O presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, anunciou, no início da manhã desta terça-feira (30), que conta com o apoio das "principais unidades militares das nossas Forças Armadas". Neste momento, porém, não é possível saber qual é o alcance do líder opositor dentro do exército venezuelano.
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- Reação brasileira (O que Bolsonaro e Mourão estão dizendo)
- Violência (Forças de Maduro passam com blindado sobre manifestantes — Vídeo)
- Risco de guerra civil (Diplomatas brasileiros veem escalada preocupante)
- Reação chavista
- Reação internacional
- Galeria de imagens
- PT condena "tentativa de golpe"
- Leopoldo López pede asilo na embaixada do Chile
A declaração desencadeou um conflito entre militares que agora apoiam Guaidó, identificados com uma faixa azul no braço, e as forças ainda leais ao ditador Nicolás Maduro no leste de Caracas, capital da Venezuela.
"O 1º de maio começou hoje. O cessar definitivo da usurpação começou hoje", disse Guaidó em um vídeo publicado em sua conta do Twitter, referindo-se a uma grande mobilização convocada para esta quarta-feira (1º). Este novo protesto, segundo ele, será a última fase da Operação Liberdade.
Falando da base aérea La Carlota, em Caracas, cercado por militares, Guaidó continuou: "as Forças Armadas claramente estão ao lado do povo, do lado da constituição... Como legítimo comandante em chefe das Forças Armadas da Venezuela convoco a todos os soldados, a família militar, a acompanhar a nossa luta não violenta".
Um dos oficiais que estava junto com Guaidó naquele momento era o tenente-coronel Ilich Sánchez Farias, comandante da Unidade da Assembleia Nacional, segundo informou a presidente da ONG venezuelana Control Ciudadano, Rocío San Miguel.
Outra figura importante da oposição, Leopoldo López, que até então estava em prisão domiciliar, também apareceu na base militar ao lado de Guaidó. Segundo o presidente interino, ele foi liberado por funcionários da Guarda Nacional Bolivariana na madrugada desta terça-feira.
López disse a repórteres que o grupo político e os militares que se rebelaram hoje mantêm contato com com os altos funcionários do regime Maduro. "Todo esse tempo houve comunicação e isso tem a ver com esse processo que foi construído", disse.
Posteriormente, citando como fonte o deputado da Assembleia Nacional Constituinte Gerardo Marques (chavista), jornalistas venezuelanos informaram que um dos homens que está trabalhando ao lado de Guaidó na Operação Liberdade é o atual diretor do Serviço de Inteligência Bolivariano (Sebin), o general Manuel Ricardo Cristóvão Figuera.
Maduro, horas depois que o conflito foi desencadeado, foi às redes sociais dizer que conversou com os comandantes de todas as Regiões de Defesa Integral (Redi) e das Zonas de Defesa integral (Zodi) do país. De acordo com o ditador, eles "manifestaram total lealdade ao povo, à Constituição e à pátria".
"Chamo à máxima mobilização popular para assegurar a vitória da Paz. Nós vamos vencer!", tuitou.
Jornalistas venezuelanos relataram que, após a divulgação do vídeo, o grupo de militares que estava junto a Guaidó foi atacado com bombas de gás lacrimogêneo lançadas do interior da base aérea.
Vídeos publicados nas redes sociais mostram o confronto entre as forças leais ao ditador Nicolás Maduro e os militares que agora apoiam Guaidó. Um deles, publicado pela jornalista da Fox News Trish Regan, mostra membros da Guarda Nacional prendendo outros guardas.
O jornal espanhol ABC informou que, até agora, pelo menos uma pessoa ficou ferida nos confrontos em frente à base militar La Carlota. Repórteres da CNN que estão acompanhando a situação relataram que ouviram tiros do lado de fora da base aérea de Caracas, onde estão Guaidó e López.
A Assembleia Nacional, de maioria opositora, afirmou que a sessão desta terça ocorrerá na base aérea de La Carlota.
O conflito desencadeou protestos em outras regiões do país. No município de Coro, no estado de Falcón, deputados da Assembleia Nacional (opositora) relatam que manifestantes romperam um cerco policial e chegaram às portas do quartel militar Atanasio Girardot. Nas redes sociais há relatos de que eles teriam tomado o local.
De acordo com o site NetBlock, o acesso à internet e às redes sociais na Venezuela está precário nesta terça-feira – algo que costuma ocorrer nas vésperas das manifestações da oposição. Os serviços do Youtube, Bing, Google, e Android estão restritos.
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Violência
Um veículo blindado da Guarda Nacional, do regime de Maduro, atropelou e passou por cima de manifestantes da oposição em Caracas, mostraram imagens de TV.
Os manifestantes protestavam perto de uma base militar e atiravam paus e pedras contra os veículos. Não há informações sobre feridos.
Em Caracas, há vários relatos de tiros. Nas proximidades do Ministério dos Transportes, uma área que concentrava muitas pessoas e para onde os manifestantes pró-Guaidó estão avançando, jornalistas locais informaram que, após disparos, uma mulher foi ferida por um projétil no abdômen. De acordo com o site NTN24 Venezuela, os tiros foram disparados por coletivos, gangues que apoiam Maduro e que estão dentro do prédio do ministério.
Segundo a imprensa local, ao menos 57 pessoas ficaram feridas durantes os confrontos em Caracas.
A diretora de Saúde no município de Chacao, na região metropolitana de capital venezuelana Caracas, Maggia Santi, falou à imprensa local que até as 15 horas (no horário local, 16 horas em Brasília), 57 pessoas já haviam sido atendidas: 34 pessoas foram feridas por projéteis de chumbo, 18 foram atendidas por traumatismos, três com asfixia, e duas pessoas tiveram ferimentos por bala.
Uma mulher levou um tiro na região do estômago e foi levada ao hospital por manifestantes. Santi afirmou que a mulher passava por uma cirurgia durante a tarde.
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Reação brasileira
Em face desses acontecimentos, o presidente Jair Bolsonaro convocou uma reunião de emergência para discutir a situação da Venezuela.
Segundo o porta-voz da presidência, Otávio Rêgo Barros, o país "acompanha com grande atenção a situação na Venezuela e reafirma o irrestrito apoio ao seu povo que luta bravamente por democracia".
"Exortamos todos os países, identificados com os ideais de liberdade, para que se coloquem ao lado do Presidente Encarregado Juan Guaidó na busca de uma solução que ponha fim na ditadura de Maduro, bem como restabeleça a normalidade institucional na Venezuela", afirmou o governo brasileiro em um comunicado divulgado após a reunião.
Nas redes sociais, ele disse que se solidariza "com o sofrido povo venezuelano escravizado por um ditador apoiado pelo PT, PSOL e alinhados ideológicos".
O vice-presidente, Hamilton Mourão, disse acreditar que a tentativa de deposição de Nicolás Maduro na Venezuela é um movimento irreversível. "Não tem mais volta. As pontes foram queimadas", afirmou o general da reserva à Folha de S.Paulo.
Guaidó foi recebido por Bolsonaro no Palácio do Planalto no fim de fevereiro, pouco tempo depois de ter feito juramento do líder da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, como "presidente interino" da Venezuela.
O governo brasileiro apoia a oposição venezuelana contra o regime de Maduro, mas militares e o próprio presidente têm negado qualquer iniciativa de intervenção no território do país vizinho.
Durante a tarde desta terça-feira, o presidente Jair Bolsonaro atendeu a um pedido de asilo político de 25 militares venezuelanos na embaixada do Brasil em Venezuela, segundo o jornal Folha de S. Paulo, que diz que a informação foi confirmada pelo porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros. Os militares que pediram asilo não seriam militares de alta patente.
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López pede asilo na embaixada do Chile
O líder opositor venezuelano Leopoldo López pediu asilo na embaixada do Chile em Caracas nesta terça-feira (30). Não há informações ainda se o pedido foi aceito.
A chancelaria chilena confirmou na tarde desta terça-feira, 30, que López, sua mulher Lilian Tintori e os filhos estão abrigados na condição de hóspede na residência diplomática da embaixada em Caracas.
López estava em prisão domiciliar desde agosto de 2017, mas nesta terça militares que apoiam a oposição permitiram que ele deixasse o local.
PT condena "tentativa de golpe"
O Partido dos Trabalhadores divulgou um comunicado nesta terça-feira afirmando que o partido condena "a recente tentativa de golpe na Venezuela, levada a cabo pela oposição da direita golpista e antichavista", como diz a nota.
O texto afirma ainda que grupos opositores tentam há anos derrubar o "governo democraticamente eleito do Partido Socialista Unido da Venezuela".
"Não aceitamos atitudes antidemocráticas como estas. A solução dos problemas venezuelanos passa por levantar o embargo econômico internacional de que o país e, principalmente, sua população, são vítimas", afirma o comunicado, assinado pela presidente do partido, Gleisi Hoffmann; o líder no Senado, Humberto Costa; o líder na Câmara, Paulo Pimento; e a secretária de Relações Internacionais, Monica Valente.
Guerra civil
Integrantes da cúpula militar brasileira e diplomatas especializados em Venezuela se disseram surpresos pela rapidez da escalada da crise na ditadura de Nicolás Maduro e já não descartam o risco de uma guerra civil no país vizinho.
Segundo foi apurado com diplomatas, o ponto de inflexão foi a maior adesão de militares de patentes baixa e intermediária ao grupo do presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, que é reconhecido como líder interino do país por países como o Brasil e os Estados Unidos.
O episódio da libertação do líder opositor Leopoldo López, com auxílio de militares, não tem precedente na conturbada crise da ditadura chavista. Nem militares, nem diplomatas, tinham informações confiáveis a respeito da movimentação na manhã desta terça (30).
Segundo disse um membro do Alto Comando do Exército do Brasil, o conflito atual só irá se resolver com violência. O raciocínio do general leva à questão óbvia: quem irá sair vencedor? Nem entre militares, nem entre diplomatas há uma clareza sobre isso.
Até aqui, o Brasil considerava a posição de Maduro estável entre suas lideranças militares, até porque muitos generais ocupam cargos estratégicos na indústria petrolífera do país e são acusados de associação com atividades ilícitas.
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Reação do chavismo
Em resposta, o ministro da Defesa de Nicolás Maduro, Vladimir Padrino López, disse que as Forças Armadas permanecem firmes "em defesa da Constituição Nacional e de suas autoridades legítimas".
"Todas as unidades militares implantadas nas oito Regiões de Defesa Integral relatam normalidade em seus quartéis e bases militares, sob o comando de seus comandantes naturais", tuitou ele.
O ministro das Comunicações do regime, Jorge Rodríguez, disse que está "enfrentando e desativando um pequeno grupo de militares traidores que se posicionaram no Distribuidor Altamira (base La Carlota) para promover um golpe de Estado contra a Constituição e a paz da República".
O presidente da Assembleia Nacional Constituinte e número dois do chavismo, Diosdado Cabello, convocou uma manifestação em frente ao palácio presidencial Miraflores, em Caracas.
No fim da manhã desta terça-feira, a assessoria de imprensa de Maduro publicou fotos nas redes sociais em que mostra várias pessoas reunidas nas ruas de Caracas, perto da sede do governo.
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Reação internacional
As declarações de Guaidó e a libertação de Leopoldo López repercutiram internacionalmente.
Nas redes sociais, Bolsonaro disse que se solidariza "com o sofrido povo venezuelano escravizado por um ditador apoiado pelo PT, PSOL e alinhados ideológicos".
"Apoiamos a liberdade desta nação irmã para que finalmente vivam uma verdadeira democracia", disse Bolsonaro.
O presidente Jair Bolsonaro convocou uma reunião de emergência para discutir a situação da Venezuela. O vice-presidente, general Hamilton Mourão, informou que o encontro deve ocorrer às 12h30 e contará com a participação dele e dos ministros Augusto Heleno (GSI), Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Fernando Azevedo (Defesa).
Falando à Folha de São Paulo, Mourão avaliou os acontecimentos recentes. "A presença de [Juan] Guaidó e Leopoldo López liderando o movimento na rua demonstra que foram para o tudo ou nada. Ninguém faz isso se não tem uma carta na manga".
O Brasil é um dos mais de 50 países que reconhecem Juan Guaidó como presidente da Venezuela.
O presidente americano Donald Trump, no fim da tarde de hoje, ameaçou impor embargos mais severos à Cuba se o país não encerrar operações na Venezuela. Pelo Twitter, ele disse: "Se tropas e milícias cubanas não encerrem imediatamente operações militares e outras com o propósito de causar morte e destruição à Constituição da Venezuela, um embargo total e completo, somado a sanções do mais alto nível, será imposto à ilha de Cuba. Espera-se que todos os soldados cubanos retorne imediatamente e de forma pacífica para a sua ilha!".
Em uma série de tuítes, o senador americano Marco Rubio disse que o regime Maduro convocou os "colectivos" para tomar as ruas "em um sinal de que eles perderam a fé no controle que exercem sobre o exército".
"Povo da Venezuela, seu destino está agora em suas mãos. Chegou a hora de recuperar sua terra natal e sua liberdade", escreveu em espanhol.
O conselheiro de segurança da Casa Branca e um dos críticos mais vocais de Maduro nos Estados Unidos, John Bolton, fez um chamado direto às Forças Armadas da Venezuela, pedindo que elas protejam "a Constituição e o povo venezuelano" e que apoiem a Assembleia Nacional.
O presidente da Colômbia, Iván Duque, também usou as redes sociais para reafirmar seu apoio a Guaidó e chamar os militares para estar "do lado certo da história".
Luis Almagro, secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, saudou a "adesão dos militares venezuelanos à Constituição e ao Presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó". "É necessário o mais pleno apoio ao processo de transição democrática de maneira pacífica", disse.
Já o italiano Antonio Tajani, presidente do Parlamento Europeu, comemorou a libertação de Leopoldo López. "O dia de hoje marca um momento histórico para o retorno à democracia e à liberdade na Venezuela, que o Parlamento Europeu sempre apoiou. A libertação do [ganhador do] Prêmio Sakharov Leopoldo Lopez, por militares [em respeito] à ordem da Constituição, é uma ótima notícia. Vamos libertar a Venezuela!", escreveu Tajani.
A Espanha fez votos por uma transição pacífica na Venezuela, por meio de uma eleição democrática. Segundo a agência de notícias Associated Press, a porta-voz do governo espanhol, Isabel Celaá, disse que o país segue de perto os acontecimentos em Caracas. Ela salientou, porém, que a Espanha não apoia nenhum "golpe militar". "Desejamos com todas as nossas forças que não haja um derramamento de sangue", disse a repórteres.
O Reino Unido, que também reconhece Juan Guaidó como presidente da Venezuela, disse que busca por uma solução pacífica da crise para que a democracia venezuelana seja restaurada. "O povo venezuelano merece um futuro melhor, eles sofreram o suficiente e o regime de Maduro deve acabar ", declarou um porta-voz da primeira-ministra britânica Theresa May.
Também houve críticas à Guaidó. O presidente da Bolívia, Evo Morales, condenou o que chamou de "tentativa de golpe de estado na Venezuela por parte da direita que é submissa a estrangeiros".
"Pedimos aos governos da América Latina que condenem o golpe na Venezuela e evitem que a violência leve vidas inocentes. Seria um antecedente nefasto permitir que a intromissão golpista se instale na região. Diálogo e paz devem prevalecer sobre o golpe", escreveu Morales em sua conta do Twitter.
Da mesma maneira, o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, rechaçou as declarações de Guaidó. "Os traidores que se colocaram à frente desse movimento subversivo usaram tropas e policiais com armas de guerra em uma via pública na cidade para criar ansiedade e terror", comentou.
De acordo com a agência estatal russa Tass, o porta-voz do governo russo, Dmitry Peskov, informou que presidente Vladimir Putin e os membros permanentes do Conselho Nacional de Segurança da Rússia discutiram os recentes acontecimentos na Venezuela, mas não forneceu detalhes sobre a conversa. A Rússia é o principal aliado do regime Maduro no cenário internacional.
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