Em uma tentativa de pressionar o alto comando das Forças Armadas da Venezuela, o presidente interino e líder da oposição, Juan Guaidó, vai buscar uma cooperação com o Departamento de Defesa dos Estados Unidos.
No fim de semana, ele ordenou que Carlos Vecchio, seu representante no país, se reúna com os militares do Comando Sul para “estabelecer uma relação direta” que “gere uma mudança de forma mais rápida para sair desta crise profunda que vivemos”.
Nesta segunda-feira (13), Vecchio já apresentava em seu perfil no Twitter um ofício que havia enviado ao comandante Craig Faller, do Comando Sul, solicitando uma reunião para “avançar em um plano estratégico e operacional”, cujo objetivo principal é, segundo ele, “parar o sofrimento de nosso povo e restaurar a democracia”.
Ao olhos do público, o primeiro passo nesta aproximação foi dado pelo próprio comandante Faller. Ele disse, pelo Twitter, que estaria ansioso para discutir o futuro papel dos líderes das Forças Armadas venezuelanas “que tomarem a decisão correta” de abandonar o regime Maduro.
"Quando for convidado pelo Guaidó e pelo governo legítimo da Venezuela, falaremos sobre o nosso apoio aos líderes da FANB que tomem a decisão certa, que respeitem os venezuelanos primeiro e restaurem a ordem constitucional. Estamos prontos", escreveu Faller na quinta-feira (9).
Falando a manifestantes no sábado (11), Guaidó admitiu que desde o início a oposição usaria “todos os recursos à disposição para fazer pressão” pela saída de Nicolás Maduro. A aproximação com as Forças Armadas dos Estados Unidos é um deles.
Depois de uma tentativa de levante cívico-militar em 30 de abril, na qual a oposição venezuelana falhou em atrair o alto comando das Forças Armadas Bolivarianas para o seu lado, uma intervenção militar dos Estados Unidos na Venezuela ficou mais provável.
Outro fato que aponta para essa direção é a intenção da Assembleia Nacional, de maioria opositora, em reincorporar a Venezuela ao Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (Tiar), acordo que, segundo interpretação da oposição, possibilitaria uma intervenção militar estrangeira no país.
O Tiar estabelece que "um ataque armado de qualquer Estado contra um país americano será considerado um ataque contra todos os países americanos” e que, por isso, os países signatários se comprometem a ajudar a fazer frente ao ataque, “em exercício do direito de legítima defesa individual ou coletiva, reconhecido pelo artigo 51 da Carta das Nações Unidas".
O texto, segundo a oposição, dará base para que Guaidó acione o Tiar diante de um ataque do regime chavista contra a sua autoridade, permitindo uma série de ações coordenadas por membros do pacto, inclusive uma intervenção militar.
“Enviamos uma carta ao secretário-geral da OEA [Organização dos Estados Americanos], Luis Almagro, para iniciar os processos de reincorporação ao TIAR. Nós nos movemos nessa direção, avaliando responsavelmente a melhor opção, a que gera a mudança de maneira mais rápida para sair dessa crise profunda que vivemos”, escreveu Guaidó em sua conta do Twitter.
Estas medidas, porém, não indicam que de fato haverá uma interferência militar na Venezuela. Oficiais americanos a par da crise venezuelana relataram ao Washington Post que os Estados Unidos não têm apetite para uma invasão, já que a Venezuela não apresenta uma ameaça direta ao país e que qualquer envolvimento militar dos EUA corre o risco de gerar uma 'guerra por procuração' com a Rússia, o principal aliado internacional de Maduro.
Mais um general deserta
Um general venezuelano que foi próximo a Hugo Chávez se rebelou contra Nicolás Maduro neste domingo (12) e pediu às Forças Armadas que se levantem contra o ditador.
O general de divisão da Força Aérea Ramón Rangel disse que o governo venezuelano está sendo controlado pela "ditadura comunista" de Cuba, e que os militares precisam se levantar contra ele. "Eu apelo à Força Armada Nacional Bolivariana para aderirem ao Artigo 328. Não vamos continuar dizendo 'sempre leais, traidores, nunca', porque estamos sendo traidores, traidores de uma Constituição Nacional", afirmou.
Formado pela Escola de Aviação em 1987, Ramón Rangel, junto com Chávez, foi um dos militares que participou da frustrada tentativa de golpe contra o então presidente venezuelano Carlos Andrés Pérez, em 27 de novembro de 1992.
Depois que Chávez assumiu a presidência, em 1999, Rangel passou a fazer parte do governo e convivia diretamente com os líderes militares cubanos. Desde 2012, ele trabalhava na criação de uma joint venture em Cuba. Segundo o venezuelano, esse tempo lhe permitiu observar de perto a realidade de uma sociedade submetida a uma ditadura que já dura 60 anos.
"Estive várias vezes em Cuba, a pedido de Chávez. Fiquei lá por seis anos e pude ver o povo cubano ser submetido ao jugo de uma ditadura Castro-comunista por mais de 60 anos", afirma no vídeo. "Eles vivem em condições de pobreza, que são atribuídas aos bloqueios dos EUA, mas é mentira, eles formaram uma cabeça desse grupo comunista de Castro, que não faz os recursos que eles têm, que são muitos, alcançar o povo cubano. Eles estão enganando as pessoas, e sabem disso".
Para a advogada e presidente da ONG Control Ciudadano, Rocío San Miguel, o pronunciamento do general é muito importante, já que ele conhece a “trama de negócios entre Caracas e Havana, os segredos do tratamento da doença e morte de Chávez em Cuba e do rumo que está tomando o chavismo militar na sua ruptura com Maduro".
“O sistema de inteligência de Cuba deve estar em choque com o pronunciamento do general Ramón Rangel”, escreveu ela no Twitter.
Assim como outros oficiais que abandonaram Maduro, Rangel fugiu para a Colômbia no mês passado, segundo a agência Reuters.
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