabemos os objetivos dessas forças, mas sabemos que representam uma ameaça”, disse o cônsul, que lamentou a decisão do regime nicaraguense de romper este mês as relações diplomáticas com Israel. “Essa ruptura não nos surpreende, pois o governo de Daniel Ortega vem, há mais de um ano, deteriorando as relações entre Israel e a Nicarágua”, lembrou.

Aliança entre Ortega e o Irã

A proximidade entre o regime de Ortega e o Irã se intensificou desde a volta do ditador ao poder em 2007. Em 2023, os dois países assinaram um memorando de cooperação durante a visita do então ministro das Relações Exteriores do Irã, Hossein Amir-Abdollahian (que morreu neste ano em um acidente de helicóptero), a Manágua. Esse acordo reforçou a parceria entre as duas nações em diversas áreas, inclusive segurança e cooperação militar. Além dos documentos assinados, Ortega já havia elogiado e defendido abertamente o programa nuclear iraniano em outros anos e chegou a pedir que Israel “se desarmasse para evitar uma guerra”.

“Lamentamos a decisão deste regime de escolher o bem-estar do governo iraniano. Não sei qual é o interesse do povo nicaraguense com o regime iraniano, mas a família Ortega tem muitos interesses com os iranianos, e por isso escolheram alinhar-se com este eixo mundial dos iranianos”, disse Rockma

“Não conheci, durante meus dois anos na Costa Rica, nenhum nicaraguense que apoie essa ditadura [sandinista]”, acrescentou o diplomata, reforçando que a decisão de romper com Israel atende somente aos interesses pessoais de Ortega, e não aos da população.

As relações entre Israel e a Nicarágua de Ortega foram marcadas por altos e baixos, com três rompimentos diplomáticos ao longo das últimas décadas. O primeiro ocorreu entre 1979 e 1990, durante o primeiro momento do regime sandinista. O segundo aconteceu em 2010, e o terceiro neste mês. Segundo Rockman, a atual situação é a mais grave até agora, devido ao crescente envolvimento do Irã e de grupos extremistas na Nicarágua.

“Acredito que esta nova ruptura de relações, em minha opinião, vai durar mais tempo, porque os interesses dos iranianos, do Hezbollah e de outros grupos antidemocráticos que agora estão instalados na Nicarágua desempenham um papel maior do que nos anos anteriores”, afirmou o cônsul.

Acusações corroboradas por representante de Israel

A embaixadora de Israel na Costa Rica, Michal Gur Aryeh, que também exercia funções diplomáticas para a Nicarágua, endossou as acusações feitas por Rockman. Segundo ela, o Hezbollah e outros grupos terroristas financiados pelo Irã têm expandido suas bases não somente na Nicarágua, mas também em outros países da América Latina, como Venezuela e Bolívia.

“Temos visto visitas de funcionários iranianos à Nicarágua nos últimos anos, o que é um sinal muito claro da aproximação entre esses regimes. Acompanhamos com muita preocupação a situação na Nicarágua há alguns anos. Posso dizer que há outros países na região que também possuem bases do Hezbollah, como Venezuela e Bolívia. Vemos esses aliados do Irã com atividades muito perigosas para a região”, declarou a embaixadora durante uma entrevista nesta semana.

Gur Aryeh revelou que os serviços de inteligência de Israel têm cooperado com vários países latino-americanos para interceptar células terroristas. Nos últimos anos, disse a represente de Israel, seu país prestou auxílio em situações de ataques terroristas no Brasil, Argentina, Peru, Colômbia e México.

“Quando vemos uma oportunidade para deter esses terroristas, cooperamos com os governos no continente”, afirmou a embaixadora, ressaltando que o crime organizado e o terrorismo estão operando de maneira conjunta na America Latina. “Não se sabe geralmente quando termina o crime organizado e quando começa o terrorismo, porque muitos desses grupos terroristas estão muito, muito envolvidos no crime organizado”, lembrou Gur Aryeh

Operações terroristas na América Latina

Gur Aryeh mencionou os ataques terroristas em Buenos Aires, em 1994, contra a Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA), como um exemplo da longa influência iraniana em ataques terroristas na América Latina.

“Posso dizer, por exemplo, que os ataques em Buenos Aires nos anos 90 foram claramente organizados através da embaixada iraniana em Buenos Aires. Temos essa informação sobre os ataques do passado, mas não posso compartilhar mais detalhes. Continuamos monitorando a situação”, declarou.

A embaixadora ainda reforçou que a aliança de Ortega com o Irã coloca a segurança regional em risco. “A ditadura de Ortega escolheu o Irã como aliado, que é o maior promotor de terrorismo no mundo. O terrorismo do Irã vai além do Oriente Médio. Por exemplo, armas iranianas estão sendo usadas na Ucrânia contra o povo ucraniano. Os maiores atentados terroristas na América Latina foram realizados pelo Irã em Buenos Aires. Portanto, esse é o parceiro do regime — um parceiro muito, muito perigoso. Na verdade, agora temos uma base de terrorismo na América Central, o que é preocupante não apenas para a Costa Rica, mas para toda a região”, disse Gur Aryeh.

“Vemos ao redor do mundo ditaduras que não conseguem manter boas relações com países democráticos. Muitas dessas ditaduras têm aliados brutais como elas mesmas e se apoiam mutuamente”, acrescentou a diplomata.

Opositores dizem que Ortega se alinhou ao “Eixo do Mal”

Opositores nicaraguenses afirmam que a decisão de Ortega de romper com Israel revela um “vínculo histórico” do regime sandinista com o “extremismo islâmico” e o terrorismo.

Arturo McFields, ex-embaixador da Nicarágua na Organização de Estados Americanos (OEA), disse que “a ruptura de relações [com Israel] mostra um Daniel Ortega que se radicaliza e se afasta cada vez mais da democracia, ao abraçar os países que compõem o ‘eixo do mal’, ou seja, ‘países terroristas’”.

McFields afirmou que a decisão de Ortega se alinha aos países considerados “estados terroristas” e que, ao tomar essa postura, o ditador sandinista confronta indiretamente os Estados Unidos.

Juan Sebastián Chamorro, opositor exilado, acredita que a decisão beneficia diretamente o Irã, que financia o Hezbollah em suas ações terroristas.

Félix Maradiaga, outro opositor exilado, afirmou que, sob a ditadura de Ortega, a Nicarágua se tornou um “refúgio” para extremistas inimigos de Israel. Maradiaga acrescenta que a “ditadura tem laços com grupos antissemitas” e que Ortega facilitou a concessão de passaportes nicaraguenses para promover atividades contrárias à paz e à segurança globais.

Resposta da Nicarágua

O regime de Daniel Ortega, por sua vez, rechaçou na segunda-feira (21) as acusações de Israel. Em um comunicado divulgado por Rosario Murillo, esposa de Ortega e número 2 no comando do regime, Nicarágua acusou Israel de tentar “desviar a atenção do genocídio contra o povo palestino” e de cometer violações do direito internacional humanitário. Murillo afirmou que a ruptura das relações diplomáticas com Israel “foi uma decisão soberana”, tomada em conformidade com as “obrigações internacionais da Nicarágua”, e ressaltou que o país está tomando medidas para interromper o que chamou de “genocídio do povo palestino”.

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