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O presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, e o ditador venezuelano, Nicolás Maduro. Potências mundiais estão tomando lado na disputa pelo poder no país latino-americano | AFP
O presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, e o ditador venezuelano, Nicolás Maduro. Potências mundiais estão tomando lado na disputa pelo poder no país latino-americano| Foto: AFP

O presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, assegurou nesta segunda-feira, 4, que o governo de Nicolás Maduro está tentando movimentar cerca de US$ 1,2 bilhão para o Uruguai e pediu ao governo uruguaio que não seja cúmplice de um "roubo". 

"Eles estão tentando mover do BANDES um dinheiro que está em uma das contas para o Uruguai. Pedimos ao Uruguai que não seja cúmplice deste roubo (...) podemos estar falando de entre 1 e 1,2 bilhão de dólares", afirmou Guaidó, referindo-se ao Banco de Desenvolvimento Econômico e Social, que possui filiais no Uruguai. Guaidó, no entanto, não apresentou provas.

Aumenta a pressão

A pressão internacional contra o regime autoritário de Maduro aumentou após a recusa do ditador em convocar novas eleições presidenciais. Nesta segunda-feira, vários países europeus reconheceram Juan Guaidó como presidente interino do país: Reino Unido, França, Alemanha, Espanha, Holanda, Portugal, Suécia, Áustria, Dinamarca, Letônia, Lituânia, Finlândia e República Tcheca.

O prazo de oito dias fixado por algumas das potências europeias para que o ditador Nicolás Maduro convocasse eleições presidenciais terminou na noite de domingo (3). 

"O governo da Espanha anuncia que reconhece oficialmente o presidente da Assembleia da Venezuela, o senhor Guaidó, como presidente encarregado da Venezuela para que convoque eleições presidenciais no menor prazo de tempo possível", afirmou Sánchez no Palácio de Moncloa. 

O reconhecimento a Guaidó tem uma finalidade clara, ressaltou Sánchez: convocar eleições que "têm de ser livres, democráticas, com garantias e sem exclusões". 

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Pouco depois da Espanha, o Reino Unido também anunciou que reconhecia Guaidó como "presidente constitucional interino" da Venezuela, como escreveu seu ministro das Relações Exteriores, Jeremy Hunt, em uma rede social. 

"Os venezuelanos têm o direito de se expressar-se livremente e democraticamente. A França reconhece Juan Guaidó como presidente interino para implementar um processo eleitoral. Apoiamos o grupo de contato, criado com a UE, neste período de transição", escreveu em uma rede social o presidente francês, Emmanuel Macron. 

Guaidó se declarou presidente encarregado em 23 de janeiro, acusando Maduro de ser um "usurpador" por ter sido reeleito em um processo questionável. O opositor já havia sido reconhecido por Brasil, Estados Unidos, Colômbia e Canadá, entre outros países da região. 

Em entrevista divulgada no domingo, Maduro descartou convocar eleições presidenciais. Entre seus aliados estão China, Rússia e Turquia. Ele acusa Washington de usar Guaidó como "marionete" para lhe aplicar um golpe de Estado. 

O governo da Rússia afirmou nesta segunda-feira que o movimento europeu de reconhecimento a Guaidó é uma "interferência estrangeira" nos assuntos internos venezuelanos.

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Na quinta (31), o Parlamento Europeu se juntou aos que referendam a condição de líder de Guaidó e urgiu a União Europeia a fazer o mesmo, mas há divisões claras no bloco. 

Hungria e Grécia, por exemplo, não querem desautorizar o ditador, e a coalizão governista da Itália não consegue chegar a uma posição comum diante de seus desmandos - a ala mais direitista tem ojeriza pelo socialista, a mais "antissistema" pede paciência com ele. 

Nesta segunda, o governo do ditador Nicolás Maduro expressou "sua mais enérgica rejeição à decisão adotada por alguns governos europeus, na qual eles oficialmente se submetem à estratégia da administração dos EUA de derrubar o governo legítimo do presidente Nicolás Maduro". 

Moscou também reiterou seu alinhamento com o ditador. 

Em nota, o governo russo diz que a movimentação europeia para legitimar a "tentativa ilegal" de tomada de poder por Guaidó constitui intromissão externa indevida. 

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Depois dos sucessivos apoios a Guaidó, Caracas anunciou que "revisará integralmente as relações bilaterais com esses governos a partir deste momento, até que haja uma retificação que descarte seu apoio aos planos golpistas", segundo comunicado do Ministério das Relações Exteriores." 

Os pronunciamentos europeus ocorrem dias após outra importante vitória para Guaidó: o primeiro reconhecimento oriundo de um general venezuelano. 

No último sábado (2), Francisco Estéban Yánez Rodríguez afirmou desconhecer o mandato de Nicolás Maduro. Rodríguez é general-de-divisão e diretor de Planificação Estratégica do Alto Comando da Aviação (equivalente à Força Aérea). 

O Uruguai, assim como o México, escolheu ficar neutro na crise política venezuelana e vem pedindo diálogo entre as partes.

Grupo de Lima

O Grupo de Lima aceitou nesta segunda-feira a entrada do governo interino da Venezuela, encabeçado pelo deputado oposicionista Juan Guaidó. Chanceleres de 11 países reunidos na capital canadense difundiram uma declaração de 17 pontos, na qual exortam a comunidade internacional a impedir que o governo de Nicolás Maduro possa fazer transações financeiras e comerciais no exterior, ter acesso a ativos internacionais da Venezuela e realizar operações com petróleo, ouro e outros ativos.

Um grupo de manifestantes interrompe a coletiva de imprensa enquanto a ministra de Relações Exteriores do Canadá, Chrystia Freeland, fala durante reunião do Grupo de Lima em Ottawa, Canadá, 4 de fevereiro LARS HAGBERG / AFP

O documento adverte que qualquer iniciativa diplomática internacional deve buscar uma transição de poder pacífica, não um processo de diálogo que ajude Maduro a permanecer no poder.

Apoio a Maduro

O músico britânico Roger Waters declarou nesta segunda-feira seu apoio ao ditador venezuelano Nicolás Maduro e disse que ele é alvo de uma tentativa de golpe feita pelo presidente americano, Donald Trump. 

Em postagem nas redes sociais, o cantor e compositor pediu para os "EUA tirarem a mão da Venezuela". 

Na mensagem, Waters ainda convocou seus seguidores para participarem de uma manifestação de apoio a Maduro na frente da sede das Nações Unidas em Nova York. 

"Parem essa última insanidade americana, deixem a população venezuelana em paz. Eles têm uma democracia real, parem de tentar destruí-la para que o 1% possa roubar seu petróleo", escreveu ele. 

O músico ainda usou as hastags "Nicolás Maduro" e "Parem o golpe de Trump na Venezuela".

Dimensão global

Michelle Bachelet, alta comissária de Direitos Humanos da ONU, afirma que a crise na Venezuela ganhou uma "dimensão global" e pede que os países da região continuem a receber os refugiados e imigrantes do país sul-americano e combater a xenofobia. 

Sem entrar em detalhes sobre a situação política entre Juan Guaidó e Nicolás Maduro, a ex-presidente do Chile indicou que está "preocupada" com a situação. Segundo Bachelet, trata-se de uma crise que "ganhou dimensões regionais e até globais". Sua declaração foi feita numa reunião na tarde desta segunda-feira na sede da ONU, em Genebra.

Bachelet ainda destaca o fato de que, com 3,3 milhões de venezuelanos no exterior, a crise exige que os demais países da região mantenham suas fronteiras abertas e que continuem a lutar contra a xenofobia. Segundo ela, esse fluxo é "sem precedentes" na história recente da América Latina. 

Seu recado, porém, ocorre dias depois de incidentes envolvendo imigrantes venezuelanos alvo de ataques xenófobos na Colômbia e Equador. 

A delegação da Venezuela usou a reunião na ONU para denunciar "o assédio imperial" que está sofrendo e insiste que Maduro lidera um governo "humanista" e que tem "a proteção de direitos humanos" como um princípio. 

Caracas ainda denuncia a existência de uma suposta "campanha de imprensa para a satanização" do regime da Venezuela. "O império americano quer se apropriar de nossos recursos e da capacidade de darmos uma renda para a população", denunciou.

Crise sem precedentes

Maduro foi reeleito em maio de 2018 para um novo mandato de seis anos, em um pleito quase que totalmente boicotado pela oposição e considerado fraudulento por observadores internacionais. 

Por isso, a Assembleia Nacional não reconheceu o novo mandato de Maduro e considerou que à Presidência estava vaga. 

Assim, indicou Guaidó para ocupar interinamente o cargo até que novas eleições livres ocorram.

A Venezuela vive uma crise socioeconômica sem precedentes em sua história, com hiperinflação, emigração em massa, desnutrição e colapso do sistema de saúde e de outros serviços públicos. 

Com informações do Estadão Conteúdo e da Folhapress.

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