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entrevista

Guaidó: ‘Oferecemos anistia a militares que desertarem de Maduro’

O presidente da Assembléia Nacional da Venezuela, Juan Guaidó, cumprimenta partidários durante uma assembleia aberta no bairro de Caricuao, no sudoeste de Caracas, em 19 de janeiro de 2019 | FEDERICO PARRA/AFP
O presidente da Assembléia Nacional da Venezuela, Juan Guaidó, cumprimenta partidários durante uma assembleia aberta no bairro de Caricuao, no sudoeste de Caracas, em 19 de janeiro de 2019 (Foto: FEDERICO PARRA/AFP)

Juan Guaidó, 35, passou este sábado (19) em plena campanha contra a ditadura de Nicolás Maduro. De município em município, o atual presidente da Assembleia Legislativa da Venezuela realizou pequenos comícios, tentando chamar a população a apoiar a causa deste órgão, que tem maioria opositora e é considerado por muitos países o único eleito pelo voto legítimo na Venezuela atualmente.

"Nosso objetivo imediato é fazer a transição do país de volta à democracia, incluindo anistiar militares e políticos se necessário, usando o modelo que for, desde que em consenso com a sociedade, que vai se expressar por meio do voto", disse à reportagem Guaidó, por telefone em Caracas, entre um palanque e outro.

"Precisamos recuperar a democracia e depois, o mais rápido possível, atender as causas urgentes da Venezuela".

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A Assembleia Nacional, apoiada por grande parte da comunidade internacional, considera que, a partir de 2015, a ditadura de Nicolás Maduro realizou vários pleitos irregulares. Em um deles, em 2017, foi eleita a Assembleia Constituinte que, na prática, substituiu as atribuições da Assembleia Nacional. Em maio de 2018, em eleições também consideradas fraudulentas, Maduro conquistou um novo mandato de seis anos, até 2025.

Porém, já no dia seguinte ao novo juramento do ditador, em 10 de janeiro, Assembleia Nacional decidiu que Maduro estaria usurpando o cargo e que este deveria ser entregue ao órgão, agora comandado por Guaidó, que assumiria a Presidência interinamente e chamaria novas eleições.

Como não poderia deixar de ser, o posicionamento de Guaidó chamou a atenção da alta cúpula do chavismo. O jovem engenheiro e deputado, um dos fundadores do partido Vontade Popular ao lado do preso político Leopoldo López, foi detido por cerca de uma hora no domingo (13) por agentes do serviço de inteligência (Sebin). Assinalado pelo governo como "ato de insubordinação isolado de alguns oficiais", o episódio deu projeção internacional a Guaidó e à gravidade da situação venezuelana.

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Guiadó convocou uma grande manifestação contra Maduro para esta quarta-feira (23), um termômetro que indicará a disposição da população em derrubar o ditador. Se o engajamento for bom, pode dar legitimidade a uma presidência interina que Guaidó já se mostrou disposto a assumir.

Mas, mesmo que tenha o apoio da população, ainda faltará uma importante peça neste tabuleiro para que a oposição venezuelana vire o jogo: o apoio dos militares. Enquanto as Forças Armadas estiverem ao lado de Maduro, dificilmente haverá alguma mudança interna no curto prazo.

Confira a entrevista completa da Folhapress com o principal opositor de Maduro na Venezuela. 

O sr. há poucos dias falou com o deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente brasileiro. Como tem recebido os apoios internacionais e, em especial, do Brasil? 

Foi muito solidário e cordial o contato, pudemos sentir que o novo governo brasileiro apoia nossa vontade de realizar uma mudança na Venezuela, que seja dentro da lei, que seja ordenada e de cuja legitimidade ninguém possa duvidar. 

Os outros países da região também são muito importantes, e a maioria [dos governos regionais] também esteve em contato conosco. Não creio que se trate apenas de solidariedade, uma Venezuela que sangra é uma tragédia para a região. 

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Tomo como exemplo esse atentado em Bogotá na quinta-feira (17). As guerrilhas colombianas estão encontrando território livre para abrigar-se na Venezuela, porque a ditadura faz vista grossa, para dar forças aos inimigos do governo da Colômbia. 

No Brasil, há todos os problemas que vocês já conhecem, estamos exportando nossas epidemias a países vizinhos. Isso tem de parar.

E qual é o plano, caso cheguem ao governo? 

Infelizmente, os problemas que a Venezuela acumulou nos últimos anos são muitos, vamos precisar de ajuda internacional e de uma boa estratégia política e econômica. Mas já estamos trabalhando para desenhar esse roteiro. No primeiro momento, a prioridade é o fim da ditadura e a convocação de eleições livres.

Na sequência, teremos que atender duas coisas com urgência, a crise humanitária completa em que estamos, a falta de alimentos e remédios, combater epidemias. Iremos abrir nossas fronteiras para organismos internacionais e parceiros que nos possam ajudar. Depois disso, vem um processo longo, de estabilizar o país, e isso passa por fortalecer as instituições, normalizar a relação entre os Poderes.

Até o ano passado, dava-se a Assembleia Nacional por adormecida, desmoralizada, esvaziada pelo poder entregue à Constituinte. Como conseguiram manter a coesão e o ânimo? O órgão está com boa saúde para a missão que tem adiante?

Vivemos tempos delicados e difíceis, houve desânimo, mas também muita solidariedade. Nunca deixamos de realizar nossas sessões, como fosse possível, nos intervalos da Constituinte [ambas dividem o prédio], comunicando-nos com frequência a ponto de mantermos os elementos essenciais de legitimidade que a própria sociedade reconhece, e que se vê agora no respaldo que nos dá.

Nas últimas semanas, a dúvida sobre esse processo é a posição que os militares vão tomar, chave para a permanência ou queda de Maduro. Hoje há 159 militares da ativa presos por insubordinação, e nos últimos tempos houve quase 3.000 baixas, de gente que saiu porque a crise também afeta os oficiais e suas famílias, especialmente os de mais baixa patente. Por aí é possível ver que é uma questão de tempo para que um número cada vez maior deles se junte a nós.

E nós já oferecemos um plano de anistia para oficiais, o que pode acarretar em novas deserções e abandono da base de apoio do governo.

E quanto aos políticos ligados ao chavismo, pensa-se em anistia? 

Cada caso é um, mas nossa ideia é que a transição seja feita como foi em países como o Chile. Se é o custo para recuperar nossa democracia, num primeiro momento, não vejo problema em dar anistias.

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Mesmo a Nicolás Maduro?  

Isso não sou apenas eu quem vai decidir. Creio que uma anistia pressupõe que deixemos passar muitas coisas, mas recuperaremos a democracia e a liberdade. Para mim isso é o mais importante, e que se faça dentro da lei, que respeitemos a Constituição. Mas, insisto, creio que cada caso será um, e o destino de Maduro não será decidido apenas por mim ou pela Assembleia. 

No caso de novas eleições, o sr. seria candidato? 

Por enquanto não me vejo nesse papel. Vejo-me como o líder da Assembleia Nacional num momento muito delicado e esperançoso que é o de transitar de volta à democracia. Uma democracia que tínhamos e que perdemos. Essa responsabilidade caiu em minhas mãos e espero cumprir esse papel. Por ora, prefiro dizer que sou um articulador e um semeador político de uma mudança, já é bastante responsabilidade.

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